De Olho na Língua
Negativa mais negativa
A Língua Portuguesa admite o uso de duas negativas na mesma frase, sem que daí resulte um sentido positivo. Veja os exemplos seguintes; todos corretos: Não vi nada; Não conheceram nunca alguém tão feio; Sem as reclamações de ninguém além dele; Nunca ninguém aí entrou? Não tinha coisa nenhuma para comer.
No Português, duas negativas reforçam a expressão. Veja: Não quero, não. Dá mais força e energia à expressão de que a simples “Não quero”.
Incorretas são as frases em que há uma negativa antes (ninguém, nada, nem ou outra qualquer) e o advérbio “não” depois. Exs.: Nem eu não pude ver (Correto: Nem eu pude ver); Nenhum não morreu (Correto: Nenhum morreu); Ninguém não fez isso (Correto: Ninguém fez isso); Nada que o contrariasse não podíamos fazer (Correto: Nada que o contrariasse podíamos fazer).
Anaptixe X Suarabácti
Anaptixe ou suarabácti nada mais é do que a separação ou divisão de duas consoantes em virtude da intercalação de uma vogal. Anaptixe é uma palavra grega; suarabácti é termo da língua sânscrita. Exs.: adevogado/ adivogado por advogado (leia-se: ad´vogado); adejetivo/adijetivo por adjetivo (ad´jetivo); pineu/peneu por pneu (p´neu); opito por opto (op´to)
Madagascar X Madagáscar
No Brasil preferimos sem acento (Madagascar); em Portugal, com acento (Madagáscar). Ambas corretas. Madagascar ou Madagáscar ou, ainda, República de Madagascar é um país insular localizado no sudeste do continente africano.
“Moro em duplex” ou “Moro em dúplex”?
Prefira construir: Moro em dúplex; Moro em tríplex. Isto na linguagem formal, pois esses termos são acentuados. Já o povão usa esses termos como oxítonas: duplex e tríplex.
Checkup X Checape
A palavra que devemos usar é “checape”, que é a forma aportuguesada do Inglês “check-up”. Checape é um exame bem detalhado, um exame minucioso. Devemos evitar o pleonasmo “checape geral”, pois a palavra checape já significa vários exames, exame completo.
Fiz isso no sentido de ajudar
A expressão “no sentido” está muito vulgarizada; é um modismo na Língua Portuguesa. Devemos evitá-la. Quando o significado dessa expressão for de“para” (preposição), use a preposição. É mais simples. Exs.: Fiz isso para lhe ajudar; Fiz isso com o fito (intenção) de lhe ajudar; Fiz isso com o objetivo de lhe ajudar.
É de se esperar que
Não se usa o pronome “se” entre preposição e o infinitivo, quando este conjunto equivaler a um adjetivo (de esperar = esperável ou esperado)
Livro bom de se ler
Diga corretamente: Livro bom de ler. O infinitivo “Ler” equivale a sentido passivo: Livro bom de ler (Livro bom de ser lido). Lembre-se da expressão: Osso duro de roer (Osso duro de ser roído).
Conjectura (conjetura) X Conjuntura
Com a sílaba “je”, o termo conjetura ou conjectura tem o sentido de suposição, hipótese. Ex.: O diretor fez conjecturas (conjeturas) sobre o futuro da empresa. Já com a sílaba “jun”, a palavra conjuntura indica situação, circunstância. EX.: A atual conjuntura é muito preocupante.
(*) Professor Antônio da Costa é graduado em Letras Plenas, com Especialização em Língua Portuguesa e Literatura, na Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA). Contatos: (088) 99373-7724