Ary Albuquerque

HERÓI POR ACASO

Alfredo Albarelli, neto de italiano, comerciante de joias e relógios suíços, possuía a melhor loja do ramo em São Paulo, capital. Sua esposa, Cecília, também Oriundi, formavam um belo casal. Seu filho, Rodolfo, já concluíra o curso superior e gerenciava os negócios do pai. Cecília psicóloga tinha seu consultório no mesmo edifício onde se localizava a loja do marido.
Todo ano suas férias passavam no exterior. Desta vez, escolheram a Itália, assim visitariam Xisto, o tio de Alfredo, que residia em Desenzano, região da Lombardia.
O avião foi direto para Roma. Depois, de dez dias de passeios por várias cidades pegaram um trem com destino a Desenzano para visitar o tio.
No comboio, sentaram-se ao lado de uma figura exótica. Não ligaram. Quando Alfredo puxou conversa com Cecília, o italiano perguntou:
– Brasiliano Le Vancanze?
Laconicamente, Alfredo respondeu, dando a entender que não estava a fim de conversar.
– Sim, somos brasileiros em férias e moramos em São Paulo, acrescentou para evitar outras perguntas. Apesar, da resposta fria de Alfredo o italiano identificou-se como Luca Bosca e disse que desceria na próxima parada.
Instintivamente, Cecília, acompanhava a descida do italiano pela janela do trem. Surpresa e assustada exclamou:
– Olha lá Alfredo a polícia algemando o Luca Bosca! E presta atenção: a nossa bagagem está aberta e nossas roupas todas no chão, inclusive, os nossos euros!
Face ao acontecido Alfredo e Cecilia resolveram descer na próxima parada. Ao se dirigirem ao bagageiro notaram que suas malas eram idênticas, tendo uma pequena diferença no peso. As do italiano pesavam mais.
No apartamento do hotel resolveram abrir as malas do italiano. Ficaram estupefatos! Estavam repletos de pacotes de euros. Contou, exatamente, trezentos mil euros. Que fazer? Em primeiro lugar, Alfredo, reembolsou-se dos seus quinze mil euros e saiu para a loja da cidade para comprar outras malas e recompor os seus pertences. Na volta aguardaram o Jornal televisivo da noite para ver se descobria alguma coisa. Dito e feito. O repórter deu ênfase ao assalto. O Banco Federal tinha sido assaltado por bandidos e o desfalque foi na ordem de vinte milhões de euros. O pior do noticiário era que apontava como coadjuvantes do assalto um casal de brasileiros. Só que o retrato falado não parecia com eles. Mas, em todo caso como eram brasileiros podia passar vexames.
O casal falava italiano fluentemente. Alfredo recomendou a Cecília que dali em diante só falasse a língua nativa e destruíram todos os seus cartões de crédito. As despesas pagariam em euros.
Resolveram, então, irem para a Suíça, de lá voltariam ao Brasil.
Alfredo alugou um carro de luxo, compraram um mapa e saíram de madrugada em direção a cidade de Lugano, cidade da Suíça, fronteira com a Itália. Antes, porém de pegar a estrada principal, num lugar ermo, pararam o veículo, jogaram a mala que acomodavam o dinheiro fora e puseram os euros debaixo do tapete do carro. Ficou imperceptível. Almoçaram em Perugia. De lá direto a Lugano. Chegaram no posto fiscal de fronteiras.
Notaram um cartaz enorme com o retrato falado dos brasileiros, e, entretanto, nem de longe pareciam com eles.
Cecilia sem querer falou alguma coisa em português. Foi o bastante para o guarda, aprofundar a fiscalização. Fizeram eles abrirem as malas, revistaram o carro todo e mantiveram o seguinte diálogo:
– Passaportes de dupla nacionalidade, por que?
– Sou neto de italiano
– Tem algum parente vivo na Itália?
Alfredo enxergando a gravidade e o comprometimento da pergunta foi taxativo:
– Não senhor, todos mortos.
– E por que a viagem a Suíça?
– Tenho um fornecedor em Berna, Senhor
Henry André Chevalier. Telefone 32483484, falou aliviado.
– Aguarde um instante.
Aguardaram vinte minutos. Os minutos mais angustiantes para o casal.
Ao regressar o guarda sorridente pediu desculpas educadamente, e disse:
– O senhor Chevalier pede para entrar em contato com ele, assim que chegar.
Em Lugano escolheu o banco, fez o depósito e entregaram o carro na locadora.
Estiveram em Berna com o senhor Chevalier e voltaram ao Brasil via FRANFURT e decidiram doar os euros a uma instituição de caridade. Escolheriam qual, quando regressassem ao Brasil.
Toda sexta-feira, no final do expediente, Smith, seu advogado, visitava-o para drincar e jogar conversa fora. Foi, exatamente, numa dessas sexta-feira, que Alfredo narrou em detalhes os acontecimentos, e, acrescentou mais, na sua ausência tinham roubado sua Mercedez e depois praticaram vários assaltos, os bandidos incendiaram o carro. Sofreu além do roubo o prejuízo.
Aguardou o parecer de Smith que, falou o seguinte:
– As favas com os preconceitos! Diz um ditado popular: ‘’QUEM ROUBA LADRÃO TEM CEM ANOS DE PERDÃO’’. Faça o ressarcimento de todas as despesas e o saldo você deposita na conta da entidade escolhida. Alfredo fez, exatamente, como seu advogado falou.
E fez mais: Mandou confeccionar uma placa de vinte centímetros, em ouro e pregou no tabelier de sua nova ‘’Mercedes’’. Dizeres da placa. ‘’ESTE CARRO FOI DOADO PELO BANCO FEDERAL ITALIANO.
Os amigos que andavam o seu lado perguntavam a razão do presente. Alfredo ria, gostosamente, fazia um ar de vitória, mas, nunca entrava em detalhes…
E o tio Sixto? O tio Sixto só soube do acontecido quando regressaram ao Brasil num longo telefonema. Mas, prometeram pagar a visita no próximo ano…

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