O recolhimento quaresmal
Iniciamos a Quaresma, no último dia 02, com a celebração da Quarta-Feira de Cinzas, quando a Igreja sempre nos relembra o fato de que “somos pó e ao pó retornaremos”. Essa expressão, que define uma visível realidade da condição humana, no mínimo, deve nos incomodar e nos questionar frente às tentações das glórias e vãs riquezas deste mundo! Somos introduzidos em uma antiga filosofia judaica, segundo a qual tudo neste mundo é efêmero e se acaba em cinzas.
Desse modo, a Quaresma nos insere não em um tempo de severidade religiosa ou de tristeza, mas sim em um tempo de reflexão, revisão de vida, interioridade e intensidade espiritual. Somos, pois, convidados a nos afastar um pouco dos bulícios do mundo e interiorizar-se numa espiritualidade mais forte, capaz de nos preparar para a grande celebração do mistério pascal de Cristo.
Inicia-se um tempo oportuno para intensificar o exercício da própria conversão. Somente quem se dispõe a trilhar o caminho quaresmal com seriedade, vivendo toda a sua riqueza litúrgica e espiritual é capaz de perceber os frutos da graça de Deus em sua vida. É preciso, pois, revestir-se das “armas da penitência cristã”: a oração, o jejum e a prática da caridade.
Muitas vezes, corremos o risco de viver uma espiritualidade superficial, baseada em sentimentalismos e nos esquecemos do caráter sacrifical da vivência cristã. A penitência, o sacrifício e as renúncias são imprescindíveis para uma verdadeira conversão, uma concreta mudança de vida.
Nesse tempo da Quaresma, a própria ambientação de nossas igrejas, que se revestem de roxo, nos relembra a sobriedade e a austeridade, profundamente enraizadas em um aspecto penitencial. Passamos a meditar um pouco mais sobre os sofrimentos, as dores e a cruz de Cristo, caminhos necessários para a Ressurreição.
Portanto, os exercícios espirituais da Quaresma nos ajudam a lutar contra os apegos do mundo, as vaidades, o orgulho e tantos males humanos que afastam o mundo de Deus. É preciso avançar para as águas mais profundas do nosso ser e mudar o que precisa ser mudado, afinal, o tempo passa, tudo se transforma em cinzas, só Deus permanece.