Antônio Conselheiro; um revérbero nos sertões

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Lucas Monteiro Barbosa
seminaristalucas18@gmail.com

“O sertão vai virar mar, o mar vai virar sertão”. O messianismo no Nordeste brasileiro fora um dos fenômenos mais característico da região, sobretudo no interior, até o começo do século XX. Um dos motivos da ojeriza do litoral pelo sertão no antagonismo que remonta ao período colonial, desde que as massas sertanejas foram arredias a certos ditames morais vindos do litoral. Deste fenômeno de cunho religioso, seguramente, Antônio Conselheiro fora o nome mais proeminente. Para alguns, sobretudo para a imprensa de seu tempo, era um fanático, para outros, no entanto, era um santo. Inegavelmente, o beato fora uma das maiores lideranças populares de todos os tempos, mas ainda há muito preconceito que, como tal, vira as costas para a real história deste insigne personagem da história brasileira. Imortalizado na literatura por Euclides da Cunha em Os sertões, o Conselheiro compõe o seleto grupo de alicerces da cultura nordestina, que, assim como Canudos, resiste ao esquecimento.
Antônio Vicente Mendes Maciel, o Antônio Conselheiro, nascera em Quixeramobim – CE, a 13 de março de 1830. Fora um homem comum. Trabalhou como comerciante, mas, após a morte do pai, se mudou para Ipu, no mesmo estado, em 1866, lá trabalhou como professor e escrivão. Também fora em Ipu que Antônio desuniu-se de sua esposa, Brasilina Laurentina, após tê-la flagrado em adultério. De Ipu, fugiu para Santa Quitéria, cidade vizinha, e pouco tempo depois sumiu no mundo. Decidiu se unir a um grupo de peregrinos pelos sertões a pregar a palavra de Deus. Daí em diante passou a ser conhecido por Antônio Conselheiro.
Apesar de haver apenas uma fotografia autentica deste personagem, e esta se tratar de seu cadáver, fora ele muito descrito em jornais e pinturas, de acordo com as descrições de quem o viu e conviveu. A primeira menção feita a ele pela imprensa fora em 1874, nos jornais de Sergipe, após sua passagem por Estância – SE. O jornal descrevia o beato na sua forma clássica: “Barba e cabelos cumpridos, camisolão azul e cajado na mão“. A exemplo do padre Mestre Ibiapina, do qual viu os sermões, Antônio Conselheiro andava pelos sertões, reformando igrejas, construindo cemitérios e pregando a palavra de Deus. Contra a pobreza no sertão, anunciava o retorno de Dom Sebastião, um discurso que terá uma nova conotação a partir de 1889.
Após a proclamação da república, da qual era expressa e inexoravelmente contra, o beato pregava contra o novo regime e começou a criar o inimigo mais perigoso, o governo. Em 1893, já velho e tendo arrebatado muitos seguidores, o Conselheiro fixa-se em uma fazenda abandonada, às margens do rio Várzea Barris cujo nome era Canudos, próxima a Monte Santo, no estado da Bahia. Lá, o beato fundou a comunidade de Belo Monte, vivendo à luz do Evangelho.
A guerra do governo contra Canudos começara em novembro de 1896. Antonio Conselheiro morrera a 22 de setembro do ano seguinte, vítima de uma desistiria. Após o fim da guerra, em 05 de outubro, o corpo do beato fora exumado e degolado, a cabeça fora levada à Faculdade de Medicina da Bahia, em Salvador – BA. Prêmio macabro do governo, a cabeça do beato fora examinada sob as perspectivas da teoria lombrosiana, entretanto, nada fora constatado que confirmasse a “aberração mental” do Conselheiro.
O grito de Antônio Conselheiro ainda reverbera por entre os sertões nordestinos. Digno de memória, o beato representou uma parte esquecida do Brasil, vítima de um sistema cego e opressor, tanto que na década de 1940, no governo de Vargas, os destroços de Canudos foram submergidos pelo açude Corobobó. Uma tentativa frustrada de esconder um suposto símbolo de resistência contra o governo. De certa forma, com a inundação dos destroços de Canudos, cumpriu-se parte da famosa profecia: “O sertão vai virar mar”. Canudos ainda resiste, desta vez, contra o esquecimento em uma sociedade arredia à preservação de sua própria memória.

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