MONS. SABINO LOYOLA FALA SOBRE FUNDAÇÃO DA RÁDIO EDUCADORA

Em 2021, quando ocorreu a autorização para migrar de AM para FM, a famosa Rádio Educadora do Nordeste experimentou importante avanço diante do gigantesco trabalho de Dom José Luiz Gomes de Vasconcelos, Bispo da Diocese de Sobral e Superintendente da Rádio Educadora do Nordeste/Jornal Correio da Semana, e também graças ao trabalho e dedicação do Padre Lucas do Nascimento Moreira, Diretor desses dois órgãos de comunicação da Igreja Católica, além do empenho de grande número de colaboradores.
Com disso, no dia 21 de março de 2022 saiu do ar a antiga Educadora AM 950, dando lugar à moderna Educadora FM 107,5. Além das melhorias tecnológicas, a nova emissora também promoveu notável melhoria na sua programação, permanecendo fidelíssima à sua precípua missão de evangelizar, educar e oferecer entretenimento sadio.
Por ocasião do 64º aniversário de fundação da atual Educadora 107,5 ocorrido na quarta-feira, 21, republico entrevista histórica do fundador Mons. Sabino Loyola, concedida em 2002 a mim (Artemísio da Costa), àquela época Redator do Jornal Correio da Semana e apresentador da Emissora. O religioso destacou pontos importantes da luta que empreendeu para fazer nascer sua querida filha, Rádio Educadora do Nordeste. Acompanhe.
Artemísio da Costa (AC): Quando e como começou a ideia de fundar a Rádio Educadora do Nordeste?
Monsenhor Sabino (MS): No início de 1955, num curso em Sorocaba (SP), eu e mais quatorze sacerdotes recebemos muitas instruções sobre educação quanto a problemas agrários. De lá fui a São Paulo e tomei conhecimento de que o Padre José Salsedo, na Colômbia, havia introduzido a educação através de pequenos rádios, educação agrícola para camponeses. Ao passar pelo Rio de Janeiro solicitei um canal, dando-lhe um nome, que depois reformei para Rádio Educadora do Nordeste.
AC: O senhor enfrentou muitas dificuldades?
MS: Naqueles tempos criavam tanta dificuldade que para serem superadas tive de voltar ao Rio várias vezes. Pedi também o auxílio do Mons. José Aloísio Pinto no sentido de conseguir a aprovação do canal e a outras pessoas como Pe. Joaquim Almeida. Apeguei-me também ao Ministro do Trabalho, Parsifal Barroso, mas este se descuidou e foi a mulher dele quem me ajudou bastante. A dona Olga Barroso, mulher do Parsifal, foi quem insistiu e um dia recebi um telegrama citando que o canal ia sair, mas que dependia da minha ida ao Rio de Janeiro-RJ.
Na época eu estava como vigário de São Benedito. Tive de tomar um transporte, mesmo pensando que era um golpe do Pe. Palhano contra mim. Vim a Sobral para preparar toda a papelada que era necessário. Comprei quatro pneus para o Jeep e larguei-me para Fortaleza, a fim de pegar um voo para o Rio. Chegando lá, fui diretamente para o Ministério do Trabalho. Não foi possível falar com o Parsifal Barroso, mas falei com alguém designado por ele, um substituto seu, que agilizou toda a documentação para que eu assinasse o contrato, responsabilizando-me em assumir a direção da Rádio Educadora do Nordeste.
AC: O senhor contou com a colaboração de mais alguém para atingir esse objetivo?
MS: Contei com o José Patriarca de Lima e com o Mons. Aloísio, mas o Mons. Aloísio não tinha entusiasmo pela efetivação da Rádio Educadora do Nordeste. Um dia ele me perguntou: “Você tem dinheiro?” Respondi-lhe: Tenho não. Ele continuou: “Então deixe disso, deixe de mão. Você não pode fazer isso”. Quanto mais criavam dificuldades, mais eu me sentia estimulado a continuar lutando para atingir esse ideal. E continuei.
Estive em Fortaleza, contatei com uma pessoa que era diretor de Rádio, apresentei as despesas e ele disse: “O Senhor está muito enganado. O Senhor não faz uma Rádio com esse dinheiro. É preciso mais dinheiro, muito mais.” Tive uma onda de desânimo, mas resolvi: Eu vou fazer, eu tenho de fazer.
E as dificuldades foram desaparecendo. Uma das maiores era a compra da antena e da mesa de som. Mas sucedeu que a mesa de som e o transmissor viriam por um caminhão porque era muito caro trazer de avião. Chegaram em Sobral todas desfeitas, desmanteladas. Mas a pessoa que vendeu disse que não havia conserto para elas. Pediu-me que mandasse de volta e disse que mandaria novos equipamentos. Depois recebi um transmissor em perfeito estado sem gastar coisa alguma, só que desta vez veio por via aérea.
Outro incidente foi com a torre. Foi despachada em São Paulo e não chegava em Sobral. Depois tomei conhecimento dela em Recife, jogada, com cargas sobre ela, e que depois desapareceu. Passamos vários telegramas, comunicando que já havia sido remetida, e só dois ou três meses depois recebemos.
Prédio (sobrado) onde a Rádio Educadora iniciou suas atividades em 1959
AC: Na fase inicial, algum político quis interferir na Emissora?
MS: No dia da inauguração eu vim de São Benedito para Sobral. Vários políticos participaram da solenidade, inclusive Parsifal Barroso e Chico Monte, que nos ofereceram um almoço. Dom José me chamou e disse: “Essa Rádio, Sabino, não vai dar certo porque está muito influenciada pela política”. Eu respondi: Senhor Bispo, eu garanto que eles não influenciarão lá dentro em nada. E assim foi. Na verdade, não influenciaram em nada.
AC: E Dom José Tupinambá da Frota foi importante na execução desse projeto? Ele ajudou em alguma coisa?
MS: Lamentavelmente, não! Porque ele estava engajado na aquisição de uma Rádio para o Pe. Palhano. Uma vez eu pedi a ele que passasse um telegrama para o Rio de Janeiro dando-me uma força. Ele não atendeu o pedido porque já havia solicitado para o Palhano e não queria pedir para mais um.
AC: Como Emissora católica, o Senhor estabeleceu regras. Que regras foram essas?
MS: Primeiramente: Não se fazia propaganda de bebidas alcoólicas. A Rádio era 100% pela moral. Em ausência minha, um funcionário recebeu uma propaganda de um dono de alambique de Ubajara. Quando voltei, repreendi o funcionário e telegrafei para o anunciante pedindo que não levasse a mal, mas que a Rádio não fazia comercial de bebida alcoólica. O mesmo aceitou sem dizer uma palavra.

