Da diaconia de Jesus, a diaconia da Igreja: Reino de Deus e serviço no amor

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Por José Edmar Lima Filho
Nos dias em que nos encaminhamos para a finalização de um Ciclo Litúrgico anual, que outra coisa não intenciona senão, num movimento espiralar, nos impelir para diante no seguimento maduro de Nosso Senhor, somos mais uma vez envolvidos e provocados pela escatologia da promessa de um Reinado de Deus já realizado em Jesus de Nazaré, mas ainda não definitivamente estabelecido neste mundo. Os valores desse Reino, que se acham vinculados a uma lógica própria, compõem nuclearmente a vida e a missão de Jesus e se expressam, necessariamente, pelo exemplo dEle (cf. Jo 13,15): o mesmo que une de tal modo verdade (cf. Jo 18,37) e serviço (cf. Mc 10-43-45) que já não se pode estabelecer uma dicotomia entre o saber e a ação concreta de Jesus Cristo em favor de nós. Nesse duplo aspecto do exemplo do Senhor consiste mais propriamente a diaconia de Jesus, cuja expressão completada pelo sacrifício do Calvário nos coloca diante do escândalo e da loucura de um Deus crucificado (cf. 1Cor 1,23), rebaixado à condição de um escravo (cf. Fl 2,7) para a nossa salvação. Nós chamamos ordinariamente a essa unidade pelo “outro nome” de Deus: isso é algo que queremos dizer quando dizemos que “Deus é amor” (1Jo 4,8), de sorte que o mandamento a nós (pro)posto é que “não amemos com palavras nem com a língua, mas por atos e em verdade” (1Jo 3,18).
O nosso chamado fundamental ao discipulado, na Igreja, compreendida desde o Novo Testamento como a comunidade dos “seguidores do caminho”, passa, inextricavelmente, pela imitação do Mestre, a fim de dar a conhecer que somos dEle: que nos amemos uns aos outros (cf. Jo 13,35), mas “por atos e em verdade” (cf. 1Jo 3,18). A lógica do Reino de Deus e seus valores são, então, imperativos irrenunciáveis para os que somos convocados a continuar testemunhando a alegria do Evangelho (cf. EG 1) àqueles que conosco condividem as distintas geografias e a mesma história.
O convite do Senhor, que ressoa pelos tempos e, espero, sobretudo por nosso interior, é que expressemos concretamente nossa adesão a esse Projeto do Reino, revelado nEle, por uma vida que reproduza sua diaconia na lida diária, que se compreenda pela entrega sem reservas, no amor, pelos irmãos, sobretudo aqueles últimos, invisibilizados pela permanência nas grandes e graves “periferias existenciais”, e a todos os que estão “à beira do caminho” (cf. Mt 20,30).
A missão da Igreja não se pode compreender sem essa referência imediata à de Jesus, que não é qualquer “Mestre e Senhor” (cf. Jo 13,13), senão aquele que “lava os pés” aos discípulos, que se esmera por servir e prefere sempre o último lugar (cf. Mc 9,35), convidando-nos a seguir (e mimética e sinceramente reproduzir) sempre o exemplo dessa diaconia. Ser Igreja é, portanto, ser comunidade dos servidores dos irmãos, por causa da diaconia de Jesus: é nessa diaconia Christi que se apóia toda a nossa vocação cristã e é por meio dela que dirigimos nosso olhar a Deus, nossa origem e nosso destino final.
Que o encontro pessoal com Nosso Senhor, na oração, o mesmo que nos viabiliza a experiência com o Mistério que é Ele próprio e que nos preenche de modo a nos fazer transbordar, nos ajude a fazer a nossa opção fundamental por este Reino e a repetir diariamente, como nossa, a máxima inaciana: “Em tudo, amar e servir!”

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