A ONU estimulou nesta terça-feira (29) o setor dos transportes marítimos a acelerarem sua transição energética
A ONU estimulou nesta terça-feira (29) o setor dos transportes marítimos a acelerarem sua transição energética, com a adoção de medidas como retirada dos navios mais poluentes, adaptação de combustíveis alternativos nos portos e descarbonização, em vez de multiplicar as emissões de gases do efeito estufa.
Em seu relatório anual sobre transporte marítimo, a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD, na sigla em inglês) lembrou que os navios transportam mais de 80% das mercadorias comercializadas em todo mundo. As emissões totais de carbono da frota marítima mundial aumentaram 4,7% entre 2020 e 2021, um número que “vai na direção errada”, alertou a secretária-geral da UNCTAD, a costarriquenha Rebeca Grynspan, na apresentação do relatório.
Além disso, há preocupação com o envelhecimento dos navios, cuja idade média atual é de quase 22 anos, já que “poluem mais à medida que envelhecem”, destacou Grynspan. Por isso, a UNCTAD invoca o setor para investir mais em melhorias técnicas e operacionais, a fim de reduzir sua pegada de carbono. Entre os caminhos sugeridos, estão “a transição para combustíveis alternativos, com baixo, ou zero, teor de carbono, a otimização das operações, o fornecimento de eletricidade em terra nos portos e o equipamento dos navios com tecnologia de alta eficiência energética”, lista o órgão. Os investimentos em novos navios capazes de reduzir as emissões de gases de efeito estufa podem ser prejudicados, no entanto, pelo “aumento dos custos de empréstimos, piora das perspectivas econômicas e incerteza regulatória”, alerta esta agência da ONU.
Para melhor investir na descarbonização do transporte marítimo, o relatório apela à aplicação de um quadro regulamentar global que seja previsível. Da mesma forma, a UNCTAD defende que, no futuro, os portos sejam capazes de responder às demandas de navios menos poluentes, que precisarão de energia limpa e de serviços de manutenção adaptados.- Fretes em alta -O comércio marítimo internacional se expandiu significativamente em 2021, com um crescimento estimado de 3,2%, após a queda de 3,8% verificada em 2020, segundo o relatório.”Em 2022, essa recuperação se esgotou”, afirmou a diretora da divisão de tecnologia e logística da UNCTAD, Shamika N. Sirimanne. Segundo ela, os motivos são a desaceleração econômica global, as últimas ondas de covid-19, responsáveis pelo fechamento de fábricas na China, e as tensões geopolíticas globais. O crescimento do comércio marítimo internacional deverá ser moderado este ano, em torno de 1,4%.E, no período 2023-2027, o comércio marítimo mundial se desenvolverá em um ritmo anual de 2,1%, claramente abaixo da média das três décadas anteriores (+3,3%).”Nos últimos dois anos, o setor marítimo sofreu grandes perturbações. A covid-19, a guerra na Ucrânia, as alterações climáticas e a geopolítica provocaram o fechamento de portos e de rotas marítimas e fizeram os preços subirem”, disse Rebeca Grynspan.
Em relação às tarifas de frete, Sirimanne afirmou que elas devem permanecer acima da média pré-pandêmica e que haverá maior volatilidade, devido ao custo de descarbonização e da consolidação do setor. Ante essa forte consolidação – horizontal, por meio de fusões e aquisições, e vertical, pelos investimentos em terminais e por outros serviços logísticos -, a UNCTAD defende a proteção da concorrência. O intuito é conter o aumento de tarifas e preços para os consumidores, “especialmente para os mais vulneráveis”, conforme destacado por Shamika N. Sirimanne. Nos últimos cinco anos, as quatro maiores operadoras aumentaram sua participação no mercado e agora controlam mais da metade da capacidade mundial, destaca o relatório. A UNCTAD também está preocupada com o excesso de capacidade dos navios e teme que pequenos portos, principalmente os de países pobres e insulares, não sejam capazes de acomodá-los.
AFP