A crônica histórica dá notícia de que a devoção a Nossa Senhora do Patrocínio surgiu na Espanha e no Brasil no século XVI. Nas definições do título encontramos que ele relembra a intercessão da Virgem Maria junto a seu Filho, em favor dos homens, como nas Bodas de Caná. Desde Caná, da Galileia, Maria se demonstra, como se tornou definitivamente, nossa intercessora permanente junto ao Filho.
Em Sobral, a Igreja do Patrocínio foi construída sobre o terreno do mais antigo cemitério da cidade. A pedra fundamental foi abençoada em 1885, pelo Padre Vicente Jorge de Sousa e construída entre 1885 e 1900. Conforme Dom José Tupinambá da Frota, em sua História de Sobral, a iniciativa foi de João Gadelha que queria ver naquela Igreja um filho celebrar sua primeira missa, mas, o rapaz não chegou a se ordenar. Em estilo neoclássico, a Igreja se tornou Paróquia, em 23/09/1916, ainda no primeiro ano de criação da Diocese de Sobral, por Portaria do Bispado. Dom José, na sua prefalada História de Sobral, dá-nos a informação de que a atual imagem de Nossa Senhora do Patrocínio foi oferecida pelo Coronel Alexandre Soares, “a qual substituiu a pequena [imagem] de madeira, que se conserva no Museu Diocesano, e era venerada no antigo nicho”.
Em julho passado, o Pe. Agnaldo Timóteo da Silveira, chanceler da Cúria Diocesana de Sobral e pároco da Paróquia do Patrocínio, contactou-nos e comentou sobre a possibilidade de localizarmos a imagem no acervo do Museu e mais ainda, levá-la a uma visita à sua antiga morada. Primeiro, nos empenhamos em localizar e, pelos apontamentos de tombo e de antigo catálogo, chegamos à imagem de Nossa Senhora e o Menino, escultura de madeira prolicromada, 25cm, com furo de coroa na cabeça e o menino separado, mas, presente na imagem (grande dádiva, pois, em regra geral, o menino é colocado a parte). O número de catálogo é 097, o número contido abaixo da imagem é 3317 e todos levam às mesmas referências citadas. Encontramos, portanto, a primeira imagem da Igreja do Patrocínio. Ouvido o Sr. Bispo Diocesano, Dom Vasconcelos, que autorizou, conduzirei a imagem à Paróquia do Patrocínio neste sábado, dia 17, para a última novena. Conforme anúncio feito pela Paróquia, será momento único e creio que será mesmo.
É interessante lembrar que uma imagem artisticamente feita passa por um processo de sacralização quando vai servir de devoção em uma residência, igreja, repartição, enfim, no local que se volte à oração. Sabemos que nós não prestamos culto a imagens, mas, as veneramos e respeitamos, pela sacralidade que a envolve, incluindo a bênção ministrada por um sacerdote. Até os anos 1920, esta pequena imagem serviu de devoção àquela comunidade e graças à atitude do nosso primeiro Bispo, foi preservada no Museu. Fosse n’outro local, dificilmente ainda existiria. Quando imagens e peças sacras passam a integrar o acervo de um museu, elas perdem a sacralidade e voltam a ser arte, pois, não mais se lhes prestarão veneração. Neste caso, a imagem enquanto estiver no Patrocínio, receberá sacralidade e ao voltar ao Museu, se constituirá peça do acervo, mas, se constituindo referência para o povo daquela Paróquia que poderá visitá-la, sempre que quiser, no Museu Diocesano Dom José. É o que podemos chamar de Museu vivo.

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