Dom José Luiz Gomes Vasconcelos, bispo diocesano de Sobral

Jesus formou seus discípulos através de seus Sermões, fazendo-os testemunhar milagres, conversando com o pequeno grupo, contou-lhes inúmeras Parábolas, enviou-os em missão, respondeu suas perguntas, fez gestos que se tornaram referência para a vida da Igreja, como o Lava-pés, instituiu a Eucaristia, deixou-lhes e a nós o mandamento novo do Amor. Sobre a Pedra que escolheu, Simão Pedro, malgrado todos os limites daquele homem, edificou sua Igreja, contra a qual as forças do inferno não podem prevalecer.
Depois de três anúncios de sua Paixão, Morte e Ressurreição, vendo que os discípulos precisavam crescer na compreensão de seu mistério, faz com eles uma Escola Itinerante, descendo da Galileia, pelo percurso do Jordão, para alcançar a subida para Jerusalém, quando se desencadearam os acontecimentos finais, que marcaram o novo começo. Olhando à distância, temos a impressão de que muitas interrogações povoavam a mente dos discípulos, colocando-os muitas vezes em crise. Passando por Jericó, imaginamos seus amigos quase engolindo Jesus com os olhos, tentando entender mais, quando Jesus acolhe um homem de nome Bartimeu, morador de Jericó, cego e mendigo (Mc 10,46-52). Parece-me conhecer justamente o modelo do discípulo, justamente de onde não se poderia esperar muito!
Jesus passa por Jericó como um Missionário itinerante. Sabemos que na mesma cidade encontrou Zaqueu, o publicano que o acolheu e viu a salvação entrar em sua casa e em sua vida (Lc 19,1-10). É bom saber que ele tem um olhar perspicaz e um coração acolhedor para pobres e ricos, pequenos e grandes. Qualquer pessoa que se dispuser ao discipulado de Jesus saiba escancarar seu ângulo de visão e também seu coração, pois quando Jesus estava saindo da cidade, acompanhavam-no os discípulos e uma grande multidão. E até hoje no meio da multidão estão as massas e as pessoas, com seus clamores pela salvação, muitas vezes sem saber dar nomes aos seus anseios, mas Deus nos fez a todos para encontrá-lo! Cada discípulo de Jesus, nós todos, somos chamados do meio da multidão que busca o sentido da vida, só possível de encontrar naquele que é Caminho, Verdade e Vida.
À beira do caminho, encontrava-se Bartimeu, nosso modelo de discípulo! Mendigo, Cego e morador de Jericó! Muita coisa ruim sobre uma pessoa, pela mendicância, a cegueira que muitos consideravam um castigo e morador de uma cidade cuja fama era a pior possível. O mendigo cego, Bartimeu, filho de Timeu, estava sentado à beira do caminho, quem sabe, de cócoras, esperando as ondas de um destino terrível. Vindo com este fato até nós, é bom saber que não temos desculpas, pois todos, nas multidões dos séculos, sempre terão lugar e futuro no encontro com Jesus Cristo. Se queremos ser discípulos, do fundo do poço de nossa existência, podemos levantar a vista!
De fato, ouvindo que era Jesus Nazareno, começou a gritar: “Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim”. Discípulo que se preze há de ter coragem de pedir, suplicar, gritar! Muitos, a turma do “deixa disso” o repreendiam, para que se calasse. Mas ele gritava ainda mais alto: “Filho de Davi, tem compaixão de mim”. Chamar Jesus de Filho de Davi era afirmar, numa fé que brotava transbordante, que aquele Senhor era a realização das promessas. O cego não era tolo! Já havia escutado as profecias, e tira lá do fundo de sua angústia, o grito pela Salvação!
E aqui, a certeza de que Jesus quer dar um trato, uma atenção especial ao cego e a cada um de nós, conhecidos pelo nome e pela história pessoal. Ele o afasta do meio da multidão Jesus parou e disse: “Chamai-o!” Eles o chamaram, dizendo: “Coragem, levanta-te! Ele te chama!”. Quando fomos batizados, a pronúncia de nosso nome foi a proclamação de que somos tirados do meio da multidão, para sermos tratados como Filhos de Deus, homens novos como outro Cristo, na força do Espírito Santo. Deus não tem medo de nossos gritos, acolhe nossas esperanças, vai ao encontro de nossas origens tantas vezes carregadas de traumas, olha para nossa pobreza material e espiritual, não nos julga nem condena por passos errados que tenhamos dado.
Entretanto, como o cego que jogou fora o manto, deu um pulo e se aproximou de Jesus, aqui entra em jogo o mistério de nossa liberdade e a prontidão para dar os pulos e os saltos na fé, pois Deus não nos oferece um guia completo de tudo o que pode acontecer! Onde quer que se encontrem as pessoas que têm acesso a esta reflexão, é necessário aproximar-se do Senhor, arriscando tudo nele. Começa com o coração que pulsa esperança e alegria. Com tempo, todas as explicações chegarão à nossa cabeça!
Neste mistério de liberdade, Jesus perguntou: “Que queres que eu te faça?” O cego respondeu: Rabuni, que eu veja”. De fato, Deus quer saber o que procuramos, o que desejamos, nossos anseios mais profundos. Querer ver era a primeira necessidade de Bartimeu, mas vemos que ele recebeu mais, recebeu o tudo que nem poderia imaginar: “Jesus disse: ‘Vai, tua fé te salvou’”. No mesmo instante, ele recuperou a vista e foi seguindo Jesus pelo caminho. Jesus não é um taumaturgo ou milagreiro à disposição dos pedidos da humanidade. Seria reduzi-lo indevidamente querer apenas milagres, curas ou libertações, segundo nossos desejos. Ele quer dar mais, o tudo da vida divina que oferece transbordante, à disposição de todos os que andam por este mundo de Deus afora, para dar-lhes a vida em abundância.
Este é um caminho de discipulado, abrindo-nos a possibilidade da configuração com Cristo, que vai à profundidade de um dos lugares mais baixos da terra, e posso ser eu mesmo este lugar, para fazer-me discípulo, disposto a subir com ele a Jerusalém.
Dom Alberto Taveira Corrêa  – Arcebispo de Belém do Pará (PA)

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