Herculano Costa

Trabalho: castigo ou dignidade?

O mês de maio começa com uma data de muita significação para todos nós. Dia 1° de Maio, Dia do Trabalho ou, como queiram, Dia do Trabalhador. Nesta primeira matéria de nossa participação, vamos, então, falar do tema trabalho. Neste sentido, abordaremos dois aspectos fundamentais: o enfoque místico e o sociológico do termo trabalho. Mas, também, abordaremos outros enfoques correlatos.
Como primeiro passo vamos examinar a questão mística, a começar pelos tempos primordiais do entendimento humano.
Através de textos bíblicos descritos no Antigo Testamento, sabe-se que o trabalho foi dado por Deus, em forma de castigo, aos primeiros seres humanos, como punição, pela desobediência deles, após fazerem uso de “algo proibido”. “Com o suor do teu rosto comerás o teu pão, até que voltes à terra, visto que dela fostes tu tirado; porque tu és pó e ao pó voltarás” (Gênesis 3: 19). Ou seja, maldição sentenciada pela Divindade Criadora, a partir da li, até a morte. E com isso, também estabelecendo a finitude da criatura humana.
Porém, de acordo com posterior compreensão e visão cristã, o trabalho não foi dado pela Entidade Divina, como castigo, mas, sim, como forma de dignificar o homem, e, de ele poder participar do plano de amor de Deus, com obediência, humildade e resignação.
Etimologicamente falando, a palavra trabalho tem origem no termo em latim tripalium, que, literalmente, significa “três paus”.
Na antiguidade, dois instrumentos recebiam o nome de tripalium: Um deles, uma espécie de tripé, destinado a imobilizar animais de grande porte, para escornear (tirar-lhes os chifres), castrar ou marcar.
Em dado tempo, o objeto tripalium foi adaptado para uso em seres humanos, tornando-se instrumento de maus tratos, de castigo, de tortura, em seres considerados “indignos”, malfeitores, escravos etc. Aqui, um objeto, cujo uso promovia sofrimento.
O outro instrumento (tripalium), era um artefato de madeira, formado por uma haste robusta, de onde pendiam três pontas afinadas, para fins de sulcar a terra que se destinava ao plantio de milho e trigo. À época foi o primeiro instrumento utilizado na agricultura. Neste caso, um objeto de ação com finalidade dignitária.
Gramaticalmente falando, a partir do substantivo trabalho (tripalium = trabalho) vem o seu verbo cognato trabalhar (tripaliare). No caso, fazer uso do trabalho (tripalium -> tripaliare) trabalhar, no sentido que hoje damos à palavra, a conotação é do fazer digno, ou seja, trabalho igual a dignidade.
Assim, pode-se destacar que o trabalho, tanto no sentido “castigo”, quanto no aspecto “dignidade” é tão antigo quanto o homem. Pois este, sempre se utilizou de suas mãos como instrumento de labor e de luta, por uma sobrevivência digna.
Trabalhar, (tripaliare), sempre teve, assim, um significado próximo ao que tem hoje, associado à ideia de labor, e não de sofrimento. Uma atividade que, desde o princípio, permitiu ao homem subsistir com a dignidade do suor do seu rosto, como na exortação bíblica.
De outro modo, quando o homem começou a se reunir em tribos iniciaram-se as lutas pelo poder e domínio, onde os perdedores (dominados) tornavam-se prisioneiros dos vencedores (poderosos), surgindo, desta forma, a dominação do homem pelo homem, a escravidão, o trabalho escravo, os maus tratos etc.
A mão de obra escrava, caracterizada pela submissão dos escravos aos seus senhores, era uma forma de trabalho. No entanto, não havia recompensa justa, remuneração honesta, pagamento digno, em troca do trabalho prestado. Tampouco havia uma jornada de trabalho pré-definida. A relação do escravo com seu senhor/proprietário era como uma mercadoria e seu dono, não havendo, assim, como se falar em direito do trabalho.

(continua, na próxima edição)

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