Coronelismo e o voto de cabresto

“Coronelismo é o termo que define a estrutura de poder vigente na República Velha (1889–1930) em que os coronéis detinham o poder político e econômico por meio da violência e troca de favores com seus subordinados.
Os coronéis garantiam a eleição dos políticos apadrinhados através do voto de cabresto, isto é, forneciam trabalho, moradia ou dinheiro às suas clientelas em troca de voto. Caso o eleitor negasse o voto, era ameaçado com torturas ou até mesmo de morte. Apesar de o coronelismo ter sido extinto com a Revolução de 30 (Era Vargas), seus vestígios perduram até os dias de hoje através da compra de votos, nepotismo, desvio de verbas, fraude eleitoral, fake news, etc.
Os coronéis eram um dos símbolos do poder político. Na época em questão, a política brasileira estava centrada nas mãos das oligarquias de São Paulo e Minas Gerais, que eram as mais ricas e formalizavam a Política do Café com Leite, ou seja, um acordo entre as oligarquias estaduais (MG e SP) e o governo federal para que os presidentes da República fossem apenas políticos de São Paulo (produtor do café) e de Minas Gerais (produtor do leite), por isso o nome “café com leite”.
Para evitar o avanço de oligarquias como Rio de Janeiro, Bahia, Rio Grande do Sul e Pernambuco no poder, Minas Gerais e São Paulo levantavam mecanismos e acordos radicais para não perderem espaço. E os principais atores desses acordos eram os coronéis, que definiam a escolha dos eleitores em candidatos por eles indicados, através do voto de cabresto — método de voto não secreto em que o eleitor era ameaçado e obrigado a votar no político indicado pelo coronel.
O poder dos coronéis vinha dos trabalhadores dos campos, que, por serem pobres e dependentes, podiam explorar pequenas propriedades para práticas agrícolas em troca de proteção dos abusos da polícia e da Justiça.
No ano de 1827, D. Pedro I criou o cargo de juiz de paz, com o objetivo de regular a influência do poder central sobre as elites locais, o que ampliou o poder dos proprietários de terras e de escravos. Mais tarde, em 1831, foi criada a Guarda Nacional, com o objetivo de defender a Constituição e a integridade do Império, mantendo a ordem e a obediência às leis. A partir daí, os proprietários de terras aliados ao governo receberam o título de coronéis para exercerem domínio em suas regiões e eliminar qualquer tipo de revolta.
Apesar de o coronelismo ter perdido espaço para a Revolução de 30 (Era Vargas), seus vestígios perduram até os dias de hoje, através da troca de favores entre chefes de partido e a compra de votos. Mesmo diante das inúmeras mudanças ocorridas no sistema político brasileiro, apresentadas no decorrer das sete Constituições, ainda há práticas de nepotismo e desvio de verbas.
É recorrente a compra de votos, por meio da qual o cidadão eleitor recebe do candidato propina ou outro tipo de benefício para poder votar nele. E a boca de urna, que consiste na propaganda e/ou aliciamento do eleitor no dia da votação, é sempre presente durante as eleições.
“De acordo com o historiador e cientista político brasileiro Boris Fausto, apesar de os coronéis serem os principais sujeitos que configuraram a República Velha, eles não dominavam totalmente o cenário político daquela época. Os coronéis dependiam de outras instâncias para se manter no poder, e uma dessas instâncias é o próprio governo estadual. Sendo assim, os coronéis forneciam votos aos chefes políticos do respectivo Estado, mas dependiam deles para proporcionar muitos benefícios esperados pelos eleitores, como a manutenção de estradas ou construção de escolas.
No ano de 1932, já na Era Vargas, o primeiro Código Eleitoral do Brasil entra em vigor, tornando o voto secreto e extinguindo a era do coronelismo e das elites rurais.” Marcell de Oliveira Ardissao – (brasilescola.uol.com.br).
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