Herculano Costa

Os efeitos do mundo digital nas mentes contemporâneas

Neste nosso comentário de hoje, vamos abordar os impactos do uso deliberado das redes sociais, na saúde das pessoas, sobretudo na saúde mental.
O uso dessas plataformas está profundamente enraizado no cotidiano. Ferramentas como Instagram, Facebook, TikTok, YouTube e outras se tornaram espaços de convívio, trabalho, lazer e expressão pessoal.
Contudo, a intensidade dessa presença também acende alertas sobre os efeitos que essas tecnologias exercem sobre o bem-estar, especialmente o mental, nas pessoas.
Não se trata de demonizar as redes sociais, mas de reconhecer que seu uso contínuo pode gerar consequências emocionais, cognitivas e relacionais entre indivíduos A vida digital está diretamente ligada a questões de autoestima, ansiedade, dependência, solidão e sensação de inadequação.
Ao mesmo tempo, essas plataformas oferecem espaços de acolhimento, informação e troca de experiências, o que torna o debate ainda mais complexo.
Os comportamentos virtuais — como exposições exageradas, buscas por validação e reações emocionais intensas — não são simples efeitos colaterais da tecnologia, mas expressões de desejos, faltas e fantasias, que merecem atenção clínica e social.
É nesse contexto que este comentário propõe uma reflexão sobre a relação entre redes sociais e saúde mental, buscando contemplar seus impactos mais sensíveis e apontar caminhos possíveis para o cuidado dos efeitos emocionais na era digital.
Desde há cerca de 25 anos, ou mais precisamente, desde o advento do século XXI, tornou-se impensável viver sem os avanços tecnológicos e, com eles, sem o uso da comunicação pelas redes sociais. Plataformas foram criadas para facilitar a interação, mas acabaram por gerar hábitos exacerbados de contato interpessoal. O uso constante da internet quase se transformou em vício, contribuindo para interações superficiais, dificuldades no diálogo familiar, queda no desempenho escolar de infantes e jovens, transtornos de ansiedade e déficit de atenção.
Práticas como escrever cartas ou usar o telefone fixo praticamente desapareceram. A comunicação migrou para os ambientes digitais, tornando as redes sociais ferramentas centrais da vida moderna.
Entre os mais jovens, o uso excessivo pode gerar impactos psicológicos relevantes, como agressividade verbal e intolerância a opiniões diferentes. Além disso, a exposição a informações falsas (Fake News), discursos de ódio, cyberbullying e mensagens mal interpretadas pode provocar mudanças de comportamento e conflitos familiares.
As redes sociais já fazem parte da vida cotidiana de infantes e adolescentes que cresceram em um contexto digital. O uso constante dessas plataformas é visto como natural, mas pode trazer prejuízos como vício e dificuldades nos relacionamentos presenciais.
Por outro lado, esses ambientes também permitem o surgimento de novas amizades e o compartilhamento de informações, às vezes, nem sempre boas informações.
As redes sociais, como se sabe, são canais de comunicação imediata e de acesso rápido às notícias, mas, também alimentam comparações sociais e inseguranças. A autoestima, especialmente na adolescência, pode oscilar conforme as interações e o retorno recebido nas redes. O tempo prolongado de uso está associado a sensações imediatas de prazer, semelhantes às provocadas por substâncias psicoativas.
Esses efeitos levam a consequências emocionais como dependência, ansiedade, sensação de inadequação e esgotamento. Além disso, as redes sociais influenciam outros aspectos da vida, como padrões de consumo, comportamento político, religioso e outros vínculos afetivos.
As redes sociais fazem parte da rotina de grande parte da população. Permitem o compartilhamento de imagens, opiniões, sentimentos e experiências. No entanto, essa acessibilidade contínua também traz riscos importantes à saúde mental.
Desde cedo, crianças e adolescentes têm contato com esses ambientes digitais, o que torna seus efeitos ainda mais profundos. No Brasil, estimativas recentes (23/10/2024, feita por Vitor Hugo Silva, para o G1), apontam que 83% das crianças e adolescentes usam a Internet e têm perfis nas redes sociais. A dependência da internet é hoje um problema de saúde pública, afetando o desenvolvimento emocional, neurológico e social.
Estudos indicam uma relação entre o uso intenso das redes e o aumento de sintomas como ansiedade, depressão, baixa autoestima, distúrbios alimentares e transtornos do sono. A dependência compromete o rendimento escolar, a produtividade no trabalho e a convivência familiar.
A psicanálise, enquanto campo de investigação das manifestações da mente humana — principalmente do inconsciente e seus modos de subjetivação —, oferece uma lente potente para observar os efeitos da virtualidade sobre o sujeito contemporâneo.

Por Herculano Costa – (¹), (²) (hercoscosta@gmail.com) – (¹) Jornalista RI ACI Nº 1.216 – (²) – Neuropsicanalista Clínico, Professor, Escritor e Poeta.

 

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