Cardiologista alerta que a hipertensão pode ser uma doença silenciosa

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Dr. Mauricio (1)

Segundo os dados do Ministério da Saúde, a hipertensão, doença popularmente conhecida como “pressão alta”, afeta um a cada quatro adultos do Brasil. O Correio da Semana entrevista o Cardiologista Mauricio Medeiros, que atende no Hospital do Coração em Sobral, tratando pacientes que controlam e daqueles que, infelizmente, não controlam a pressão arterial, desenvolvendo sérias doenças, por exemplo, insuficiência renal, AVC, baixa visão entre outras.

Correio da Semana -Dr. o que é hipertensão arterial?
Dr. Mauricio – Vamos falar sobre o que é pressão arterial. Nós temos o coração, órgão responsável por bombear o sangue, certo? Através dos vasos sanguíneos esse sangue vai circular por todo o corpo. O nosso corpo é preparado para manter uma pressão dentro dos vasos em um nível considerado normal. a pressão deve se elevar, eventualmente em situações que o nosso corpo precise disso. Por exemplo, a gente está se exercitando e esse sangue precisa circular com mais velocidade, distribuir mais oxigênio, então a pressão se eleva um pouco naquela situação específica. Logo depois a pressão baixa.
A hipertensão arterial é quando essa pressão arterial está mais elevada que o normal, sem necessidade. Então nós estamos em repouso e a pressão continua elevada, mesmo com o repouso ela não baixa, níveis considerados acima do normal.

Correio – A pressão alta é frequente?
Dr. Mauricio – Muito mais frequente do que a gente pensa. Estudos mostram que na população adulta acima de 18 anos de idade, a gente tem uma prevalência no Brasil todo de 25%, ou seja, uma a cada quatro pessoas adultas têm hipertensão arterial. E o pior, muitos não sabem que são hipertensos, esse é o maior problema de todos.

Correio – Quais os sintomas da hipertensão?
Dr. Mauricio – Muitas vezes a hipertensão arterial é silenciosa, não dá sintoma algum. O paciente pode ter anos e até décadas de hipertensão arterial sem ter sintomas. Porém, mesmo sem haver sintomas, os órgãos estão sofrendo, expostos a uma pressão mais alta do que eles deveriam estar, então vai acontecendo lenta e progressivamente as alterações em vários órgãos (coração, rins, olho, cérebro).
O sintoma depende do órgão que irá atingir. No coração a gente pode ter sintomas de doenças cardíacas, falta de ar, dor no peito, palpitações, inchaços. Se atacar o olho, podemos ter baixa da visão, hemorragias no olho. Quando acomete os rins podemos ter uma diminuição do funcionamento do rim, insuficiência renal, há casos extremos que o paciente precisa fazer hemodiálise. Quando atinge o cérebro o paciente pode ter AVC. Uma pressão que ainda não seja muito grave pode causar sintomas discretos, uma tontura, uma cefaléia. Mas vale lembrar que não podemos esperar os sintomas para procurar um médico.

Correio – Como diagnosticar a pressão alta?
Dr. Mauricio – Você vai diagnosticar a hipertensão arterial através da medida da pressão arterial. Nós temos aparelhos calibrados e a pressão pode ser medida em consultório médico ou com profissional da saúde que esteja habilitado para medir a pressão arterial em postos de saúde, farmácias, e alguns aparelhos confiáveis podem ser utilizados em casa.
E temos outros dispositivos para medir a pressão arterial, por exemplo, o mapa. No mapa, o paciente fica 24 horas com um aparelho de pressão ligado a ele para medir a pressão a cada 15 minutos, inclusive dormindo. Dali nós vamos tirar uma média e ver como se comportou essa pressão ao longo das 24 horas para ter um diagnóstico.

Correio – O mapa é para todos os pacientes ou para casos específicos?
Dr. Mauricio – Como eu costumo dizer para os meus alunos, mapa é para tirar dúvidas, não é para confirmar certezas, certo? Então se o paciente está sempre com a pressão alta ele não precisa de mapa para saber que tem pressão alta. O mapa é indicado quando a gente tem dúvidas.

Correio – Como o paciente trata a hipertensão?
Dr. Mauricio – O tratamento da hipertensão envolve o tratamento não medicamentoso e o tratamento medicamentoso. O tratamento não medicamentoso que é importantíssimo, muitas vezes os pacientes negligenciam, mas é extremamente importante.
O tratamento não medicamentoso envolve mudanças no estilo de vida, tem que se alimentar bem, praticar atividade física, cessar o tabagismo se caso ele fume, se alimentar bem, diminuir a ingesta de sal, evitar o consumo de alimentos industrializados e diminuir o estresse.
Além disso, tão importante quanto, é o tratamento medicamentoso. Então, hoje em dia quase todos os pacientes hipertensos acaba tendo que tomar remédio em algum momento de sua vida.

Correio – Existe paciente que não precisa de medicamentos?
Dr. Mauricio – Poucos os pacientes a gente trata sem medicação. No passado a gente insistia mais nessa mudança de estilo de vida, mas com o tempo o paciente voltava já com um problema. Então, hoje em dia a gente é mais agressivo com o tratamento. A gente passa um remédio e se o paciente provar que talvez consiga ficar sem, dai eu tiro o remédio. Mudança no estilo de vida somente para aquele paciente jovem, sem muito fator de risco, com a pressão arterial só um pouco alta.

Correio – A hipertensão segue o paciente por toda vida?
Dr. Mauricio – Por toda vida. Uma vez considerado hipertenso, esse paciente vai ser sempre hipertenso. Só tem uma exceção que prevalece em 5% dos hipertensos, quando o paciente tem uma doença que faz com que a sua pressão suba, e aí a gente pode, talvez, curar essa doença, e o paciente pode deixar de ser hipertenso. Vamos dar um exemplo, se o paciente tem um tumor que produz uma substância que aumenta a pressão, se eu fizer uma cirurgia e tirar esse tumor, esse paciente pode ficar normal.
Outro exemplo é um paciente que tem problema de tireoide, o problema de tireoide dele é o que está fazendo a pressão subir, eu trato a tireoide dele e a pressão dele vai naturalmente baixar, aí pode ser que ele fique sem remédio. Mas 95% dos pacientes tem hipertensão primária, que é hipertensão relacionada com sua genética e com seu estilo de vida.

Correio – Como podemos prevenir?
Dr. Maurício – A chave da prevenção é procurar um médico cedo, diagnosticar cedo e ter um estilo de vida saudável. Quem não é hipertenso, pelo menos uma vez por ano meça sua pressão, mesmo sem sentir nada. Que quando a gente diagnosticar precocemente nós podemos evitar as complicações.

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