As mortes eram constantes’: A rotina dos profissionais da saúde na batalha contra a Covid-19

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Com um plantão que chega a durar até 12h, eles enfrentam o medo e o cansaço para dar conta do aumento da demanda)

Por Priscila Duarte
Redação Jornal Correio da Semana
Na pandemia, algumas atividades se tornaram essenciais para o combate da Covid-19, dando destaque aos profissionais da saúde que entre tantos serviços, não conseguiram fazer o isolamento social por ser a atividade mais essencial nesse ciclo.
Estar sempre em alerta, até mesmo em casa, se tornou o lema na atual rotina da Enfermeira, Siomara Rodrigues. Além de Coordenadora do Núcleo de Epidemiologia da Santa Casa de Misericórdia de Sobral, ela também atua como enfermeira intensivista na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal do Hospital Regional Norte. “Vivo um momento de medo, tristeza e angústia. No início de tudo, em março, o sentimento de medo era mais presente. Atualmente, me sinto algumas vezes aliviada, com a sensação de que fizemos tudo que estava ao nosso alcance”, explica Siomara.
De acordo com as últimas atualizações do boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria de Saúde, Sobral tem alcançado estabilidade no número de óbitos. Apesar do cenário presente ser mais tranquilo comparado a intensa demanda do mês de março, Siomara conta que o medo amenizou mas a ansiedade é frequente. “A ansiedade ainda se faz presente, por ainda lidarmos com um doença pouco estudada e pela nossa vulnerabilidade por sermos profissionais de saúde”, disse.
Máscaras n95, gorro, óculos de proteção, avental e proteção facial auxiliam os profissionais da saúde na batalha contra o coronavírus. Mas nem sempre os equipamentos de proteção individual e outros cuidados preventivos é o suficiente para evitar que os profissionais da linha de frente sejam atingidos pela onda de casos. “Alguns colegas adoeceram, se hospitalizaram e outros infelizmente, faleceram. Comigo graças a Deus correu tudo bem”, conta.
Em dois meses trabalhando na UTI do Hospital Regional Norte, o Técnico em Enfermagem, Daniel Rodrigues, 23 anos, encarou o maior desafio da saúde logo no primeiro emprego. “Tive que me adaptar a rotina do serviço que não é fácil, exige muito de você no monitoramento dos sinais vitais do paciente. As mortes eram constantes”, disse.
Além da exaustão física e mental da rotina, o medo de contaminar a família é predominante. “Trabalhamos na UTI, temos contato constante com pessoas confirmadas e em estágio grave da doença, e como técnico a gente cuida de toda forma do paciente, trocamos, administramos medicamentos na parada cardiorrespiratória, temos muita exposição porque fazemos as compressões. É um risco. Medo da infecção e de contaminar familiares”, relata Daniel.
“Tenho sempre o cuidado de tomar banho antes de sair do hospital e ao chegar em casa. Lavo minhas roupa separadamente e sempre uso máscara em casa”, destaca Siomara.
No meio de tantos momentos difíceis, a enfermeira lembra da morte de uma jovem, grávida de seis meses, que abalou a equipe. “O bebê foi retirado às pressas para salvar a vida da mãe. Ele foi para a UTI Neonatal e ela para a UTI Adulto.
Ver o pai ali, olhando para o filho prematuro, bem a esposa também na UTI foi extremamente doloroso. O bebê só tinha apenas 900 gramas”.
O bebê sobreviveu, mas segue internado pesando, hoje, 1.100kg.
Quando o paciente vence a doença e posteriormente recebe alta, a equipe vibra com a sensação de ter feito todo o possível nessa batalha contra um ‘inimigo invisível’.

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