Há algum tempo deparei-me com uma discussão no Facebook a respeito da qualidade, ou melhor, da falta de qualidade de alguns programas e de alguns comunicadores da radiofonia local. A questão foi levantada por um assíduo ouvinte de rádio, daqueles apaixonados pelo sem fio. Daqueles que ziguezagueiam diariamente no dial, em busca do melhor para escutar; Enfim, trata-se de ouvinte qualificadíssimo, homem de personalidade e cultura invejáveis.
Associaram-se à preocupação dele alguns comunicadores e muitos outros ouvintes. Insistentemente, instigaram-me a compartilhar minha avaliação e algumas sugestões visando à melhoria da comunicação pelo rádio.
Mais leitura, mais conhecimento e consciência do que vai falar, mais respeito ao nosso vernáculo, mais reciclagem, mais treinamento, mais responsabilidade nas afirmações, mais respeito ao ouvinte (banimento do palavreado chulo), criteriosa seleção da parte de quem forma radialista através dos cursos profissionalizantes e mais vigilância das direções e do sindicato da categoria a respeito do que irá ao ar, bem como quando à capacidade e à idoneidade dos que irão empunhar um microfone. Essas foram algumas das ideias e sugestões com que pude contribuir naquele debate.
Além dessas medidas, peço permissão para acrescentar mais duas coisinhas: humildade e independência dos profissionais. Subserviência de forma nenhuma, principalmente a (subserviência) política. Infelizmente, o que ocorre é que muitos profissionais do microfone tratam políticos não como empregados do povo, mas como patrões a quem se deve obediência cega e ilimitada. É também lamentável que alguns comunicadores ainda acham que ter um microfone na mão garante status de todo-poderoso, fazendo arrotar uma falsa valentia não para argumentar, mas para afrontar, para tentar intimidar e ganhar no grito. Ledo engano, pois a verdadeira coragem implica em combater usando a educação e do poder de persuasão, embasado no conhecimento e na imparcialidade.
Como radialista, considero imprescindível que cada um (de nós) seja capaz de reconhecer as falhas, ter humildade para aceitar e agradecer avaliações sinceras, para assumir erros e para pedir ajuda a fim de melhorar. Trata-se de uma virtude extremamente essencial não apenas ao comunicador, mas a todo ser humano.
Esse modo de visualizar a questão do rádio de hoje chega a confundir colegas menos esclarecidos ou de baixa taxa de humildade. Tacharam–me até de jogar do lado contrário, ou seja, ser contra a categoria. Discordo frontalmente quando ouço companheiro dizer: estando o radialista certo ou errado estou do lado dele. Para o bem de todos, meu senso de imparcialidade não permite curvar-me a esta terrível incoerência, a este corporativismo irresponsável
Por falar nosso, relembro que semanalmente eu mantinha nesta Coluna o tópico “PÉROLAS DO RÁDIO”, que, a pedidos, retorna já hoje (leia abaixo). Pois bem, aqui e acolá eu esbarrava com alguns desses “pobres necessitados” de mais humildade. Num dos casos tive de parodiar Picasso.
“NÃO! FORAM VOCÊS!”. Assim respondeu o pintor espanhol Pablo Picasso (1881-1973), quando visitado e indagado por oficiais nazistas em 1940, a respeito da fotografia do quadro Guernica encontrada em seu apartamento em Paris. A obra mostra, na visão do artista, a situação em que ficou a cidade de Guernica, após bombardeio pelos aviões da Luftwaffe de Adolf Hitler.
Perguntaram, então, os militares: “FOI VOCÊ QUE FEZ ISSO?” De forma taxativa e sarcasticamente disse Picasso: “NÃO! FORAM VOCÊS!”. Coisa de gênio.
Mesmo em menor número do que o dos cumprimentos e agradecimentos de companheiros, ouvintes e leitores, também tomo conhecimento da insatisfação de alguns, geralmente são autores das autênticas “obras de arte sonoras”, que aqui se transformam nas Pérolas do Rádio. Eu soube, até, que alguns chegavam a fazer beicinho e se melindram bastante.
Pois não é que dois deles chegaram a mim e perguntaram: “FOI VOCÊ QUE FEZ ISSO?”, referindo-se ao tópico da Coluna.
A resposta, idêntica à de Picasso, estava na ponta da língua: “NÃO! FORAM VOCÊS!”. Mas meus amiguinhos não entenderam. Enfim, quem comete o erro ou deslizes?
Desejo que os colegas saibam que só quero ajudar. E ser ajudado. E daqui vai um recado àqueles que usaram o Facebook para tentar melhorar nossa categoria: que continuem! Isso faz bem a nós, tanto como homens/mulheres e como profissionais.
E a nós, profissionais, mais humildade, e mãos à obra para dar mais qualidade à nossa comunicação. Particularmente, e de coração, peço a todos: Quando eu errar, CORRIJAM-ME, por favor. Uma coisa garanto: Serei eternamente grato pela valiosa colaboração.
****
Pérolas do Rádio
Um leitor/ouvinte me repassou o que um radialista lhe sugeriu: “Não perda tempo lendo as Pérolas do Rádio”. Agora, se o colega ler pelo menos essa ficará sabendo que: Perca é verbo; perda (prejuízo) é substantivo. É direito do companheiro não gostar das Pérolas. Também é direito dos ouvintes exigirem que ele não as produza com tanta frequência e que ele deixe de maltratar tanto nosso sofrido Português. E corrigindo seu desabafo, que o amigo diga, doravante, com acerto: “NÃO PERCA TEMPO LENDO AS PÉROLAS DO RÁDIO”.

DIA DO RADIALISTA: NÃO CONFUNDA MAIS
A respeito das datas que homenageiam os profissionais que militam no Rádio pairam muitas dúvidas, inclusive entre radialistas. Eis as principais datas do rádio:
21 DE SETEMBRO – Dia Internacional do Rádio e do Radialista. Trata-se da data em que Orson Welles, em 1930, fez a sua histórica transmissão da adaptação de “A Guerra dos Mundos”, baseado no romance do inglês H.G. Wells, no programa Teatro Mercúrio no Ar, em Londres, Inglaterra.
25 DE SETEMBRO – Dia Nacional da Radiodifusão – Data do nascimento de Edgar Roquette Pinto (1884-1954), fundador da primeira emissora de radiodifusão do Brasil, a Sociedade no Rio de Janeiro.
7 DE NOVEMBRO – Dia oficial do Radialista no Brasil, criada há onze anos. Data natalícia do compositor, músico, político e radialista Ary Barroso (foto). Ary Evangelista de Resende Barroso, nasceu a 7 de novembro de 1903, em Ubá (MG), e faleceu no dia 9 de fevereiro de 1964 (domingo de carnaval), no Rio de Janeiro, RJ.
O Dia Nacional do Radialista, antes comemorado em 21.09, nasceu do projeto do advogado, radialista e deputado João Sandes Junior (PP-GO), que culminou na lei 11.327, de 24.07.2006, conforme Diário oficial da União de 25.07.06.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *