Projeto social incentiva presença feminina no futebol em Sobral
Meninas de 12 a 14 anos, oriundas de Sobral e municípios vizinhos, buscam oportunidades e sonham em conquistar títulos jogando pelos times do coração.
“Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país”, relatava o extinto decreto-lei 3.199 de 14 de abril de 1941. Após quatro décadas, a regulamentação do futebol feminino no Brasil veio em 1983.
Hoje ainda existem reflexos negativos no esporte, como o pouco incentivo ao futebol feminino e a falta de patrocinadores. Essa realidade vem sendo transformada a partir da criação de equipes femininas no futebol nacional exigida pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF), pela visibilidade que os veículos de comunicação têm dado e pela fundação de projetos sociais que beneficiam o futebol feminino.
No município de Sobral, atua o projeto social “Escolinha do Palmeiras Country Clube”, o qual resiste apenas com o apoio do clube de recreação sobralense que dá nome à equipe e pela inclusão social de meninas de 12 a 14 anos, que sonham em conquistar títulos jogando com a camisa dos seus times do coração. Algumas viajam quase 70 quilômetros para chegar a tempo para o treino, que ocorre aos sábados pela manhã. Na maioria das vezes, elas chegam em jejum e com preocupações sobre o futuro. Mas contam com a gentileza do professor Denis Carvalho, treinador e coordenador do projeto.
“Eu sempre fui amante do futebol feminino. Sempre defendi a bandeira. Sei que têm suas dificuldades, mas no último ano teve um enorme destaque e, através disso, estamos tentando crescer com essas meninas. Aqui nós oferecemos para elas fundamentos e orientações para que elas não saiam daqui só como novas atletas, mas como cidadãs preparadas para o mundo afora”, explicou o profissional de educação física.
Em menos de um ano, o projeto já reuniu meninas oriundas de Sobral e de municípios como, Pacujá, Massapê, Forquilha, Moraújo e Irauçuba. Para a forquilhense Mayra Ketryn, 13, a paixão pelo esporte se desenvolveu no ciclo familiar, mas se fortaleceu a partir dos treinos em outro projeto idealizado pelo mesmo treinador. “Comecei a aprender jogar bola com meus primos em um campinho de rua e hoje meu maior sonho é ser jogadora do Flamengo. Foi a partir de um projeto de futebol para meninos, criado na minha cidade pelo Denis, que comecei a treinar aqui em Sobral. Ele nos incentiva a buscar a realização dos nossos sonhos”, disse ela.
Incentivo
O projeto tem como objetivo desenvolver os fundamentos básicos do esporte, descobrir novos talentos e proporcionar novas vivências às atletas mirins, mas ainda existe uma enorme falta de apoio. Hoje, o projeto funciona com poucos equipamentos esportivos e uniformes improvisados, em sua maior parte, doados pelo próprio treinador com a ajuda de um grupo de amigos. Enquanto único apoiador, o clube Palmeiras cede uma quadra de futsal, um campo society para os treinos do projeto e uma sala para estudos e reuniões. Mas, além do momento de concentração e foco, há também o de lazer. O clube também proporciona às meninas uma carteirinha que dá direito ao banho de piscina gratuito.
“O projeto não tem nenhum recurso. A gente trabalha por vontade própria. Se alguma empresa quiser se tornar parceira estamos de portas abertas para juntos, proporcionarmos mais oportunidade a essas meninas, dar mais dignidade para elas em suas apresentações”, finaliza o professor Denis Carvalho.
Lilian Araújo, mãe de uma das atletas da escolinha do Palmeiras.
“O contato dela com esporte a fez muito bem. Desde que ela começou a praticar melhorou na alimentação e até no colégio. O futebol é a grande felicidade dela. Foi por vontade própria que ela começou a jogar futebol. Quando ela falou que queria praticar esse esporte, minha mãe falou que menina tinha que dançar balé, mas ela indagou e disse que queria futebol. Então nós apoiamos. Quando a equipe de futebol para mulheres foi exclusa na escola dela, imediatamente saí procurando escolinhas para meninas. Há um ano ela treina em uma escolinha aqui de Sobral e atualmente participa aqui do projeto do Palmeiras.”