Monsenhor Sadoc de Araújo: 90 anos a serviço de Deus e do ser humano!
É mais que esperado que nesta sexta-feira (17), Sobral e região não esqueçam o transcurso do 90º aniversário de nascimento do Monsenhor Francisco Sadoc de Araújo. Não apenas lembrar o natalício, mas fazer algo que homenageie o ilustre aniversariante. Isso nada mais é que um gesto de justiça e gratidão.
Apesar de este respeitado sacerdote no momento estar enfrentando sérios problemas de saúde, presume-se que hoje ele vá receber visitas e manifestações de familiares, integrantes do clero, personalidades da cultura, da política e de outros segmentos, além de fiéis católicos e admiradores do trabalho deste ilustre sobralense. E nunca é muito conhecer melhor a vida e a obra do fundador da Universidade Estadual Vale do Acaraú, além de figura central numa imensa lista de serviços prestados em prol da fé e da educação em Sobral e região.
O homenageado – Sacerdote exemplar, educador, historiador, intelectual de vasta cultura, músico, empreendedor e acima de tudo, homem humilde e simples, Francisco Sadoc de Araújo nasceu em Sobral no dia 17 de dezembro de 1931, na então Rua Santo Antônio, atualmente Rua Pe. Fialho, no local onde hoje reside o Sr. Luiz Melo Torquato. Filho de Galdino Orlando de Araújo e Rita Albuquerque de Araújo, Sadoc recebeu o sacramento do batismo a 14 de abril do ano seguinte, tendo como padrinhos Albertino Chaves e Adalgisa Chaves.
Formação – Estudou as primeiras letras em sua terra natal com as professoras Chiquita Jácome e Chaguinha Lima, tendo concluído o curso primário no Educandário São José, da Profª. Honorina Passos, em dezembro de 1942. Com o pai, que era músico, aprendeu a tocar violão e outros instrumentos e a compor, razão pela qual é autor de diversos hinos. A 8 de dezembro de 1943 ingressou no Seminário Menor de Sobral, onde terminou o curso secundário a 8 de dezembro de 1949. Em fevereiro do ano seguinte, matriculou-se no Seminário Maior de Fortaleza, concluindo o curso de Teologia em fevereiro de 1952. Em maio daquele ano recebeu a tonsura clerical das mãos de Dom José Tupinambá da Frota, na capela episcopal de Sobral. Em setembro, partiu para a Itália, a fim de estudar na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, onde concluiu o bacharelado em Teologia em junho de 1954 e o mestrado em junho de 1956, tendo publicado a tese “A ciência criadora”.
Empreendeu inúmeras viagens pelo território nacional e por diversos países, acumulando mais conhecimentos à sua já sólida bagagem cultural, como participante ou ministrante de cursos, seminários, congressos, conferências e palestras. Mesmo sendo detentor de vastíssima cultura, conhecedor de vários idiomas, além de profundo estudioso da Bíblia, o homenageado avalia que ainda há muito que aprender.
Ordenação – Em 25 de fevereiro de 1956, aos 24 anos, foi ordenado sacerdote em Roma, Itália, pelo cardeal responsável por aquele templo. No dia seguinte rezou sua primeira missa na Basílica de São João de Latrão, apadrinhado por seu colega norte-americano Pe. David Warren. Já ordenado, Pe. Sadoc de Araújo teve como primeira experiência sacerdotal trabalhos realizados no Kloster Nette, em Osnabruek, cidade da Alemanha Ocidental, num convento de religiosas franciscanas, onde permaneceu por dois meses. Participou, ainda, em 1956, de um curso de atualização pastoral em Bruxelas.
Retorno – Em novembro de 1956, Pe. Sadoc de Araújo retornou temporariamente a Sobral. A 8 de fevereiro de 1957 foi nomeado professor do Seminário e Capelão do Colégio Santana, cargos que exerceu até 1964, quando assumiu a reitoria do primeiro destes estabelecimentos. Em 1967, deixou novamente sua terra, indo participar de um curso de Psicologia Profunda na Faculdade Cristo Rei, que durou o ano inteiro, em São Leopoldo (RS), dirigido pelos padres jesuítas.
Educação – Retornando definitivamente a Sobral em fevereiro de 1968, Pe. Sadoc de Araújo dedicou-se integralmente à evangelização e à educação. Em 1968 fundou o Ginásio de Aplicação (já extinto) e, com o apoio do então prefeito Jerônimo de Medeiros Prado, a Fundação Universidade Vale do Acaraú, atualmente Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), marco maior na educação da região e a mais importante alavanca para o progresso da cidade. Além de fundador desta instituição de ensino superior, foi também presidente do seu Conselho Diretor (1968-1984) e, após a encampação pelo governo do Estado (1984), permaneceu como reitor até 1989, dedicando-lhe mais de trinta anos de relevantes serviços. Como professor, lecionou em diversos estabelecimentos de ensino de Sobral, tais como: UVA, Ginásio de Aplicação, Colégio Santana, Colégio Sobralense, dentre outros. Além da sua atuação na sala de aula, Mons. Sadoc é um dos mais requisitados palestrantes do estado do Ceará. Seu talento é o responsável por inúmeros convites para proferir palestras em vários outros estados brasileiros.
