Homilia de Dom Vasconcelos na ocasião da Ordenação Episcopal do Monsenhor Agnaldo Temóteo da Silveira

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Sobral, CE, 16 de julho de 2024

Caríssimos irmãos e irmãs, neste dia em que a Igreja celebra a Festa de N. Sra. do Monte Carmelo, somos convidados com ela a subir à montanha do Profeta Elias para fazermos uma belíssima experiência de Deus. “Consideremos atentamente o ministério que vai ser confiado na Igreja a este nosso irmão por obra e graça do Espírito Santo de Deus.
Jesus Cristo, nosso Senhor, enviado pelo Pai para salvar o gênero humano, enviou por sua vez os doze Apóstolos ao mundo, a fim de que, cheios do Espírito Santo, anunciassem o Evangelho, santificassem e conduzissem todos os povos, reunindo-os num só rebanho.
Para que este ministério permanecesse até o fim dos tempos, os Apóstolos escolheram colaboradores, aos quais pela imposição das mãos, que confere a plenitude do sacramento da Ordem, comunicaram o dom do Espírito Santo, recebido de Cristo.
Assim, ao longo das gerações, este dom inicial foi sempre transmitido pela sucessão ininterrupta dos Bispos, e a obra do salvador se prolonga e cresce até os nossos dias.
No Bispo com os seus presbíteros está presente o próprio Cristo, Senhor e Pontífice eterno. Pelo ministério do Bispo é Cristo quem continua a proclamar o Evangelho e a distribuir aos que creem os sacramentos da fé. Pela solicitude paternal do Bispo, é Cristo que incorpora novos membros à Igreja. Pela sabedoria e prudência do Bispo, é Cristo que nos conduz nesta peregrinação terrena, até a felicidade eterna.1”
A vocação cristã específica, seja para o episcopado, para o presbiterado, para o diaconado ou para a vida consagrada, não é uma escolha humana, muito menos uma carreira profissional, é sim, um chamado divino. A todos Jesus diz: “Não fostes vós que me escolhestes, fui eu quem vos escolhi.” (Jo 15,16)
Ninguém estuda para ser Bispo, aprende a ser Bispo depois que é nomeado e ordenado. Ninguém pode ser um bom Bispo sem antes ser um bom cristão e um bom padre. Entre os bons cristãos padres, Jesus escolhe livremente, como fizera com os apóstolos em relação aos seus numerosos discípulos, àqueles que ele quis.
Ser Bispo não é uma honra, é um serviço, e um serviço exigente. Exige desapego total: desapego de sua terra natal, de suas possíveis posses, de seus familiares, enfim, da sua própria vida,
Monsenhor Agnaldo é um bom cristão e um bom padre. Todos os que o conhecem encontram nele um Bom Pastor. Sentiremos sua falta. Sentiremos falta daquele padre inteligente, objetivo na condução das reuniões, determinado na formação dos leigos, competente no ensinamento da doutrina da fé, na apresentação da Palavra de Deus; aglutinador na organização dos padres na Região episcopal, sábio nas intervenções nas reuniões do Conselho Presbiteral e Colégio dos Consultores.
Nunca nos esqueceremos daquele padre simples, que veste camiseta

de santo de padroeiro no dia a dia, que percorre as ruas da cidade à noite alimentando os famintos que dormem nas ruas, daquele padre zeloso para com o templo, a casa de Deus. Aquele padre cujo sim é sim, cujo não é não. Daquele padre que conseguiu tornar sua Paróquia, com seus diversos grupos de pastorais, movimentos e serviços, ricos e pobres, numa grande família, que prima por viver à fraternidade. As missas terminam e as pessoas não querem ir para casa, sentem prazer em prolongar a ceia eucarística numa grande confraternização, quase todos os domingos.
Padre Agnaldo escolheu como lema de sua ordenação episcopal uma frase pronunciada por Simão Pedro dirigida à Jesus, quando este o chamou para a missão.
Como ouvimos no Evangelho proclamado, Jesus encontrou Simão Pedro com seu irmão André numa bela manhã consertando às redes após uma pesca infrutífera. Jesus sobe na barca de Pedro, dela prega para a multidão e depois diz à Simão: “Duc in altum!” “Avança para águas mais profundas! Lança as redes à direita da barca!” que palavras ousadas ditas por um carpinteiro ou mesmo por um rabino judeu!
Simão Pedro, pescador experiente, estranhou e reagiu, porém com humildade: “Mestre, nós trabalhamos a noite inteira e nada pescamos. Mas, em ‘atenção à tua palavra’, vou lançar as redes.”
Simão Pedro poderia ter dito a Jesus: Mestre, sei que sabes muitas coisas e és um bom pregador, mas és um carpinteiro de Nazaré! Queres me ensinar a pescar? É o mesmo que querer “ensinar pai nosso a vigário!” (talvez esta seja uma das mais difíceis missões de um Bispo “ensinar pai nosso a vigário”, muitos sempre acham que já sabem tudo e quase nunca estão dispostos a aprender com a humildade de Simão Pedro). “In verbo tuo!” Em ‘atenção à tua Palavra’, vou lançar as redes.” Foi a resposta de Pedro. Foi a frase que tocou o coração deste sacerdote escolhido para o episcopado.
O que teria levado Padre Agnaldo escolher esta frase como lema do seu ministério episcopal? Certamente, um total abandono nas mãos do Mestre Jesus! Um total abandono à vontade do Senhor! É a mesma resposta que o profeta Isaias deu a Deus com outras palavras: “Aqui estou! Envia-me!” como ouvimos na primeira leitura desta santa missa.
Vou revelar-lhes um segredo: o Padre Agnaldo gosta de viajar em suas merecidas férias. Conhece muitos lugares. Todavia, nunca foi a Garanhuns. O que sabe de Garanhuns para onde está sendo enviado?
Sabe que há 67 anos atrás um irmão seu, sacerdote formado no presbitério desta Diocese foi nomeado Bispo: Dom Francisco Expedito Lopes. Sabe que Dom Expedito depois de uma curta permanência em Oeiras no Piauí, como primeiro Bispo daquela Diocese, foi transferido para Garanhuns PE. Dom Expedito foi o sétimo Bispo da Diocese de Garanhuns. Deparou-se ele com um sacerdote que vivia uma vida irregular. O Pe. Hosana estava amasiado com uma mulher, gerava filhos com ela, a obrigava a abortar os filhos, não permitia que ela se confessasse com outro padre que não fosse ele! Que terrível! Exortou o pobre sacerdote. Advertiu-o! Sem sucesso! No cumprimento do seu dever Dom Expedito o suspendeu de Ordem e o Padre Hosana furioso assassinou seu Bispo com três tiros de revolver no dia 02de julho de 1957.
Dom Expedito não morreu na hora, foi socorrido no Hospital onde pronunciou suas últimas palavras, anotadas por seu secretário o Pe. Acácio Rodrigues Alves, futuro primeiro Bispo de Palmares, de saudosa memória. Antes de morrer Dom Expedito perdoou seu algoz com as seguintes palavras: “Meu Deus, tende piedade deste pobre sacerdote, não permitas que ele vos torne a ofender. Por ele eu ofereço à minha vida”. Disse ainda: “Meu Deus, perdoai todos os meus pecados, os esquecidos e os mal acusados.” E concluiu: “Meu Deus, vos ofereço a minha vida pela Diocese de Garanhuns, pelo seu Clero e pelos seus seminaristas.”