AC: Como a população recebeu a Rádio Educadora?
MS: Havia naquela época a Rádio Iracema dirigida pelo José Maria Soares. Mas como os programas dela eram muito rotineiros, saímo-nos melhor porque a Rádio Educadora do Nordeste apresentava novidades, dentre elas, programas de educação, que eram bem ouvidos, através de pequenos rádios repetidores que o Ministério da Educação nos enviou. Inicialmente, ganhamos trezentas unidades desses rádios. Depois, com a influência do deputado estadual Guilherme Gouveia, de Granja, juntamente com Dom Coutinho, Vigário Capitular depois da morte de Dom José, consegui mais quinhentos, de modo que uma pessoa dava aula com esses rádios de acordo com as nossas instruções.
AC: Que tipo de ajuda o senhor recebia do povo de Sobral?
MS: Havia uma dificuldade muito grande para se conseguir um anúncio. Fui a São Paulo e consegui muitos anúncios, mas lamentavelmente a pessoa que os recebeu ficou com todo o dinheiro; me enganou.
AC: A Rádio era propriedade sua ou da Diocese de Sobral?
MS: Era minha, do José Patriarca de Lima e do Mons. Aloísio Pinto. Eu vendi a minha parte por quatorze contos réis. Dei um agrado aos funcionários, fiz a limpeza do prédio e entreguei tudo em ordem.
AC: Como se deu o repasse da Rádio para a Diocese de Sobral?
MS: Como as coisas do governo são difíceis, demorou. Mas a Emissora acabou passando para a Diocese. Depois de mim foi o José Patriarca de Lima que vendeu suas ações e, mais tarde, o Mons. José Aloísio Pinto também vendeu a parte dele, de modo que a Rádio Educadora se tornou totalmente da Diocese.
AC: O senhor deve guardar muitas boas lembranças do tempo da Rádio Educadora. Dá para citar algumas?
MS: Dentre muitas, posso citar os programas de saúde. Nós tínhamos uma equipe constante de um agrônomo, um assistente social, uma enfermeira, todos diplomados. Só não conseguimos um médico. Pedimos ao Governador do Estado, na época era o Paulo Sarasate. Estando este ausente, recorri ao vice-governador, cujo nome não lembro. O vice-governador me autorizou a tentar conseguir qualquer médico, mas não foi possível.
AC: Que tipo de música tocava na época?
MS: Só tocávamos músicas convenientes. Tínhamos discos recebidos no Ministério da Educação com explicações sobre a vida agrícola, orientação para não fazer queimadas. Íamos para o campo fazer demonstrações de curva de nível, de adubo, com o material que encontrávamos no lugar, folhas, excrementos de gado etc.
AC: Havia programa puramente religioso?
MS: Fazíamos também. Uma vez que a Rádio era católica, duas vezes por semana se fazia programa de ordem religiosa.

AC: Como o senhor vê atualmente a Rádio que fundou?
MS: A Educadora tocava discos que nós não admirávamos. Por exemplo: músicas da “boca da garrafa” e outras. Com a chegada de Dom Aldo, providências foram tomadas e ele pôs fim a tudo isso. Hoje a Rádio Educadora do Nordeste se dá ao respeito; não toca mais esses discos inconvenientes de sentido duplo.
AC: O que senhor teria a dizer àqueles que tentam levar adiante a obra que o senhor começou?
MS: A Rádio deve realizar mais programas doutrinários de acordo com a mentalidade do povo. Ainda acho pouco o que ela faz. Deveria haver uma participação maior dos padres, bem como colocar católicos instruídos para fazer educação religiosa no sentido de educação cristã, católica, pois ainda considero deficiente esta forma de educar. (Por Artemísio da Costa)

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