É importante entender a palavra “riqueza”. Na definição virtual, riqueza “é a situação referente à abundância na posse de bens materiais, tais como dinheiro e propriedades móveis, imóveis e semoventes; sendo, portanto, o contrário de pobreza. Também se aplica à condição de alguém ter em abundância um determinado bem de valor”. É uma conceituação muito pobre pela sua dimensão.
Olhando por outro prisma, a riqueza tem uma abrangência e uma evidência existencial na vida das pessoas. É o caso de uma vocação, escolhida por um indivíduo, e colocada a serviço do bem do próximo. Significa que não bastam simplesmente os bens materiais para que a pessoa seja realizada. Creio que podemos dizer de uma riqueza interior do indivíduo que o torna plenamente feliz.
O Livro do Eclesiastes fala do perigo das ilusões, coisas vãs, vazio, sem consistência, vaidade. Aqui devemos dizer do perigo do acúmulo de riquezas materiais, do afoitamento para conseguir acumular, sabendo que não vai conseguir usufruir desse acúmulo e ficará frustrado. Esse bem acaba ficando para o uso de quem em nada colaborou. O trabalho deve ser dom e não só meio de acúmulo.
A maior riqueza do ser humano é o Reino de Deus. Reino fundamentado nos ensinamentos do Evangelho de Jesus Cristo, onde se diz que muita coisa construída na terra é passageira e não dá sustentação para o verdadeiro sentido da vida humana. Às vezes se cria um mundo de superficialidade, sem preocupação com o outro e envolto por um clima de insustentabilidade e vazio existencial.
Não é correto medir a existência humana por bens materiais acumulados, mas sim pela capacidade de reconhecer a gratuidade de Deus em possibilitar uma vida com muitos bens, mas que ética e cristãmente devem ser colocados na dimensão social. O apóstolo Paulo diz que a pessoa precisa se orientar para “as coisas do alto”, que é a partilha, a solidariedade, o respeito, o revestir-se de Cristo.
Olhar para as coisas do alto não significa desprezar as que são da terra, mas entendê-las como dons de Deus, dadas para o bem coletivo e agir isento de todo tipo de egoísmo. Com esta visão é possível entender qual é o justo lugar dos bens materiais, que não pode ser o coração das pessoas. Jesus diz aquela frase do egoísta: “onde estiver o teu tesouro, estará também o teu coração” (Mt 6,21).
Dom Paulo Mendes Peixoto – Arcebispo de Uberaba (MG)

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