Sua vida é um testemunho. Bispo dos pobres. Bispo de coração mariano. Bispo de muitas virtudes. Bispo do perdão.
A Diocese de Garanhuns abriu um processo de canonização de Dom Francisco Expedito Lopes e todos nós rezamos para um dia o vermos na glória dos altares.
O Padre Agnaldo sabe ainda que no dia 08 de julho de 2015, aniversário natalício de Dom Expedito Lopes, o Santo Padre o Papa Francisco nomeou a mim, proveniente do Clero de Garanhuns, lá onde Dom Expedito está sepultado, também como sétimo Bispo. Sétimo Bispo da Diocesano de Sobral.
Soube enfim, recentemente, que o mesmo Papa Francisco o nomeou Bispo para a Diocese de Garanhuns, Pernambuco.

O que Deus quer dizer com tudo isto? Não sabemos. Só Ele sabe.
Em minha reflexão, penso que em tudo há um bom propósito de Deus. Deus quis neste mês do preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, selar com estas duas Dioceses irmãs, um laço de sangue. Sangue que é vida. Vida doada, vida oferecida. Selar esta união com uma troca de “Dons”. Isto tudo é uma forma pedagógica de Deus para redimir a Diocese de Garanhuns.
Dar de presente à Diocese de Sobral um Bispo do clero de Garanhuns, devolver, digamos assim, à Sobral um Bispo, e agora enviar um novo Bispo, filho da Diocese de Sobral para Garanhuns tratá-lo como os bons filhos devem tratar um bom pai, para que, sob o seu cajado, ser conduzida às alegrias eternas. “como são belos, os pés do mensageiro da paz, caminhando…” nas colinas verdejantes de Garanhuns! Deus permita que assim seja!

Para concluir, dirijo-me a ti irmão caríssimo:
Não tenhas medo. Em atenção à palavra do nosso Mestre Jesus avança para as águas mais profundas e lança as redes! “Prega a Palavra de Deus, quer agrade, quer desagrade. Admoesta com paciência e desejo de ensinar. Orando e oferecendo o sacrifício pelo povo que te foi confiado, procura haurir copiosamente da plenitude do Cristo as riquezas da graça.”
Desejo que continues a ser “um Pastor com o cheiro das ovelhas”. “Ama com amor de Pai e de irmão todos aqueles que Deus te confiou, especialmente os Presbíteros e Diáconos, teus colaboradores no serviço de Cristo; e também os pobres e doentes, os peregrinos e aprisionados.”
Exorta os fiéis a colaborarem contigo na missão apostólica, na construção de uma Igreja em saída, missionária, pobre, serva, samaritana. Mostra zelo incansável pelos que ainda não pertencem ao rebanho de Cristo, para que o Cristianismo cresça, “não por propaganda, nem por proselitismo, mas por atração” como nos tem ensinado os dois últimos Papas.
“Vela, enfim, por todo o rebanho dos fiéis a cujo serviço te coloca o Espírito Santo, para reger a Igreja de Deus: em nome do Pai de quem és imagem entre os fiéis; em nome do Filho, cuja missão de mestre, sacerdote e pastor, exerces; e em nome do Espírito Santo, que dá vida à Igreja de Cristo, e fortalece a nossa fraqueza”.

Em atenção à Palavra do Mestre Jesus, não hesites em lançar as redes!
Nossa Senhora do Carmo, rogai por nós!
Assim seja! Amém!

 

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