Humanismo e retrocessos
O momento atual requer da sociedade redobrada atenção e comprometimento para enfrentar os graves retrocessos civilizatórios. Esses retrocessos são evidentes e estão, claramente, na contramão dos avanços da ciência e da tecnologia. Constata-se que as conquistas científico-tecnológicas ainda não conduzem a humanidade a parâmetros civilizatórios capazes de garantir a justiça e a defesa de direitos – urgências gritantes. Por isso mesmo, deve-se trabalhar para que esses avanços possam contribuir na recomposição do tecido social, vergonhosamente esgarçado, especialmente quando se olha de perto a sociedade brasileira. Neste horizonte, a Igreja Católica, com suas academias e outros segmentos, trabalha incansavelmente para fazer ecoar a convocação por um Novo Humanismo, inspirado no pontificado do Papa Francisco. O Santo Padre oferece novo garimpado da riqueza humanística e espiritual da Igreja – especialista em humanidade. Importante conhecer, é altamente recomendável, a recém-publicada obra intitulada O novo humanismo: Paradigmas civilizatórios para o século XXI a partir do Papa Francisco, editora Paulus. O livro reúne uma constelação de especialistas que, a partir do estudo-pesquisa, oferecem abordagens e reflexões qualificadas, com profundidade e fartura de perspectivas sobre os crescentes retrocessos civilizatórios.
A publicação, quase uma enciclopédia, possibilita leitura atraente, incentivando um investimento humanístico na qualificação do agir cidadão, pela conquista da clarividência nos juízos e configuração de um horizonte inspirador, válido e indispensável. É, pois, indicada para todos os segmentos da sociedade, sobretudo para líderes de todo matiz, políticos, educadores, pais e mães. Recomendada também para profissionais que procuram investir sempre mais nas suas competências, considerando a exigência contemporânea de se superar o conceito de que “bem-sucedido” seja associado apenas àqueles que conquistam o lucro, ostentando muitos bens. No horizonte amplo das crises mundiais, multiplicando cenários de guerra e exclusões que descompassam as relações sociais, torna-se ainda mais urgente vencer o individualismo, acolhendo a convocação do Papa Francisco para se viver um novo humanismo, ancorado em atitudes e palavras coerentes com o Evangelho de Jesus Cristo.
Nesse sentido, as mudanças radicais e impactantes deste tempo precisam ser entendidas a partir de critérios que promovam nova lucidez, capaz de dar rumo diferente a instituições que configuram contextos locais e globais. Igualmente importante, a partir de um novo humanismo deve-se cultivar esperança e, assim, encontrar forças para resgatar a civilização contemporânea do caos. Sensibilizar-se ante o desafio de se enfrentar os problemas atuais, acolhendo indicações para a construção de um tempo novo condizente com as conquistas científico-tecnológicas deste terceiro milênio. Esta obra – O novo humanismo: Paradigmas civilizatórios para o século XXI a partir do Papa Francisco – é uma escola de formação e de diálogo, aberta àqueles que reconhecem a própria responsabilidade na transformação do mundo. O momento atual exige a sabedoria para reconhecer a centralidade da vida, em contraposição às lógicas de destruição do planeta. Sem a assimilação e a promoção de um novo humanismo não serão rompidas as barreiras estreitas e prisionais do cenário atual, que impõem retrocessos civilizatórios.
Os retrocessos são muitos, multiplicados por diferentes mecanismos que priorizam interesses mesquinhos em prejuízo do adequado exercício da cidadania. O horizonte interpelante da obra O novo humanismo: Paradigmas civilizatórios para o século XXI a partir do Papa Francisco precisa ser conhecido por todos, a partir de estudos, individualmente ou em grupo, para desmontar estruturas que validam retrocessos, a exemplo da manipulação de letras que deveriam garantir a justiça – e não objetivar favorecimentos lucrativos; ou os ataques irracionais à democracia, pela opção de precipitar tudo e todos no caos, incoerentemente defendendo valores intocáveis, mas com posturas que negam esses mesmos valores. É preciso reagir, investindo no estudo, nas reflexões e ações fecundadas por um novo humanismo – caminho para vencer a avalanche de retrocessos civilizatórios da atualidade.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)