Salmito Campos

Como Aprender a Conviver Com a Raiva

Segundo o psiquiatra Daniel Martins de Barros falando sobre positividade e negatividade em seu livro “O Lado Bom do Lado Ruim” ele faz referência às emoções primárias que temos constantemente: alegria, tristeza, medo, raiva e nojo.
Ele chama a atenção o fato de que, das cinco, quatro estão do lado das emoções negativas. Mas nem por isso devemos menosprezá-las, pois sempre vamos tê-las em nosso convívio.
O que temos de compreender é que elas nos ajudam de uma certa forma não ficarmos encucados quando as temos.
Arun Gandhi, neto de Mahatma Gandhi destaca em seu livro “A Virtude da Raiva” que a raiva nos ajuda a viver melhor. Devemos então aprender a conviver com ela.
Portanto, não podemos ficar com raiva porque estamos com raiva. Se assim acontecer, ficaremos com mais raiva ainda. Vamos tirá-la do pensamento e respeitá-la, afinal de contas nós sempre teremos raiva na vida.
Arun Gandhi, diz: “Não precisamos ter vergonha da raiva. Ela é algo muito bonito e poderoso que nos leva a agir. Temos que nos envergonhar é de exagerarmos a dose.” Ele explica que a raiva deve ser usada com sabedoria.
Arun, ainda quando criança era muito briguento por ter raiva de alguns amigos que zombavam dele por algum motivo. Coisa de crianças que querem chatear uma outra e começam a fazer o que chamamos hoje de bullying. Por qualquer motivo ele tinha raiva e, assim, não tinha outra alternativa: brigava.
Se estava jogando bola, bastava um empurrão que ele revidava e acabava brigando. Seu pai sem saber controlar a raiva do filho o enviou para morar com seu avô Mahatma Gandhi, a quem o chamava de Bapugi.
“Eu não estava satisfeito em sentir raiva o tempo todo. (Dizia Arun). Guardar rancor e fantasiar sobre vingança me deixavam mais fraco, não mais forte. Meus pais esperavam que um tempo no ashram com Bapugi me ajudasse a entender minha fúria interior e a aprender lidar melhor com ela. Eu também torcia por isso.
Nos primeiros encontros com meu avô, fiquei surpreso ao ver que ele sempre parecia calmo e controlado, não importava o que qualquer um dissesse ou fizesse. Prometi a mim mesmo que seguiria seu exemplo e, por algum tempo não me saí mal. Depois que meus pais e minha irmã partiram, conheci alguns meninos da minha idade que moravam numa cidadezinha próxima e começamos a brincar juntos, disse.
Eu adorava jogar futebol. Os garotos zombaram do meu sotaque sul-africano desde o primeiro dia, mas eu tolerava as provocações, pois já tinha enfrentado coisas piores.
Porém, no meio de um jogo disputado, um dos garotos me fez tropeçar de propósito quando eu tentava ganhar uma bola. Caí no chão duro e poeirento, meu ego tão ferido quanto meu joelho – senti o familiar ímpeto da raiva, o coração batendo forte no peito e a mente querendo vingança. Peguei umas pedras e me levantei, furioso, já erguendo o braço para atirá-la com a maior força possível no agressor. Mas uma vozinha dentro da minha cabeça disse: ‘Não faça isso’.
Joguei a pedra no chão e corri de volta para o ashram. Com lágrimas descendo pelo rosto, encontrei meu avô e lhe contei a história. – Sinto raiva o tempo todo, Bapugi, não sei o que fazer.
Eu o havia decepcionado. Achei que ele ficaria chateado comigo, porém ele afagou as minhas costas e disse:
Pegue a sua roda de fiar e vamos fiar um pouco de algodão. Meu avô me ensinara a usar a roda de fiar assim que cheguei no ashram. (…).
– Fico contente em ver que você é capaz de ficar abalado pela raiva. A raiva é uma coisa boa. Eu sinto raiva o tempo todo.
– Nunca o vi zangado – retruquei.
– Porque aprendi usar a minha raiva para o bem – explicou ele. – A raiva, para as pessoas, é como um combustível para o automóvel. Ela nos dá energia para seguir em frente e chegar a um lugar melhor. Sem ela não teríamos motivação para enfrentar os desafios. A raiva é uma energia que nos impede a definir o que é justo e o que não é. (Arun Gandhi – do livro A Virtude da Raiva.).
Segundo Mahatma, você pode responder à raiva e ao ódio com a bondade.
Prof. Salmito Campos – (jornalista e radialista).

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