Liberdade!
Há 200 anos, em 7 setembro de 1822, o Brasil se tornava uma nação independente, quando as margens plácidas do riacho Ipiranga ouviram o brado retumbante de Dom Pedro I, proclamando a independência do Brasil em relação a Portugal. Assim, poeticamente, se narra o grito do Ipiranga.
Mas o quer dizer “independência”, “liberdade”? Aproveitemos a ocasião para revermos, sob o ponto de vista cristão, o conceito exato de liberdade e suas implicações éticas e políticas, seguindo o Catecismo da Igreja Católica (n 1730 e ss).
A liberdade é coisa excelente. Os homens de hoje apreciam grandemente e procuram com ardor esta liberdade; e com toda a razão. Muitas vezes, porém, fomentam-na de um modo condenável, como se ela consistisse na licença de fazer seja o que for, mesmo o mal, contanto que agrade. A liberdade verdadeira é um sinal privilegiado da imagem divina no homem. Deus criou o homem dotado de razão e lhe conferiu a dignidade de uma pessoa agraciada com a iniciativa e o domínio de seus atos. “Deus deixou o homem nas mãos de sua própria decisão” (Eclo 15,14), para que pudesse ele mesmo procurar seu Criador e, aderindo livremente a Ele, chegar à plena e feliz perfeição.
O exercício da liberdade não implica o direito de dizer e fazer tudo. É falso pretender que o homem, sujeito da liberdade, baste a si mesmo, tendo por fim a satisfação de seu próprio interesse. As condições de ordem econômica e social, política e cultural requeridas para um justo exercício da liberdade são muitas vezes desprezadas e violadas. Fugindo da lei moral, o homem prejudica sua própria liberdade, acorrenta-se a si mesmo, rompe a fraternidade com seus semelhantes e rebela-se contra a vontade divina.
No campo político, na convivência social, na escolha democrática dos nossos chefes e representantes, devemos fazer o uso correto da nossa liberdade.
Infelizmente, na política, além da falta de harmonia e equilíbrio entre os poderes, a corrupção, a falta de honestidade, ética, honradez, com total desprezo das virtudes humanas e cristãs, necessárias ao bom convívio e à vida em sociedade, denotam o mau uso da liberdade.
Observando as redes sociais, notamos a ausência total do respeito à opinião alheia, o ódio, a incitação à violência, a falta de humildade e modéstia, o desaparecimento da tolerância, do respeito pelas consciências, do apreço pela verdade, o disseminar de calúnias, intrigas e suspeitas. E a ausência das virtudes da honestidade, da não acepção de pessoas, da caridade desinteressada, do comedimento no falar, do respeito para com a consciência do próximo, do amor pela verdade etc, configuram o mau uso da liberdade e prejudicam a sadia convivência social.
“A comunidade política existe… em vista do bem comum; nele encontra a sua completa justificação e significado e dele deriva o seu direito natural e próprio. O bem comum compreende o conjunto das condições de vida social que permitem aos indivíduos, famílias e associações alcançar mais plena e facilmente a própria perfeição” (Gaudium et Spes, 74).
Dom Fernando Arêas Rifan* *Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney