A pinga é um apelido para a cachaça, que surgiu no Brasil colonial com a cana-de-açúcar. O nome “pinga” foi colocado pelos escravos que trabalhavam na produção da bebida, pois o vapor da cana-de-açúcar que caía do teto dos engenhos pingava sobre eles.
A cachaça é considerada a primeira bebida destilada das Américas e a “mãe do rum”. O Instituto Brasileiro da Cachaça atribui o ano de 1516 para a primeira destilação de cachaça no país, na Feitoria de Itamaracá, no atual estado de Pernambuco.
“A cachaça surgiu de forma clandestina como consequência da produção do açúcar, e sua fabricação se dava, em parte, com o melaço produzido nos engenhos. Uma das etapas do processo de produção do açúcar no Brasil colonial era a cristalização do açúcar, que acontecia na casa de purgar. Nesse local, o açúcar passava por um processo de branqueamento que se estendia por 40 dias.
Esse açúcar cristalizado era dividido em vários tipos, e, quanto mais branco o açúcar, mais valorizado ele era no mercado. Uma parte desse melaço, no entanto, não se cristalizava, acumulando-se no fundo dos reservatórios ou escorrendo para fora da forma. Esse melaço que não se cristalizava foi utilizado inicialmente na produção da cachaça.
Essa reutilização tinha como objetivo não desperdiçar o melaço, dando a ele alguma utilidade e potencial valor de mercado. Durante o período colonial, usava-se o termo cachaça para mencionar a espuma produzida durante o processo de cozimento do caldo da cana.
Essa espuma era retirada e também direcionada para o consumo dos porcos. Uma segunda camada de espuma também era retirada e dada aos escravos para que eles consumissem, o que acontecia depois de passar por um processo de fermentação.
A produção da cachaça fez com que a bebida se tornasse a aguardente mais consumida no Brasil, sendo uma bebida muito consumida pelos escravos e por pessoas de baixa renda. Na segunda metade do século XVI, a aguardente mais popular no Brasil era a Bagaceira, produzida do bagaço da uva e do rum, outra bebida produzida por meio da fermentação e destilação do melaço oriundo da cana-de-açúcar. Entretanto, a cachaça ocupou o espaço no mercado interno e externo, tornando-se a aguardente mais popular do Brasil.
A cachaça servia de complemento calórico para a alimentação das classes que a consumiam e foi muito utilizada como mercadoria para escambo, e muitos traficantes de africanos escravizados adquiriam escravos usando-a como moeda. Estima-se que eram necessários 86 litros de cachaça para ter posse sobre uma pessoa escravizada na África.
A cachaça foi se popularizando, e passou a ser produzida com melhor qualidade. A grande disponibilidade de cachaça prejudicava os interesses da Coroa portuguesa, que via que as aguardentes e bebidas alcoólicas vendidas por ela perdiam espaço para a cachaça.
Assim, a Coroa portuguesa proibiu a produção, comercialização e o consumo da cachaça. Em 1649, a proibição foi reafirmada por meio de uma Carta Régia, que restringia o consumo da bebida para os escravos. Com a proibição, a cachaça passou a ser produzida, consumida e exportada de maneira clandestina e sem que Portugal tivesse controle.
Essa proibição gerou uma grande repercussão no Rio de Janeiro por meio da Revolta da Cachaça, quando fazendeiros locais se rebelaram contra o governador Salvador Correia de Sá Benevides, que havia resolvido ampliar impostos sobre a produção local.
Essa revolta aconteceu entre novembro de 1660 e abril de 1661. Em 1750, quando a Coroa portuguesa deu permissão para o retorno, mas estabeleceu impostos para tanto. Os impostos sobre a cachaça contribuíram para a reconstrução de Lisboa, destruída por um terremoto em 1755.” Daniel Neves – (brasilescola.uol.com.br).
Segundo historiadores, a cachaça mais antiga do Brasil é a Ypióca (1846) que significa “terra roxa” em tupi-guarani, se referindo ao solo propício para cultivar a cana-de-açúcar. Foi engarrafada em Maranguape no Ceará entre os séculos19 e 20. Não tinha logomarca. “Antes disso, a bebida era vendida em tonéis marcados apenas com o nome do produtor”, diz o cachaçólogo Marcelo Câmara.
Adaptação de Salmito Campos – (jornalista e radialista).

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *