Padre Cícero e a nova evangelização
No último dia 20, um acontecimento histórico veio alegrar os corações de milhões de nordestinos: a autorização, por parte da Santa Sé, da abertura do processo de beatificação do Padre Cícero Romão Batista. Exatamente 88 anos e um mês após a morte do sacerdote cearense, vemos um passo importante para o reconhecimento canônico da santidade daquele que desde há muito foi canonizado pelo povo sertanejo.
A vida do “padim Ciço” oferece-nos um sólido testemunho de caridade para com os pobres, bem como de fidelidade e obediência à Igreja. Sua vida santa e ao mesmo tempo conturbada foi e continua sendo um sinal do Reino de Deus, especialmente para o povo necessitado.
Sua atuação como sacerdote e, posteriormente, como político enquadra-se em um contexto de grandes necessidades materiais e espirituais de um povo massacrado pela fome, pela seca, pela pobreza e por tantas injustiças sociais. Naquele tempo, o santo sacerdote transformou Juazeiro do Norte em um oásis de fé, de acolhimento, de caridade, onde todos se sentiam amados pelo querido padrinho Cícero.
De fato, foi seu zelo sacerdotal e testemunho cristão que tranformaram o pequeno povoado na Jerusalém sertaneja, na Terra Santa do Nordeste. Motivado por um sonho, em que Jesus lhe dizia, apontando para uma multidão de pobres: “Tu, Cícero, toma conta deles”, o sacerdote levou à cabo o pedido que lhe havia sido feito em sonho.
E assim exerceu sua missão pastoral, imbuído por um profundo desejo de estender o Reino de Deus pelos sertões. Comprovam tal afirmação os milhões de romeiros que visitam Juazeiro do Norte, mesmo já passados 88 anos de seu falecimento. Mas a verdade é que o Pe. Cícero continua vivo na fé do romeiro e em todo o legado espiritual, social e ecológico que deixou.
A atualidade de seus ensinamentos não deixam sua imagem ser apagada. Seus preceitos ecológicos, por exemplo, são orientações práticas de como cuidar da casa comum, em um tempo em que o Papa Francisco tanto tem insistido na preocupação cristã pelo meio ambiente. Sua opção pelos pobres antecipou em muitos anos as opções da Igreja da América Latina e que, agora com Francisco, tem sido uma urgência da Igreja em todo o mundo.
Assim, podemos perceber o quanto a abertura desse processo de beatificação tem sido uma resposta às atuais exigências da evangelização, antecipadas pelo Padrinho, e reavivadas pela certeza de sua santidade. É, pois, com intensa alegria que acompanhamos um novo horizonte que se abre na grande epopéia da questão religiosa de Juazeiro do Norte e do Padre Cícero.