por Lucas Monteiro Barbosa | seminaristalucas18@gmail.com

A história não é cruel, tão pouco injusta ou parcial, pois, independentemente de opiniões, a história trata de fatos, e “contra fatos não há argumentos”. O que se fez no passado de extraordinário está marcado na história, é uma verdade que, como tal, é imutável. Todavia, muitos personagens escritos na história e tendo suas marcas nos dias hodiernos, foram quase que absolutamente esquecidos pela grande massa popular, sendo lembrados por uma porção limitada de historiadores ou curiosos. Isto não é culpa da história. Na verdade, no alvorecer do século XXI, com as novas tendências e os fúteis ditames encabeçados, sobretudo, pela juventude, todos os grandes nomes do passado estão fortemente sujeitos ao esquecimento, mesmo os de importância mundial, como Beethoven ou Elvis. No Nordeste, se Luiz Gonzaga é, inquestionavelmente, o Rei do Baião, a história nos faz compreender a alcunha de Doutor do Baião dada a Humberto Teixeira, mas, infelizmente, este ainda é pouco lembrado, se comparado ao que merecia por sua inenarrável contribuição à música nordestina.
Nascido a 05 de janeiro de 1915, em Iguatu – CE, Humberto Cavalcante Teixeira fora um extraordinário compositor e advogado. Mudou-se para a capital fluminense aos 15 anos de idade. Atuando como compositor, tinha o profundo desejo de propalar a música nordestina que conhecia em sua terra natal, traduzindo toda a cultura sertaneja que era desconhecida no restante do Brasil. Em agosto de 1945, por intermédio de seu cunhado, Lauro Maia, Humberto conhecera o sanfoneiro Luiz Gonzaga. O sanfoneiro, até então desconhecido, já havia gravado Dança, Mariquinha, sua primeira gravação, também almejando propalar o estilo nordestino, mas não obtivera tanto sucesso. Foi então que Luiz apresentou para Humberto parte de uma letra ainda inacabada, mas com toda uma melodia típica do sertão e gostosa de dançar. Essa canção foi No meu pé de serra gravada em 1945.
O sucesso da dupla foi enorme. Luiz Gonzaga precisava de um compositor que pusesse letra em suas melodias, e Humberto Teixeira precisava de um bom músico para pôr ritmo em suas composições. Em fim, o Brasil conhecia o Nordeste através da música típica nordestina. Uma região muito mais além que o banditismo, a aridez, que a falta de lei e erudição, como os jornais muitas vezes deixavam a entender. Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira mostraram toda a realidade nordestina nos vários sucessos que a dupla gravou, alcançando a plenitude da fama com a gravação de Asa branca no ano de 1947.
Além de Luiz Gonzaga, que lhe alcunhou de Doutor do Baião, Humberto Teixeira ainda compôs para vários outros ícones da música brasileira, como a inesquecível Dalva de Oliveira. Como deputado federal representando o Ceará por três vezes consecutivas, o Doutor do Baião fora responsável, em 1958, por uma lei que levava seu nome, cuja finalidade era divulgar a música brasileira no estrangeiro, valorizando a arte do país a nível mundial.
O Doutor do Baião morreu em 03 de outubro de 1979, aos 64 anos, na cidade de São Conrado – RJ. Em sua homenagem, Luiz Gonzaga dedicou-lhe uma canção intitulada O doutor do Baião, nela, o Rei do baião descreve a saudade que o amigo faz, não somente em sua vida, mas em toda música nordestina. De fato, Humberto Teixeira deixou, inegavelmente, sua marca na música brasileira, e ajudou a promover a cultura do Nordeste em todo mundo, feito que nunca se apaga, pois onde houver um nordestino que ame sua terra, haverá a apreciação da obra de Humberto Teixeira.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *