POUCAS E BOAS
PADRE OSVALDO CHAVES: Cem anos dedicados à Fé, ao Bem e à Educação
No próximo sábado (21), Sobral e região estarão festejando o Centenário de nascimento do Padre e Mestre Osvaldo Carneiro Chaves, grande vulto merecedor das maiores manifestações de respeito e carinho. Não somente da parte dos familiares, do clero, dos católicos e de ex-alunos, o saudoso sacerdote também será lembrado e homenageado por milhares de pessoas que continuam a cultuar sua memória e a agradecer suas nobres ações e ensinamentos. quer repassadas como cidadão comum, religioso, poeta, professor e espetacular e inesquecível figura humana
Independentemente de local e horário, suas lições contagiavam fortemente, quer vindas dos púlpitos das igrejas, das salas de aulas ou de um simples bate-papo. Sempre corroboradas pela maneira simples, correta e exemplar com que Padre Osvaldo pautou sua longa existência.
De forma quase unânime, seus ex-pupilos dão um importante testemunho: “Era único seu jeito de lecionar. Mestre Osvaldo dava aula não apenas para dotar seus alunos de conhecimentos curriculares. Ele se esmerava para estimulá-los a serem cidadãos de bem, conscientes dos seus direitos e dos seus deveres”. Prova disso é o grande número de ex-alunos que hoje despontam como excelentes profissionais nas mais diversas áreas da atividade humana no País e até fora dele. A maioria considera difícil esquecer o “Padre da bicicleta” Monark Brasil Ouro 1966. Conheça melhor o ilustre sacerdote centenário:
OSVALDO CARNEIRO CHAVES nasceu no sítio Angelim, distrito de Sambaíba, na Granja (CE), em 21 de outubro de 1923. Eram seus pais Manuel Alves Chaves e Maria Carneiro Chaves. Granjense de berço, mas sobralense de coração e por Título de Cidadania, Padre Osvaldo figura como um dos mais virtuosos e honrados sacerdotes da Igreja Católica. É, também, responsável pela formação educacional de várias gerações de sobralenses e de pessoas de outros municípios.
Em abril de 1924, aos seis meses de vida, contraiu poliomielite (paralisia infantil), ficando com atrofia da perna esquerda, o que não o impediu de prosseguir normalmente sua vida. Desde cedo, o menino Osvaldo demonstrava inteligência rara: conheceu as primeiras letras através da mãe, de cuja dedicação também aprendeu o alfabeto e a soletrar a Carta de ABC. Aos dez anos leu “Coração” de Edmond de Amicis, despertando-lhe o gosto pelas Belas Artes. Aos 12 anos ganhou de presente do pai o “Dicionário Prático Ilustrado”, de Jaime de Séquier, obra que passou mais a ler que simplesmente consultar, e com grande interesse.
Em 1939, o jovem Osvaldo entrou para o Ginásio Lívio Barreto, da Granja, tendo esse poeta granjense lhe despertado o gosto pela poesia. A 8 de fevereiro de 1940, com quase 17 anos, ingressou no Seminário Menor de Sobral. Por essa época, o Pe. Antônio Tomaz dedicou-lhe o soneto “Desencanto”, em resposta a outro que lhe fora dedicado pelo esperançoso seminarista.
Em 1942, aprimorou seus estudos de Língua Vernácula e Literatura, lendo os poetas e prosadores clássicos. Traduziu poemas franceses e éclogas (poesia pastoril, em geral dialogada) de Virgílio. Reuniu seus poemas em forma de livros, a que deu o nome de “Heliotrópios”, que não foi publicado. Em 1945, leu a obra de Cassiano Ricardo, o poeta que mais influência exerceu sobre suas criações.
Em 1946, matriculou-se no curso de Filosofia do Seminário Maior de Fortaleza. A 8 de dezembro de 1951, aos 28 anos, foi ordenado sacerdote na Catedral de Sobral, por Dom José Tupinambá da Frota. Além de Sobral, Padre Osvaldo Chaves exerceu seu ministério sacerdotal em Crateús, Acaraú e São Benedito. Concomitantemente a isso, nelas também atuou no magistério, como professor de Francês, Grego, Latim, Música e, especialmente, de Português, do qual era um dos maiores conhecedores neste País.
Já sacerdote, iniciou o magistério no Seminário de Sobral, como professor de Português, Francês e Música. Em 1956, Pe. Osvaldo passou a exercer as funções de vigário cooperador de Crateús (CE), onde lecionou em Escola Secundária. No ano seguinte foi transferido para a paróquia de Acaraú (CE), onde também lecionou Latim e Inglês. No ano de 1959 atuou em São Benedito (CE), onde, além de pároco, ensinou Português, Latim e Francês na Escola Normal daquela cidade.
Em 1960, Pe. Osvaldo passou a residir definitivamente em Sobral. Retornou ao magistério como mestre de Português, Latim e Grego. Nessa ocasião, aprofundou-se na leitura dos grandes poetas da literatura universal. Em 1961, iniciou o magistério em Nível Superior na Faculdade de Filosofia Dom José (Sobral), como professor titular de Português e Literatura Luso-brasileira. Aí permaneceu 13 anos.
Em 1971, Pe. Osvaldo concluiu a licenciatura em Filosofia Pura na Universidade Federal do Piauí e permaneceu lecionando em Sobral. Em 1981, depois de trinta anos de magistério, maior parte deles dedicada ao Colégio Sobralense, o incansável Mestre se aposentou.
Além do magistério, este respeitado sacerdote realizou um grande trabalho pastoral e social no bairro Dom Expedito e adjacências, em Sobral. Dentre suas diversas benfeitorias, lá construiu o cemitério Santa Marta, hoje pertencente ao bairro Parque Santo Antônio, e colaborou na construção da igreja de São Pedro.
Em 1981, depois de trinta anos de magistério, maior parte deles dedicada ao Colégio Sobralense, o incansável Mestre se aposentou. Com mais tempo disponível, dedicou-se mais ainda à releitura dos clássicos latinos, como Virgílio, Horácio, Ovídio e Cícero. Somente em 1985, depois de insistentes pedidos dos colegas padres, de ex-alunos e admiradores, Pe. Osvaldo resolveu permitir a publicação do seu livro de poesias “Exíguas”. A obra foi relançada em 2007, acrescido de algumas poesias.
Mesmo depois de aposentado Pe. Osvaldo deu continuidade ao seu belíssimo trabalho social, que há anos desenvolvia paralelamente ao de professor. Foram 23 anos realizando visitas pastorais na Santa Casa de Misericórdia e Hospital do Coração, além da celebração diária de missa na Capela do Abrigo Sagrado do Coração de Jesus. Com o peso da idade e alguns problemas de saúde passou a celebrar somente missa aos domingos, às 17 h, na mesma capela, o que também deixou de fazer tempos depois.
Padre Osvaldo Chaves sempre deixou transparecer que gostava de ser um homem simples, avesso a holofotes e ostentações. Mesmo assim, a força da sua vida e da sua obra tem sido tema de livros como “Encontros com a poesia de Osvaldo Chaves” (Jerzuí Mendes e Heloisa Melo) e “Nem um dia sem uma linha – A Oficina de Trabalho do Pe. Osvaldo Carneiro Chaves” (Joan Edesson de Oliveira).
Além das homenagens que recebe em sua terra natal (Granja), o sacerdote também dá nome a duas ruas em Sobral – uma na Cidade José Euclides (Bairro Terrenos Novos) e outra no Bairro Dom Expedito; nomeia uma moderna Escola Pública e uma Associação de Moradores, no Dom Expedito; empresta seu nome a uma Galeria na Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA); em 10.11.2011 recebeu o Diploma de Sócio-Honorário da Academia Sobralense de Estudos e Letras (ASEL), aprovado em 14.05.1996 e em 09.01.2013 foi agraciado com o título de Doutor Honoris Causa, outorgado pela UVA. Nos anos derradeiros de sua vida o sacerdote também foi muito requisitado para entrevistas e reportagens em jornais, rádios e televisão.
Nos últimos anos, não obstante já ter ultrapassado a nova década da vida e apesar dos problemas de saúde agravados por conta da própria longevidade, Padre Osvaldo Chaves continuava firme e forte em suas orações e nos seus estudos, ainda “agarrado” a seus livros e produzindo belas poesias, como sua mais recente intitulada “O grande sono”.
O agravamento dos problemas de saúde o levou a algumas internações hospitalares. Com a reincidência desses casos. Padre-Mestre Osvaldo Carneiro Chaves, aos 96 anos, foi definhando e faleceu às 17h30 da quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020.
Inicialmente, seu corpo foi velado na Capela do Abrigo Sagrado Coração de Jesus de Sobral. Depois foi transladado para Granja (CE), onde recebeu homenagens de familiares e conterrâneos, sendo, em seguida, sepultado naquele município.