De Olho na Língua
Ele fez eu tropeçar
O correto será: Ele fez-me tropeçar. Toda vez que um pronome for complemento de um verbo e, ao mesmo tempo, sujeito de outro (no caso, o pronome “eu” é complemento de “fez” e sujeito de ‘tropeçar”). Assim, diremos: Mandou-me passear; Mandou-me dizer; Mandou-me comprar (e não: Mandou eu passear; Mandou eu comprar; Mandou eu dizer).
Me dá…
Constitui verdadeiro sofisma afirmar que a expressão “Me dá um lápis” é mais afetuosa, incute maior carinho, expressa maior delicadeza do que a expressão “Dá-me um lápis”.
No Brasil, salvo exceções muito raras, ninguém trata o interruptor por “tu”. Conseguintemente importa, antes de discutir a colocação do pronome oblíquo, corrigir a frase para “Me dê um lápis”. Feita a correção, venham então dizer-me que a construção ‘Dê-me um lápis” denota imposição, brutalidade, arrogância…
Acaso é bruto o miserável que na rua nos diz “Dê-me uma esmola”? Acaso os que estudamos nosso idioma não sabemos que o imperativo expressa também rogo, pedido, súplica?
O que há é desleixo, menosprezo à correção de linguagem. Digamos todos “Dê-me um lápis”, deixando os recalcitrantes e fanáticos da “linguagem brasileira” a expressão duplamente errada.
Ele não veio por que choveu
O correto será: Ele não veio porque (conjunção causal) choveu. A construção “por que” é constituída da preposição “por” e do pronome relativo “que”. Emprega-se quando significa “a razão” ou “o motivo”. Também se empregam, separadamente, os vocábulos “por” e “que”, quando eles se refiram a um nome expresso: A estrada por que (pela qual) transito está em péssimo estado; Por que faltaste ao encontro? (Por que razão).
“Porque”, numa só palavra, é conjunção causal e emprega-se quanto significa “a causa” que produz determinado efeito: Caí porque escorreguei; Não vou sair porque está chovendo.
As dificuldades por que atravessei
Diga-se corretamente: As dificuldades que atravessei (Não se atravessa por).
Não devem haver dúvidas entre eu e tu
Diga-se: Não deve haver dúvidas entre mim e ti (O verbo impessoal “haver” exige que seu auxiliar fique na forma impessoal, “entre mim e ti”, pois a forma nominativa não pode vir regida de preposição.
O exame procedido no cadáver apurou a “causa mortis”
O correto: O exame a que se procedeu no cadáver apontou a “causa mortis” (O verbo proceder exige objeto indireto).
Acabem-se com as exceções
Diga-se: Acabe-se com as exceções (Sendo o sujeito indeterminado, o verbo “acabar” deve ficar no singular.
Recebi a revista que eu supunha que se havia extraviado
Diga-se corretamente: Recebi a revista que eu supunha haver-se extraviado (Concorrendo o pronome e a conjunção “que’ na mesma frase, substitui-se a conjuncional pelo infinitivo.
Devemos amar e obedecer os nossos pais
Diga-se: Devemos amar nossos pais e obedecer-lhes (Amar exige objeto direto e obedecer, objeto indireto).
A cerimônia está conforme com as tradições
Corrigindo: A cerimônia está conforme as tradições (A preposição “com” já se acha incorporada ao vocábulo “conforme”.
(*) Graduado em Letras Plenas, com Especialização em Língua Portuguesa e Literatura, na Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA). É, também, funcionário do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) de Sobral (CE). Contatos: (88) 99762-2542 e (88) 98141-2183.