“Nunca afastes de algum pobre o teu olhar”
A Igreja celebra, neste domingo (19), o VII Dia Mundial dos Pobres, dia instituído em 2017, pelo Papa Francisco, a ser celebrado no 33º Domingo do Tempo Comum. Este ano, o tema será “Nunca afastes de algum pobre o teu olhar” (Tb 4,7). O tema faz alusão a um texto pouco conhecido do Antigo Testamento, no qual Tobite despede-se de seu filho Tobias, deixando-lhe seu testamento espiritual, dentro do qual está a indicação de que o filho nunca desvie o rosto de nenhum pobre que encontrar ao longo de seu caminho.
Mais uma vez, o Papa Francisco toca neste tema tão caro à Igreja, enquanto continuadora da missão de Jesus: a opção preferencial pelos pobres. Bem sabemos que todos os dias são dias do pobre e que nunca podemos nos furtar de ajudá-los a superar sua condição. Porém, quando se institui um dia para pensar essa realidade, propõe-se que haja reflexões e atitudes mais profundas que ajudem o mundo a superar esse pecado de injustiça que clama aos céus.
A pobreza não é algo natural e, nem muito menos, uma realidade querida por Deus. Se existem pobres no mundo é porque alguém os tornou pobres. Não é uma lei da natureza, mas algo causado por atitudes injustas e iníquas do ser humano. Contornar essa realidade é algo que ultrapassa a ajuda, muitas vezes apressada, de algumas moedinhas que se oferece a um pobre.
Segundo o Papa Francisco, em sua mensagem para o Dia Mundial dos Pobres deste ano, interessar-se pelos pobres é uma atitude que “pede para restabelecer as justas relações interpessoais que foram afetadas pela pobreza”.
Além disso, não se pode abordar esse assunto e ficar apenas nas estatísticas e nos números. O papa nos fala que “os pobres são pessoas, têm rosto, uma história, coração e alma. São irmãos e irmãs com os seus valores e defeitos, como todos, e é importante estabelecer uma relação pessoal com cada um deles”. É uma questão de justiça que nos obriga a sermos concretos em nosso agir com e pelos pobres.
Francisco ainda denuncia as novas formas de pobreza do mundo atual, que vêm se juntar às antigas: “penso de modo particular nas populações que vivem em cenários de guerra, especialmente nas crianças privadas de um presente sereno e de um futuro digno. Ninguém poderá jamais habituar-se a esta situação”.
Esta celebração do Dia Mundial dos Pobres também vem de encontro a certas mentalidades “antipobres” que têm se difundido. Fala-se em aporofobia, que é a aversão, medo e desprezo a pessoas pobres e desfavorecidas financeiramente. Muitos maltratam, desrespeitam e humilham o seu semelhante, pelo simples fato de serem pobres. Um flagelo social e humano, que rouba a dignidade de uma parcela considerável da população.
A Eucaristia que celebramos compromete-nos com o próximo que padece. Muito nos ilumina uma reflexão que, certa vez, Frei Raniero Cantalamessa fez a Cúria Romana: “Os pobres são os pés descalços que Cristo ainda mantém nesta terra. (…) É claro que não se tem o mesmo tipo de presença de Cristo que se tem na Eucaristia e nos outros sacramentos, mas é uma presença esta, verdadeira, real. Ele instituiu este sinal, assim como instituiu a Eucaristia”.
“Tudo o que fizerdes a um destes meus irmãos pequeninos, a mim o fazeis” (Mt 25, 40). A fé ensina-nos que todo pobre é filho de Deus e que, nele ou nela, está presente Cristo. Não se pode garantir a dignidade da pessoa humana onde há injustiça social. Essa é a inspiração profética deste Dia Mundial dos Pobres que nos convida a nunca desviar o olhar de nenhum pobre. Negá-los é negar a causa de Cristo, mesmo quando se tem o seu nome nos lábios e se professa a fé Nele!