De Olho na Língua
“Dar-se ao direito” ou ‘Dar-se o direito”?
As duas construções são corretas. Ex.: Ela nem sequer se deu o (ou ao) ao trabalho de responder à sua carta; Ela nem sequer se deu o ou trabalho de me ligar. Também se constroem indiferentemente: dar-se o incômodo; Dar-se ao incômodo; Dar-se ao luxo; Dar-se o luxo; Ele nem se dá ao incômodo (ou o incômodo) de me acompanhar até o elevador; O líder comunista romeno se deu (ou o) luxo de ter torneiras de ouro;
Dar parte a alguém alguma coisa (É assim que se constrói?)
É assim que se constrói: A mulher deu parte à polícia que a vizinha a roubou; A moça deu parte ao delegado que o rapaz a estuprou; Deram parte ao chefe que estava havendo boicote na seção. A construção “dar parte de alguém” ou “dar parte de alguma coisa” deve ser desprezada. Portanto; deve ser desprezada.
“Dar murro em faca de ponta” ou “Dar murro em ponta de faca”?
As duas expressões são corretas, embora a segunda seja mais corrente na língua contemporânea;
“Dar um pulo” (Usa-se com a?)
Usa-se com a preposição “a”, de preferência, mas no Brasil muito se vê com a preposição “em”: Dar um pulo na farmácia. Em verdade, quem dá um pulo, dá um pulo a algum lugar. Ex.: Dei um pulo à farmácia para comprar analgésicos; Vamos dar um pulo ao supermercado? Podemos usar, ainda, a preposição “até”: Dar um pulo até a farmácia; Dar um pulo até a farmácia; Dar um pulo até o apartamento.
Comparecer em pessoa (redundância?)
Visível redundância. Há como alguém comparecer a algum lugar sem ser em pessoa? Diga-me, que eu até hoje não sei.
Compartilhar e compartir (Posso usar um pelo outro?)
Pode, porque são sinônimos, e, ainda, verbos transitivos diretos ou transitivos indiretos, indiferentemente. Ex.: Casar e compartilhar os (ou dos) sucessos e fracassos de cada um dos cônjuges; Compartilhamos as (ou das) mesmas opiniões.
Competir (Posso conjugá-lo integralmente?)
Pode conjugar o verbo competir integralmente. Muitos pensam que não existem as formas compito, compita, etc. O verbo competir é apenas irregular, e não defectivo. Por isso, estas frases estão prefeitos: Se me aborrecerem, não compito mais; Espero que ela compita como eu compito.
Companhia (Qual a pronúncia correta?)
A pronúncia correta dessa palavra é companhia, e não compania. Ex.: Companhia aérea, companhia internacional, companhia limitada, companhia boa (Andar em (e não com) más companhias.
Obs.: A letra “h” da palavra companhia faz parte do dígrafo NH. Pronuncie: com – pan – ia. Veja que não pronunciamos “companheiro”.
Comentar sobre (Existe isso?)
Só existe porque aparece quase sempre nos jornais. Mais para a norma culta não existe. A verdade é que ninguém comenta nada “sobre coisa alguma”. Quem comenta, comenta alguma coisa. Ex.: O povo comentou esse escândalo de corrupção por vários anos. Um dicionário, porém, fornece no verbete “comentar” um exemplo errôneo do emprego desse verbo. Nele, porém, tudo é perfeitamente normal. Para finalizar, frase de jornal: Durante o fim de semana, após o crime, Farah disse que comentou sobre o assunto com outros familiares.
(*) Professor Antônio da Costa é graduado em Letras Plenas, com Especialização em Língua Portuguesa e Literatura, na Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA). Contatos: (088) 99373-7724.