Herculano Costa

Cristianismo – Pecado

Para compreender a fé cristã, é importante primeiro entender o pecado. Afinal, ele é a pulsação do cristianismo e constitui a base de seus ensinamentos. Mas, apesar de estar profundamente enraizado na religião, o pecado é, frequentemente, uma das partes mais incompreendidas da existência cristã. Não se trata apenas de uma questão de falha moral ou erro ético. É a ruptura da humanidade com Deus e da razão por trás do sofrimento e sacrifício de Cristo. Muitos cristãos têm dificuldade em definir o que o pecado realmente é. É uma regra quebrada, uma intenção desalinhada, uma responsabilidade negligenciada? Ou é tudo isso e algo mais? O Antigo e o Novo Testamentos têm muito a dizer sobre a natureza, a origem e o alcance do pecado. Em última análise, a consciência do pecado por parte de uma pessoa religiosa é profundamente moldada pela maturidade espiritual e até mesmo pela convicção pessoal. A questão fundamental do pecado. No cristianismo, o pecado é considerado a principal razão para a separação da humanidade de Deus, o que exigiu a morte sacrificial de Cristo na cruz. Não se trata apenas de uma transgressão, mas de uma condição da humanidade que exigiu a intervenção divina para restaurar o relacionamento (a aliança) rompido entre Deus e o homem por meio da expiação. Embora os cristãos frequentemente reconheçam comportamentos pecaminosos, definir o pecado com precisão tem se mostrado difícil. É mais do que uma questão de ações imorais; abrange atitudes, pensamentos e falhas que se desviam do padrão de Deus. Em hebraico, a palavra mais comumente traduzida como “pecado” é chatah, que também significa “errar”. Muitos historiadores e teólogos acreditam que isso reflete o pecado como o fracasso em atingir o alvo pretendido ou em não atingir uma meta estabelecida por Deus.
O Novo Testamento mantém o conceito de pecado do Antigo Testamento. Alguns versículos nesta parte da Bíblia definem pecado como ilegalidade ou transgressão da lei. Isso afirma que quebrar com os mandamentos de Deus é a essência do comportamento pecaminoso. Até os gregos consideravam a ilegalidade como a raiz do pecado. Em grego, a palavra ἀνομία (pronuncia-se anomia) significa «ausência de lei», e a versão da Bíblia do Rei Tiago (também conhecido em português como Rei Jaime) é conhecida por traduzir a palavra como «iniquidade». Isso significa que o pecado (comportamento imoral ou injusto) é considerado ilegal.
Quando o apóstolo Paulo escreveu a Epístola aos Romanos, ele confirmou que a lei identifica o pecado. Sem a clareza da lei, as pessoas permaneceriam inconscientes de quais ações, desejos ou pensamentos são pecaminosos. A lei torna o pecado visível e compreensível. A lei revela o pecado.
Romanos 7:7 usa o exemplo da cobiça para ilustrar esse princípio. Paulo diz que não teria reconhecido a cobiça como pecado se a lei não a tivesse definido. Ele acreditava que a lei atuava como o padrão de clareza moral. Na Epístola de Tiago, o meio-irmão de Jesus (São Tiago, o Justo) corrobora essa visão, enfatizando que a lei julga comportamentos. Mesmo a falha parcial (como obedecer a alguns mandamentos, mas quebrar outros) significa que a pessoa é culpada diante de Deus. Descumprir uma parte da lei equivale a quebrar o todo. Isso significa que o pecado é inteiramente holístico. Não se trata de atos isolados, mas de um completo afastamento da ordem de Deus e da integridade que ela exige. Pecado é mais do que quebrar regras; é rebelião ativa contra a autoridade de Deus. Desconsiderar Seus mandamentos significa rejeitar não apenas as leis divinas, mas também o relacionamento que Ele deseja com a humanidade. O pecado rompe as relações divinas e humanas. Os Dez Mandamentos são divididos em deveres para com Deus e para com os outros. Desrespeitar qualquer uma das categorias rompe a harmonia que Deus pretendia para as pessoas e suas comunidades. A estrutura dos Dez Mandamentos pretende ser um reflexo de dois grandes amores: o amor a Deus e o amor ao próximo. Estes servem de base para a compreensão de todos os mandamentos e, por extensão, fornecem uma estrutura para reconhecer o pecado. Jesus resumiu toda a lei em dois mandamentos: amar a Deus e amar o próximo. Todo pecado pode, portanto, ser atribuído a uma falha em demonstrar amor, seja verticalmente (a Deus) ou horizontalmente (aos outros). Amar plenamente, como Cristo ordenou, cumpre a lei. Assim, pecado é tudo o que vai contra as exigências do amor (seja ódio, negligência, desonra ou egoísmo). A ausência de amor torna-se evidência de pecado nas ações e intenções de alguém. Mas a definição de pecado não se limita a isso! Segundo Tiago, o pecado não é apenas o que fazemos, mas também o que deixamos de fazer. Saber a coisa certa e negligenciar a ação é, para essa pessoa, uma omissão pecaminosa. Até mesmo negligenciar um mandamento positivo (como honrar os pais) é pecaminoso. Quando uma pessoa tem clareza moral de seu comportamento, o pecado inclui a inação. Aos olhos de Deus, a responsabilidade para com os outros é tanto passiva quanto ativa. Alguns pecados também estão ligados à maturidade espiritual. Um crente maduro, dotado de uma percepção moral mais profunda, pode reconhecer omissões pecaminosas que outros não percebem como erradas. A responsabilidade cresce com o conhecimento espiritual.
Pesquisado por Herculano Costa – (In.: Christianity.com)
Herculano Costa é Jornalista – RI.ACI Nº 1216, Neuropsicanalista, Professor, Escritor e Poeta.

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