De Olho na Língua
Viemos aqui, nesta hora, expressar nosso agradecimento
Neste caso, apresenta-se o uso indevido do verbo vir, interpretado de maneira errada. A expressão correta é: Vimos aqui, nesta hora, expressar nosso agradecimento. Observe que ninguém diz: Estivemos aqui, nesta hora,… Diz-se, porém, no tempo correto: Estamos aqui, nesta hora,… Se é “nesta hora” que o fato ocorre, então, o verbo deve estar no presente do indicativo.
Morte e falecimento (qual a diferença?)
MORTE serve para todos, indistintamente, velhos e moços.
FALECIMENTO é próprio dos que já viveram o bastante, aos quais alguns chamam idosos; outros, senis. Mas a maior parte usa mesmo é velhos (que não é um termo adequado). Só a morte pode ser violenta; o falecimento, ao contrário, exprime apenas um efeito natural. Por isso, ninguém “falece” num violento acidente de automóvel, assim como não há “falecimento” num assassinato. Há, em ambos os casos, morte.
Suicidar / suicidar-se
Conquanto “sui occidare” já significa dizer “matar a si mesmo”. A língua portuguesa registra o verbo suicidar-se. Trata-se, no caso, de um pleonasmo arbitrariamente consagrado. Não há nenhuma incorreção em dizer: Fulano de tal se suicidou (suicidou-se). O que a língua não aceita é dizer: Fulano de tal “se suicidou-se”. Aí, já é demais…
Ele acordou cedo (A língua cotidiana tem a tendência de omitir o pronome)
No sentido de “despertar”, esse verbo não aceita o pronome reflexivo “se”. Não devemos dizer, por exemplo: Ele acordou-se. Ninguém acorda a si mesmo; somos sempre despertados, acordados pelo barulho, pela luz, pelo despertador, pelo telefone ou até mesmo pelo fato de havermos dormido o suficiente.
OBS.: No Brasil, porém, é corrente dizer “acordou-se”, talvez por analogia com “levantou-se”. Observa-se escritores modernos, a exemplo de Mário de Andrade, Raul Bopp, Clarice Lispector e outros que assim o utilizaram.
Deitar (Com ou sem pronome?)
Com pronome, se usado em frases semelhantes a estas: Deito-me tarde todos os dias; Ele se deitou no chão, e não na cama; Sempre nos deitamos cedo; A que horas você se deita? Deitamo-nos à meia-noite; Quando me deito, já caio no sono; Deitei-me um pouco mais tarde ontem.
Estar ao colo X Estar ao colo
“ESTAR AO COLO” é estar ao pescoço, ao peito. “ESTAR NO COLO” é estar nos braços, nas coxas. Assim, um colar ou uma fita pode estar ao colo. Podemos também erguer uma criança ao colo, de modo que fique com uma perna de cada lado do pescoço. No sertão, as mulheres costumam ir ao trabalho levando o filho pequeno ao colo, prática que, não raro, causa vergadura nas pernas do pobre rebento – que o estigmatiza, às vezes, pelo resto da vida.
Um bebê pode, assim, estar ao colo ou no colo. De outro lado, não se costuma ver ninguém sentado ao colo de ninguém. Contudo, caro leitor, é fato corriqueiro ver alguém estar sentada no colo de outro.
Aniversário natalício
Em “aniversário natalício” não há nenhuma redundância. Um aniversário pode ser não só de nascimento, como também de fundação, de posse, de batizado, de casamento e até de desquite. Aliás, este é o aniversário que mais se comemora hoje no Brasil. Já temos agora o aniversário de divórcio. E a vida continua.
(*) Professor Antônio da Costa é graduado em Letras Plenas, com Especialização em Língua Portuguesa e Literatura, na Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA). Contatos: (088) 99373-7724