O Centenário do Jornal “O Nordeste”, a comunicação Católica em terras alencarinas
A proposta desta jornada Teológica transcende ao próprio tema. A ideia inicial é de homenagear o centenário do extinto jornal “O Nordeste”, cuja primeira edição circulou no dia 29 de junho de 1922. Após ouvirmos nosso douto e reverendo amigo Mons. João Jorge, Vigário Geral de nossa Arquidiocese e meu pároco de afeto, pois, é em sua paróquia que participo dos atos litúrgicos em Fortaleza, desde quando ainda era pároco o Padre Joaquim Dourado; o meu querido Prof. Dr. Filomeno de Morais e o Prof. Vicente Madeira, resta pouco a falar, pois, certamente queremos ouvir o Governador Lúcio Alcântara que viu o jornal O Nordeste circulando. Os exemplares que li d’O Nordeste foram peças raras, arquivadas em hemerotecas.
Para iniciar essa conversa sou tentado a citar uma história que ouvi desde menino. Consta que em 1927, o jovem seminarista Helder Pessoa Câmara foi enviado pelo Vigário Geral de Fortaleza ao interior do Ceará para conseguir assinaturas para o jornal da Diocese “O Nordeste”. Em Juazeiro ele foi recebido pelo Padre Cícero, ficando muito impressionado com a forma como este tratava com o povo que o procurava e, principalmente, não tendo logrado êxito na venda de assinaturas, o Padre Cícero saiu em seu socorro fazendo-lhe um pedido de ajuda e este lhe disse: “Meu amiguinho, eu tenho razão para ter mágoa do jornal O Nordeste, jornal da minha Igreja em Fortaleza, mas, não guardo mágoa, vou assinar seu jornal e pode levar o recibo dizendo que eu assinei o jornal que as pessoas assinarão”. Quase toda a cidade assinou o jornal O Nordeste, aliás, não só Juazeiro, mas, toda a região do Cariri, já sede de Diocese.
O Nordeste é conhecido e reconhecido como jornal da Arquidiocese de Fortaleza, no entanto, não figura em sua capa como órgão oficial da Igreja Católica, mas, é inegável que a iniciativa para fundar o jornal o Nordeste partiu do arcebispo Dom Manuel da Silva Gomes, terceiro bispo do Ceará e primeiro arcebispo de Fortaleza, com o objetivo que permeava a Igreja Católica, o de reafirmar e fortalecer o catolicismo dentro da sociedade, no caso, a cearense. Além de Dom Manuel e Mons. Tabosa Braga, três grandes colaboradores, católicos praticantes, naquele jornal eram: Andrade Furtado, Luís Sucupira (Comendador da Ordem de São Gregório Magno) e José Valdivino.
Sabe-se que no Ceará já teriam existidos outros jornais católicos, como o Tribuna Católica, A Fortaleza e o Correio do Ceará, mas, nenhum adquiriu a repercussão que o jornal O Nordeste teve dentro da sociedade católica. Aqui, abro um parêntese para lembrar que a comunicação sempre foi uma das metas do catolicismo, do cristianismo, mais amplamente falando.
A comunicação, a boa-comunicação, sempre foi buscada pela Igreja. Jesus foi um grande comunicador. Paulo, o antigo Saulo de Tarso, Lucas, o médico amado, e muitos outros naqueles primeiros tempos do cristianismo levavam a mensagem de Jesus ao mundo por meio de cartas, epístolas, hoje incrustadas na Sagrada Escritura no Novo Testamento.
Morando nas terras de Dom José Tupinambá da Frota desde 2004 e tendo nascido na quase região metropolitana de Sobral, por justiça, cito que em 31 de março de 1918, um domingo de Páscoa, graças a Dom José Tupinambá da Frota, símbolo maior da sobralidade, primeiro bispo de Sobral, surgia um jornal semanal da Diocese de Sobral, então, com menos de 3 anos de instituição. Na Sobral, literalmente de Dom José, circulava o primeiro número do Correio da Semana, tendo como redator o Padre Leopoldo Fernandes, primeiro Cura da Sé Sobralense, que 4 anos depois, há cem anos (1922), foi um dos fundadores e primeiro presidente da Academia Sobralense de Letras que teria pensado o jornal junto com o Padre José de Lima, primeiro Vigário da Paróquia do Patrocínio.
Aqui permitam-me um parênteses. Na edição do Correio da Semana de sábado, 18 de maio de 1918, era noticiado que Dom José Tupinambá daA Frota instituiu o dia da Boa Imprensa. O documento, com caráter provisão, iniciava-se da seguinte forma: “Dom José Tupynambá da Frota, por mercê de Deus e da Santa Sé Apostólica, Bispo de Sobral. Aos muito reverendos Párocos, Sacerdotes e Fiéis desta Diocese, saúde, paz e bênção em N. S. Acolhendo de bom grado o pedido da ilustre Diretora do ‘Centro da Boa Imprensa’, com sede no Rio de Janeiro, para que instituíssemos nesta querida Diocese, o Dia da Boa Imprensa, resolvemos determinar-lhe o dia 2 de fevereiro, a exemplo do que fizeram o Eminentíssimo Senhor Cardeal Arcoverde e quase todo o venerando Episcopado Brasileiro. (…) Convençam-se todos de que a Igreja Católica é a mira para onde convergem as fúrias e os ódios dos inimigos de Deus e de seu Cristo; nos arraiais adversos não se escolhem para a obra imortal do Redentor, cuja santidade e força educadora não se empanam com os vícios e defeitos dos homens, em cujas mãos não é de admirar que se deturpem as mais nobres e sublimes Instituições. (…) Mandamos sejam recolhidos anualmente no dia acima determinado os donativos pelos R. R. Párocos a favor do ‘Centro da Boa Imprensa’ sejam remetidos à Secretaria do Bispado, a fim de lhes darmos os respectivos destinos. Sobral, 14 de maio de 1918. + José, Bispo Diocesano”. São 104 anos de circulação ininterrupta deste jornal Católico que resistiu ao tempo, no Ceará, em Sobral.
O jornal “O Nordeste”, apesar de ter muita semelhança de ideias e ideais com o “Correio da Semana”, de ter noticiado a conclusão da Primeira Guerra e a Segunda Guerra, ter visto a sociedade começar a mudar, os primeiros colabores e o fundador do jornal, Dom Manoel, falecerem; não resistiu ao tempo. Mas, fez história, deixou legado e por isso estamos aqui para aplaudir o seu Centenário!
Prof. Dr. José Luís Lira – Pronunciado na quarta-feira, 09/11/ 2022, durante a Jornada Teológica do Curso de Teologia da Faculdade Católica do Ceará. Colaboraram com as discussões, ainda, os Conferencistas: Mons. João Jorge – Vigário Geral da Arquidiocese; Prof. Dr. José Filomeno Moraes Filho (UNIFOR/UECE) e Dr. Lúcio Alcântara (da Academia Cearense de Letras).