Conselho Indigenista Missionário apresenta relatório da violência contra os povos indígenas no Brasil

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O capital transforma a terra e os recursos naturais em mercadorias em nome do lucro cujo resultado é a ocorrência de conflitos e violências

Por Chiquinho Silva – Agente CPT – Comissão Pastoral da Terra, animador de Circulo – Bíblico e Assessor Regional da Ceb’s – Regional Nordeste 1

O Conselho Indigenista Missionário (CIMI), realizou na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB em Brasília, na tarde desta terça-feira dia 24 de setembro de 2019, o lançamento do “Relatório Violência contra os Povos Indígenas no Brasil” – dados de 2018. Este documento é uma forma de denunciar e fazer ecoar a dor, sofrimento e as angústias dos povos indígenas, provocado pelas violências praticadas ao longo do corrente ano. Mais grave que isso, é a constatação de que elas são cumulativas, promovidas e desencadeadas ao longo de décadas de modo sistêmico, pelo Capital agroexportador e pelo Estado brasileiro. Podemos afirmar com muito pesar que há, no Brasil, a institucionalização da violência como prática de Governos ao longo da República.
Para Dom Roque Paloschi – Bispo de Porto Velho e Presidente Nacional do CIMI, “os povos indígenas são vítimas do Estado Brasileiro. E que a violência só aumentou em 2018 com o estímulo de invasão aos territórios indígenas, a exemplo do dia do fogo. A ideia é ‘desterritorializar’ os povos, e assim, implementar uma política nefasta de integração dos índios, quer ainda, a todo custo, convencer a sociedade que índio não precisa de terra, e desta forma, priorizar a lógica do capitalismo”.
A gestão pública é parcial, pois toma como lógica a propriedade privada, a destruição e exploração da Amazônia, contrapondo-se à vida, ao bem-estar social e à dignidade humana. Por isso, milhões de pessoas se encontram em situação de miséria, na vulnerabilidade, desemprego e desesperançadas. Não obstante,a violência contra os indígenas está diretamente ligada a esse contexto, como podemos verificar pelos dados de 2018 apresentados no relatório. Aponta ainda o relatório, que elas são generalizadas e ocorrem de norte a sul do país. Muitos povos, inclusive em nossa região nordeste, vivem em pequenas áreas de terras degradadas, onde não há as mínimas condições de habitação, saneamento básico, água. Na região Norte, a realidade é mais grave com o processo devastador que invade os territórios indígenas, mesmo já tendo estes, sidos demarcados e homologados. Em todo país, o meio ambiente está sendo degradado por madeireiras, mineradoras, garimpeiros, grileiros de terra e pelo latifúndio. A cobiça é ainda maior e explícita sobre a Amazônia com inúmeros projetos de exploração indiscriminada da terra e de todos os seus bens naturais. (Fonte: Relatório CIMI /2018). O governo federal em 2018 cortou gastos com saúde dos povos indígenas, que gera uma política genocida, sem contar com os desmontes e sucateamento dos órgãos federais como Funai e Incra, inviabilizando as políticas públicas para a comunidades indígenas.
Diante desta realidade para os missionários do CIMI, as pastorais do campo (CPT, SPM – Serviço Pastoral do Migrante e Conselho dos Pescadores) leigos, bispos e padres presentes no evento de lançamento do relatório, reafirmaram que a Igreja precisa deixar de ser uma “Igreja da visita” para ser uma igreja encarnada. Que é preciso conscientizar toda a sociedade para uma conversão ecológica, como nos fala a Laudato si e o cuidado com a Casa Comum. Lutar contra o capitalismo que se serve dos empobrecidos, para, cada vez mais, aumentar seu poder opressor e acumular riquezas. O capital transforma a terra e os recursos naturais em mercadorias em nome do lucro, expropria os territórios indígenas, quilombolas, ribeirinhos, pescadores, acampados, sem-terra, as águas, nossos biomas e todos os seres que o povoam o Planeta, cujo resultado é a ocorrência de conflitos e violências.
Pois temos uma certeza: “Nós somos parte da terra. A terra é parte de nós. Um é a extensão do outro, nós não vivemos a sós”. Cuidar da Terra e dos sonhos que ela suscita em nós, é um dever imprescindível de cada um e de cada uma de nós. Cuidar da casa comum é, finalmente, cuidar do Sagrado que arde em nós, e que nos convence de que é melhor abraçar o outro do que rejeitá-lo e que a vida vale mais que todas as riquezas naturais deste mundo. Então ela será de fato a Casa Comum do ‘Ser’ como nos fala o teólogo Leonardo Boff.
O Papa Francisco ao escrever a Laudato Si, lança para toda a humanidade um apelo urgente de proteger a Casa Comum de forma sustentável e integral. Convidando-nos a sermos “Guardiões da criação”, pois somos parte da criação. Esta também será a tônica do sínodo da Amazônia em outubro, como um processo de escuta sobre a vida machucada dos povos indígenas que hora vivenciam no Brasil. Como Igreja precisamos anunciar que o Criador não nos abandona, nunca recua no seu projeto de amor, nem se arrepende de nos ter criado. (Gn 1, 26), e somos convidados a ouvi-lo, a «mudar de rumo», assumindo a beleza e a responsabilidade de um compromisso para o cuidado da Casa Comum (Rm 12).
Caminhemos tecendo a utopia da resistência na luta pela terra, e em defesa dos nossos irmãos e irmãs indígenas e seus territórios. Que os tempos difíceis não nos imobiliza, e mantenhamo-nos firmes. Há que se fazer justiça! Que a paz substitua a violência. Que o Estado Brasileiro, com suas estruturas, cumpra seu papel de efetivação do bem-estar social, e se coloque na defesa dos direitos humanos e da natureza.

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