Cargos e homenagens – Por conta da sua operosidade em diversas áreas de atuação, o religioso sobralense ocupou brilhantemente importantes cargos, pelo que foi merecedor de muitas homenagens. Seu nome figura como membro de entidades culturais, tais como: Diretor do Jornal Correio da Semana (1964/1966); Diretor da Rádio Tupinambá de Sobral; Presidente da Comissão de Encargos Educacionais do Conselho de Educacionais do Ceará (1968/1988); Presidente do Conselho Diretor da UVA; Vice-Presidente do Conselho de Educação do Ceará (1977); Presidente da Câmara do 2º Grau do Conselho de Educação do Ceará, com três mandatos de dois anos; Presidente do Rotary Club de Sobral (1977/1978); Sócio da Academia Cearense de Letras, Cadeira nº 15; Sócio da Academia Sobralense de Estudos e Letras; Membro do Instituto Cultural do Vale Caririense de Juazeiro do Norte; Membro do Instituto do Ceará; Membro do Instituto Genealógico Brasileiro; Diretor do Instituto de Filosofia e Teologia da Arquidiocese de Olinda e Recife (1991); Capelão do Arquipélago de Fernando de Noronha (1991) e outras mais.
Dentre as inúmeras homenagens, figuram: Uma “Placa de Bronze”, na freguesia de Meixomil, Concelho de Paços de Ferreira, em Portugal; Diploma de “Honra ao Mérito”, concedido pela Câmara Junior do Brasil; Título de Cônego Honorário do Cabido da Basílica de São Pedro em Roma, concedido pela Santa Sé em 1976; Medalha Justiniano Serpa, do Governador do Estado do Ceará; Medalha do Educador, do Sindicato dos professores Particulares do Ceará; Medalha do Mérito, do RC de Fortaleza – Alagadiço; Professor Emérito da Faculdade de Filosofia Dom José de Sobral; Aposição de seu busto no Campus da Betânia, por ter sido o fundador da Universidade Estadual Vale do Acaraú (1998); Título de Monsenhor concedido pela Basílica de São Pedro em Roma; Conselheiro Honorário do Conselho de Educação do Ceará (2000); Título de “Doutor Honoris Causa”, concedido pela UVA, além de outras condecorações.
No dia 25 de fevereiro de 2006, às 19h, uma missa concelebrada sob a presidência de Dom Antonio Fernando Saburido, bispo da Diocese de Sobral, Mons. Sadoc de Araújo foi homenageado pelos 50 anos de sua ordenação sacerdotal. Foi saudado pelo Pe. José Linhares Ponte, seu colega e primo. Na ocasião, o reitor José Teodoro Soares fez a entrega da Medalha do Mérito Educacional da UVA ao Mons. Sadoc de Araújo, fundador daquele estabelecimento de ensino superior. Vale ressaltar que se trata da maior honraria da Universidade, excetuando-se o Título de Doutor Honoris Causa, anteriormente concedido ao religioso sobralense.
Historiador – Há poucos anos Raimundo Girão, historiador e autor do Dicionário da Literatura Cearense, disse: “Pe. Sadoc é atualmente é a mais saliente expressão da cultura da região norte do Estado”. O sacerdote historiador sobralense já conta com dezenas de livros publicados que comprovam sua preocupação com a compreensão e preservação do passado, possibilitando aos leitores entenderem melhor o presente para projetar melhor ainda o futuro. Vale ressaltar a ênfase que deu à obra de Pe. José Antonio de Maria Ibiapina, do qual é Postulador da Causa de Canonização (1ª parte), bem como à obra de Dom José Tupinambá da Frota, dentre outros grandes vultos locais e mundiais. O zelo pela história sintetiza seu respeito e devotamento àqueles que só praticaram o bem, como também convida seus leitores a também conhecê-los e a imitá-los.
Evangelização – Ser reconhecidamente grande como evangelizador, educador, historiador, empreendedor e disseminador da paz e do bem não é suficiente para gerar em Mons. Sadoc de Araújo sentimentos de grandeza, de busca de méritos e de autovalorização. Pelo contrário, isso o tem tornado mais humilde, mais desapegado a honrarias terrenas, além de mais consciente da sua responsabilidade na Terra e mais obcecado pela obediência às regras que levam ao Céu.
Na evangelização, sua obra é notadamente visível na intenção quotidiana de tornar homens, mulheres e crianças mais cristãos através da divulgação da Palavra de Deus, magnificamente transmitida através de suas homilias cativantes, aconselhamentos ou nas suas mensagens que eram reproduzidas na Rádio Ressurreição AM 1460, por ele fundada em 12 de outubro de 2002. Na sua ação evangelizadora também está inserida a edificação de vários templos católicos, com a imprescindível colaboração de colegas do sacerdócio e devotados fiéis, tendo como exemplo a construção da Paróquia do Cristo Ressuscitado, Santuário da Mãe Rainha, Capela de Santo Expedito, reformas em diversas capelas, além de projetos como o da construção da Igreja da Bíblia, em andamento. Numa visão evangélica mais abrangente idealizou e construiu, com recursos próprios, a exemplo de outras obras suas, o Centro de Evangelização Pe. Ibiapina de Sobral (CEPI), anexo à sua paróquia, inaugurado em 1995.
