POUCAS E BOAS

A BALADA
Já ultrapassa setenta o número de homicídios ocorridos em Sobral, contabilizando de janeiro/2025 até hoje. Vale salientar que muitas vezes não são levadas em conta as subnotificações. São os casos inicialmente ficam registrados apenas como lesão corporal grave (mas com morte dias depois) e casos que são configurados como resultado de intervenção policial, além de outros.
Só que essa violência galopante neste município não é algo que ocorre de uma hora para outra, não! Para comprovar isso, em 2013, aqui mesmo neste Semanário, publiquei o artigo “A BALADA”, na tentativa de levantar questionamento sobre o tema violência e exigir consequentes providências. Com o agravamento da situação, em 2018 republiquei o mesmo artigo. E, hoje, passados doze anos da publicação original, mais uma vez trago “A BALADA” (atualizada), ainda na esperança de providências. Confira!
Dentre várias conceituações dessa palavra muito em voga entre os jovens, destaco aqui a do Dicionário Houaiss. Ele menciona que BALADA originalmente significa composição poética popular antiga, com ou sem acompanhamento musical, de caráter épico e sem forma definida. Vale destacar que existem variações nas definições de outros dicionaristas.
Como se sabe, o uso frequente de palavras por diferentes povos através dos tempos gera nova significação. No Brasil, já há alguns anos, “balada” também tem a acepção de encontro ou movimentação festiva de jovens, geralmente à noite. Portanto, sair para a balada é ir encontrar-se com amigos para conversar, dançar, namorar, beber, brincar, enfim, curtir.
Infelizmente, a violência reinante no país, e aqui centrando o foco em Sobral, tem aumentado pela falta de mais estratégias e mais ações efetivas na área da segurança e já aponta para o surgimento de mais um sentido para o termo balada.
Com tantos tiroteios, quase diariamente, pode se complicar alguém que afirma “ir para a balada, estar na balada ou dela vir”. Quem disser isso poderá até corre o risco até ser abordado pela Polícia. Ou ser mal interpretado por parte da população que já vive abalada.
De forma assustadora, assaltos a mão armada, sequestros, latrocínios e assassinatos de uns tempos para cá já vêm sendo assimilados no município e região como acontecimentos normais. E mais: erroneamente entendidos como “frutos do progresso”. Vejam só o absurdo e o ponto a que chegamos!
A maciça veiculação dessas ocorrências nos noticiários policiais vem sendo calculadamente espetacularizada por profissionais que optam pelo sensacionalismo. Lamentavelmente, alguns vêm priorizando apenas conquistar audiência, sucesso, visualizações, não atentando para educar, orientar e sugerir medidas preventivas. Sem dúvida, além dos próprios fatos, essa prática vem tornando as pessoas insensíveis ao sofrimento do próximo e até diante das interrupções brutais de vidas humanas.
Por outro lado, torna-se notório o crescimento da insatisfação e indignação da população, que já articula manifestações por tanto sentir que a autoridade máxima do Estado, responsável direta pela segurança, não está tão abalada o quanto a situação exige.
Isso é muito mal porque está levando ao surgimento de uma geração de pessoas acometidas por algumas doenças da modernidade, independentemente de faixa etária. Já preocupa muito o número de crianças, jovens, adultos e idosos, de ambos os sexos, sofrendo de depressão, síndrome do pânico, síndrome pré-traumática e pós-traumática, dentre outras.
Além disso, o desdém a essa problemática, constatado pela ausência de mais ações urgentes e enérgicas, está estimulando parte da sociedade a já querer fazer justiça com as próprias mãos. Enfim, sem ter para quem apelar, erroneamente consideram essa a única solução.
E não é segredo, não! Ouve-se isso de grupos de pessoas indignadas nas rodas de conversa ou através das emissoras locais. São cidadãos e cidadãs tentando se organizar, armar-se ou até mesmo anunciando que já se prepara para pegar a mão bandidos e criminosos. E mais: articulam puxar para si uma incumbência exclusiva do Estado, que é tentar inibir a ação de malfeitores. E até prender aqueles cujas más ações deveriam ser frustradas pela Polícia ou por ela serem capturados, caso o delito já esteja consumado.
E aí, como ficará a situação se a população realmente resolver pôr em prática tal projeto?
Mas ainda cabe uma perguntinha: E se a balada (com sentido de tiroteio) chegar até o local de trabalho ou à casa de autoridades, como governador, comandante de batalhão, prefeito, juiz, etc.? Conseguirão eles dormir com um barulho desses?
Isso eu jamais desejarei. Mas se acontecer? De uma coisa tenho certeza: a cúpula do poder ficando abalada, sem dúvida será, enfim, apressa-se a decretação do fim dessa triste balada, que tem causado muito mal a quem é do bem.
É claro e evidente que há muitas outras opções para solucionar o problema. Pena que no Brasil o hábito do trabalho proativo, ou seja, agir antes que o pior aconteça, ainda não faz parte das prioridades de quem tem o poder nas mãos. Enquanto isso, continuemos levantando nossa vez, cobrando, fiscalizando, exigindo e fazendo nossa parte.
Enfim, para que a sociedade pare de estar abalada, aja rápido. Corra!
Numa carreira tão desabalada, de forma que nem uma bala o pegue!
Pérolas do Rádio
“O finado foi morto com dois tiros. Aos familiares, meus pesos!” Esse lamento do repórter também foi pesado para o nosso sofrido Português. A primeira parte não tem justificativa (Finado ser morto?!). E a palavra correta é pêsames. DIGA, PORTANTO, ASSIM: “A vítima foi morta com dois tiros. Aos familiares, meus pêsames!”



