Jovens, empreendedores e estudiosos das áreas de gestão estão sendo interpelados pelo Papa Francisco para se colocar em pauta, na agenda global, a “Economia de Francisco”. A referência é a Francisco e Clara de Assis, Santos da Igreja que oferecem lições adequadas ao mundo contemporâneo. São exemplos no cuidado com os mais frágeis e na adoção de práticas adequadas aos valores de uma ecologia integral.  A partir dessas referências, a humanidade pode alcançar modelos econômicos livres de hegemonias excludentes. Incontestavelmente, a atual configuração econômica do mundo, eivada de indiferenças, é perversa, mata e exclui. A humanidade está desafiada a mudar, pois progressos já alcançados em vários campos têm potencial para levar bem-estar a todos. Envergonha e preocupa saber que, diante de tantos avanços, a maioria dos que habitam o planeta está submetida a cenários de exclusão e misérias.
Ecoa nos horizontes da sociedade mundial o clamor surdo, mas inquietante, dos que são vítimas da desigualdade social – uma falta de respeito à dignidade humana. Essa desigualdade é chaga que, para ser curada, exige a adoção de um novo estilo de vida, sustentado na convicção de que tudo está interligado. Desconsiderar a interdependência que une tudo o que existe no planeta gera prejuízos para todos, com peso maior na vida dos mais pobres. A saída para essa realidade complexa pode ser enxergada a partir da luz própria e incomparável irradiada pelo Evangelho, ensina o Papa Francisco. Apontam para essa saída as lógicas adotadas por São Francisco e Santa Clara de Assis.
É urgente pautar dinâmicas capazes de superar o atual modelo econômico, que mata, conforme bem diz o Papa. Hoje tudo entra no jogo da competitividade, fermentada por subjetivismos que impulsionam na direção do egoísmo: cada indivíduo considera somente o próprio interesse, sem se importar com as necessidades de seu semelhante. As consequências são desastrosas, com um grande número de pessoas marginalizadas, excluídas do direito ao trabalho, sem perspectivas. O ser humano é tratado como um bem de consumo, substituível, consolidando uma desastrosa cultura do descarte. Essa economia desalmada, perversa, precisa ser vencida e substituída para que se faça frente à idolatria do dinheiro, força diabólica que domina pessoas e sociedades. O dinheiro é um ídolo terrível e sedutor. Ao envolver mentes e corações faz com que seja desconsiderada a primazia do ser humano.
A economia mundial é contaminada por seus desequilíbrios e graves lacunas, fazendo valer mais o consumo e a mesquinhez, as atitudes individualistas. Por isso, poucos que acumulam grande fortuna não se incomodam com a triste realidade da grande massa de pobres, e os que se enriquecem permanecem indiferentes à dor das vítimas de empobrecimentos. O dinheiro, ao invés de servir o ser humano, o governa e determina seus rumos, configurando cenários tenebrosos. Precisa-se de vigorosa mudança: profundas reformas presididas por lógicas novas, inspiradas nas lições de São Francisco e Santa Clara de Assis. Essa meta precisa ser cada vez mais compartilhada, com crescente adesão de cada pessoa, para se alcançar dinâmicas capazes de priorizar o que é sustentável, saudável e solidário. O desafio é encontrar caminhos e práticas que possam debelar, com urgência e maior velocidade, a desigualdade social geradora de violências e desumanizações.
A pauta é atual e urgente, nos parâmetros da convocação do Papa Francisco, para que se configure nova economia. Todos possam se inteirar, conhecer e participar do pacto que busca reconfigurar o modelo econômico, dando-lhe nova alma.  Muitos perguntarão se isso é possível. Trata-se de desafio que exige o aprendizado de uma nova gramática capaz de fomentar modelos inovadores nas práticas da economia. Assim, deve-se priorizar a sustentabilidade, superando modelos de crescimento incapazes de garantir o respeito pelo meio ambiente e a busca por equidade social. O ponto de partida é a sensibilização e o consenso a respeito da gravidade dos problemas que a humanidade enfrenta para intuir respostas a partir de uma cultura da comunhão. Esse pacto a ser consolidado exige compromisso de se cultivar novo humanismo que corresponda, conforme explica o Papa Francisco, às expectativas de humanização e aos desígnios de Deus.
É necessário viver de modo diferente, reconfigurar hábitos de consumo, por uma espiritualidade encarnada e integradora, por um cuidado com a saúde. A solidariedade tem gramática própria como estampa o despojamento de Francisco de Assis, distanciando-se da mundanidade para escolher Deus como estrela polar de sua vida, “fazendo-se pobre com os pobres, irmão universal”, sublinha o Papa Francisco. É hora de investir na sustentabilidade, saúde e na solidariedade. Importante: a solidariedade demanda cooperação com o outro, respeito mútuo e a consciência de que tudo está interligado. Gestos inspirados no exemplo de Francisco e Clara de Assis conduzem à novidade almejada. Configuram nova profecia e revestem de autoridade transformadora quem procura construir o horizonte da humanidade a partir das lógicas de Francisco.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo – Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte
Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)

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