Como disseminador da paz e do bem, a presença amiga e de amor paternal do Mons. Sadoc de Araújo configura-se como o bastante para confortar, encorajar e estimular seus fiéis e admiradores a viverem mais santamente. Sua palavra sincera e confortante, quer no elogio, quer no aconselhamento, tem transmitido a certeza de que seu único desejo é que o ser humano transforme sua vida, se preciso, no intuito de viver melhor consigo mesmo e, consequentemente, com os irmãos.
A vida do Mons. Francisco Sadoc de Araújo, bem como sua obra, principalmente o trabalho pastoral em nome da fé e do bem, estão sintetizadas no seu próprio pensamento: “Procurei sempre servir à Igreja Católica e à Universidade, as duas colunas que no mundo sustentam a cultura e a verdade”.
Atualmente, Mons. Sadoc de Araújo já não mais tem condições físicas de continuar realizando aquilo de que mais gostava: trabalhar para o bem da humanidade e para o Reino de Deus. Enfrentando problemas na visão e outros decorrentes da terrível Doença de Alzheimer, o sacerdote já sente reflexo nos movimentos (caminhar) e vem sendo acometido por lapsos de memória, alternando com alguns momentos de lucidez, tornando-se-lhe difícil reconhecer as pessoas e conversar normalmente.
Fica até difícil mencionar a quantidade de pessoas por ele homenageadas, bem como o número de benefícios por ele trazidos para Sobral e região. Igual dificuldade também é encontrada se o foco é o número de pessoas beneficiadas (centenas, hoje, em bom emprego graças a esse notável reverendo). O tempo passou e as preocupações e afazeres de cada um são muitos. Mas nada justifica que o benfeitor e suas ações sejam esquecidos.
No caso do Monsenhor Sadoc de Araújo, além de suas obras de pedra e cal ele nos deleitou, confortou e enriqueceu com “dedinhos de prosa” fácil e contagiante, durante maior parte da sua existência. Todos silenciavam para receber sua mensagem no púlpito das igrejas ou nas salas de aula; ao ler seus livros e artigos nos jornais; ao ouvir suas sábias palavras em encontros, solenidades, palestras, nas emissoras de rádio ou no simples bate-papo do quotidiano. Quanto bem isso nos fez!
Mas agora chegou a nossa vez. Em decorrência de problemas de saúde, atualmente Mons. Sadoc necessita, e por demais, de que levemos pessoalmente até ele nosso “dedinho de prosa”, o que, no momento, pode traduzir-se apenas numa visita pessoal. Fazer isso significa materializar nossa gratidão pelo muito que esse Padre-Mestre já fez. Além disso, é uma demonstração de que desejamos unir forças com ele nesse massacrante momento de provação. Tentar um “dedinho de prosa”, embora pareça pouco, certamente não irá curá-lo. Mas pode, sim, transformar-se num estímulo poderoso para que ele continue carregando dignamente sua cruz até o fim da caminhada.
Aproveitando o ensejo, relembro aqui algo que se coaduna muito bem com o que Mons. Sadoc vive atualmente. Em 1974, Nélson Cavaquinho (1911-1986) e Guilherme de Brito (1922-2006) compuseram uma das joias da Música Popular Brasileira: “Quando eu me chamar saudade”. Tornou-se um clássico na voz de dezenas de cantores e cantoras. E essa música continua sendo porta-voz do apelo de quem deseja veracidade nas homenagens que, porventura, venha a receber.
Infelizmente, ainda há muita gente que não consegue captar essa mensagem de Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito, que é exatamente o mesmo desejo de outras pessoas dignas de homenagens. Sem essa compreensão, continua comprando e guardando ouro (pra fazer um violão); apenas juntando flores e mais flores e até já treinando para proferir um belíssimo discurso algum dia. De nada isso servirá para aquele a quem essa gente deseja homenagear. E mais: a maioria das pessoas que se diz grata àquele homenageado só aparece quando esse alguém vira saudade. É uma lástima!
Para mim, quando isso acontece os “pseudohomenageadores” estão inconscientemente demonstrando a verdadeira intenção: homenagear a si mesmo, tentando apenas “aparecer”, “fazer bonito” diante de todos. E cada um tentando aparecer mais que o outro com o mais belo discurso, com a mais bela coroa ou com o mais belo buquê. Hipocrisia clara e evidente.
Portanto, ensinemos o refrão do samba e ajamos segundo ele: “SE ALGUÉM QUISER FAZER POR MIM / QUE FAÇA AGORA”.
E, no final, os compositores arrematam: “DEPOIS QUE EU ME CHAMAR SAUDADE/ NÃO PRECISO DE VAIDADE/ QUERO PRECES E NADA MAIS”.
Muito obrigado, Mons. Sadoc! Nossos Parabéns! (Por Artemísio da Costa)