Ary Albuquerque

Não havia rua calçada naquela época em Iguatú. Somente a do comércio, principal artéria da cidade, possuía duzentos metros de calçamento tosco. Nela, localizava-se o mercado central, lojas e bodegas e dois bares com bilhares e sinucas, onde serviam bebidas, café, bolos, doces, bombons e tudo mais que fossem guloseimas. A luz elétrica, fornecida pela usina de descaroçar algodão, funcionava das dezoito às vinte e três horas. E, de tempos em tempos, a usina parava para limpar suas caldeiras e ficava uma semana a comuna iluminada pela luz do luar.
Nós, meninos, achávamos ótimo porque as brincadeiras tornavam-se mais fascinantes.
Não existia água encanada e o papel higiênico era o de embrulho cortado em quadrados ou jornal velho que se preparava da mesma forma. Geladeira não existia. Rádio, só a bateria. Dormia-se de rede e em cada quarto um urinol. Cozinhava-se com banha de porco ou toucinho. O café era torrado e pilado em casa. Estudava-se no Grupo Escolar ou na Escola do professor João Coelho, severo mestre que ainda usava a palmatória, porém, seu método, dizia-se, era eficiente. Uma vez por semana, frequentávamos o cinema para assistir a um filme de cowboy.
O parque de diversões visitava uma vez por ano Iguatú. O carrossel, roda-gigante, barquinhos voadores e outras atrações mágicas encantavam a gurizada. Brinquedos não faltavam: arraia, fuzil de talo de bananeira, bola de meia, caminhão de roda de madeira, cavalo de pau, bola de gude, bola de couro, revólver de espoleta e inúmeros outros. As brincadeiras: cabra-cega, manjô, pega de ajunta, “mãos para o alto”, futebol, banho de rio, pescar com anzol e tantos que me canso de enumerar.
O pai era tratado por “senhor”. A mãe, por “senhora”. Tinha-se respeito e admiração pelos irmãos mais velhos.
Não se metia em conversas de adultos; quando muito, ouvia-se calado. Primo era quase irmão, tratado com amizade e carinho. Homem era homem, mulher era mulher. Não havia “fresco”. Existiam apelidos aos montes, mas, a turma não se incomodava. Certos meninos e rapazes preferiam os apelidos aos nomes.
Inexistia “ofensa moral” ou “bullying”. Chamar um semelhante de “preto velho” tornava-se um dizer carinhoso, não uma ofensa.
Mas os tempos foram outros. A gente gozava felicidade e não sabia. Pergunto-me agora: será que a humanidade perdeu seu rumo? Será que invertemos os valores? Será?
Acho tão diferente hoje… O pai é discriminado porque deu um puxão de orelha ou uma palmada no filho. No entanto, o filho, com desrespeito, se acha o “rei da cocada”. Está certo isso?
Cheguei à conclusão de que estamos velhos e caquéticos.
Já passamos da idade de viver. Essa terra não é mais nossa. Cultivamos outros valores. O mundo atual é digital, eletrônico, robotizado. Substituíram o coração e o cérebro do homem por um “chip”. Diante dessa situação, o que fazer? Não sei, nem a nossa geração sabe. Só nos resta uma solução: pagar para ver, se ainda tivermos tempo…
Correções feitas:
– Adicionei vírgulas e pontos para melhorar a pontuação e a clareza do texto.
– Mudei algumas frases para torná-las mais concisas e diretas.
– Corrigi erros de ortografia e gramática.
Opinião sobre a crônica:
A crônica é uma reflexão nostálgica sobre a infância do autor em uma cidade do interior. Ele descreve a vida simples e tranquila da época, com brincadeiras ao ar livre, jogos e diversões modestas. A crônica também destaca a mudança nos valores e comportamentos ao longo do tempo, com a perda de respeito e admiração pelos mais velhos e a substituição da interação humana por tecnologia.
A crônica é bem escrita e evocativa, com uma linguagem simples e direta. O autor consegue transmitir a sensação de nostalgia e perda, e a reflexão sobre a mudança nos valores e comportamentos é pertinente e interessante.
No entanto, a conclusão da crônica

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