Onde a política e a religião se encontram

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Nesses tempos tão confusos de campanha de segundo turno, percebe-se com tristeza os rumos que a política brasileira vem tomando, especialmente no que se refere à sua relação com a religião. Tal relação é sadia quando ambas convergem para os mesmos objetivos de justiça social, promoção do bem comum, defesa dos direitos humanos, dos bens naturais, distribuição de renda, valorização da dignidade do ser humano.
São muitos os aspectos que unem a política e a religião. O problema é quando essa relação é prejudicada com discursos intolerantes e extremistas. Discursos que demonizam quem pensa diferente e apregoam uma moral rígida e excludente. Erroneamente, a fé cristã é abordada para defender a família, a moral, a segurança, os bons costumes.
Além disso, certos discursos que se apropriam do nome de Deus são corregados de um processo de instrumentalização da religião para legitimar posturas políticas. O discurso de um Deus acima de tudo e de todos, um patriotismo exagerado, a utilização de versículos bíblicos, totalmente deslocados de uma correta interpretação, acompanham discursos de ódio e preconceito nas mídias sociais.
Esse é mais um dos tantos aspectos preocupantes em nosso país. Chegou-se ao ponto de colocar Deus e as Sagradas Escrituras à serviço do discurso eleitoral. E até mesmo momentos importantes da religiosidade do povo brasileiro são utilizados em prol de campanhas eleitorais.
Isso mostra que temos muitos desafios a serem enfrentados em nosso país: a fome, a miséria, a mentira, o preconceito, a opressão, a concentração de renda, a violência, a insensibilidade, a exclusão. São problemas latentes no coração da sociedade brasileira. A mensagem cristã e os discursos sobre Deus estão sendo acompanhados do ódio, e da difusão da necessidade de armar a população e militarizar as escolas.
A mensagem cristã não pode ser encaixotada e posta à serviço de ideologias políticas e propagandas eleitorais. Essa não é a relação sadia entre política e religião. São feitas afirmações e declarações distanciadas, do Deus da Aliança, da vida plena, do amor, da concórdia e do diálogo.
Temos nas mãos a oportunidade de mudar situações conflituosas em nosso país. Precisamos, pois, exercer nosso direito cidadão em favor do bem-estar social. Vale lembrar que o voto adquire um sentido cristão quando não se pensa somente em si, mas quando se vota pensando na sociedade como um todo, especialmente nos mais pobres, necessitados e excluídos de seus direitos.

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