CONVERSÃO À AMIZADE SOCIAL
Nestes primeiros dias do tempo quaresmal, é necessário estarmos atentos ao risco de viver o itinerário da quaresma contentando-nos apenas com atos externos de penitência, sem uma referência à pessoa de Jesus Cristo e sem uma abertura aos outros. Estamos no tempo privilegiado de discernimento e mudança, e uma das nossas primeiras tarefas é buscar conciliar a vida espiritual, os propósitos pessoais com as relações humanas e com a comunidade eclesial.
É nesse sentido que, para a Igreja do Brasil, a quaresma é enriquecida com a Campanha da Fraternidade (CF) que, neste ano, aborda como tema: Fraternidade e Amizade Social, e como lema: “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mt 23,8). Uma autêntica mudança interior leva-nos em direção ao outro, rompendo as cadeias que isolam, os preconceitos, as exclusões, a cultura do ódio e as diversas expressões de violência e intolerância.
A Igreja nos chama, assim, a viver esta quaresma em forte espírito de fraternidade e de amizade social, pois as rupturas fraternas assumiram um rosto assustador em nossa sociedade. Este pode ser um tempo favorável que nos ajude a eliminar a cultura da indiferença de nossas vidas.
Somos chamados a despertar nossa sensibilidade solidária diante de graves situações de divisão, que nos envergonham. Não podemos continuar passivos e indiferentes a esta realidade tão desumana. Onde há divisões e conflitos, é sinal de que o Evangelho não está sendo vivido de modo coerente pelos cristãos.
Temos um grave pecado social que nos atinge: a “alterofobia”, que se caracteriza como a aversão ao outro, com seus pensamentos e opiniões. Isso leva ao desrespeito e posturas enérgicas de falta de ética, muitas vezes de forma explícita nas redes sociais. Contra essa alterofobia, somos convidados a promover a amizade social, entendendo que todos somos irmãos e irmãs.
Precisamos nos comprometer uns com os outros para ajudar, para escutar, para partilhar, para acolher. A sociedade está com sede de perdão, de fraternidade, de paz, de amor. E os cristãos não podem ficar alheios a essas “sedes” da sociedade. Muitas vezes, a autorreferencialidade e o egoísmo nos são impostos, apagando de nossa vida espiritual a dimensão comunitária da fé.
Sabemos que o nosso desafio não é apenas vencer os nossos pecados pessoais, mas também os pecados sociais, que exigem uma renovada consciência de corresponsabilidade de todos os homens de boa vontade por uma sociedade mais justa e solidária. Isso está em profunda conformidade com a Boa-Nova anunciada por Jesus Cristo e com a Doutrina Social da Igreja.
Ao longo das próximas edições, vamos refletir sobre essa necessidade urgente da conversão à amizade social que a Igreja nos propõe nesta CF. A fraternidade humana deve ser um valor semeado em nossas relações sociais, a fim de que vivamos um amor que supera as barreiras, as fronteiras e tantas divisões que ferem gravemente a cultura do encontro fraterno. Somos todos irmãos, filhos de um mesmo Pai, habitantes de uma mesma Casa Comum, caminhantes da mesma carne humana!