Dando mais um passo nas reflexões que temos feito sobre a Campanha da Fraternidade (CF) 2024, cujo tema é Fraternidade a Amizade Social, queremos expor alguns textos bíblicos que iluminam as nossas realidades. De um modo mais específico, a passagem que orienta as reflexões desta CF é Mt 23,1-12. Dessa passagem é que foi retirado o lema: “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mt 23,8).
No texto, Jesus está em controvérsia com os fariseus e mestres da lei. Ele ensina aos seus seguidores a correta conduta e mostra-lhes o contraponto da má conduta, que não deve ser seguida: “Na cátedra de Moisés estão sentados os escribas e fariseus. Portanto, tudo o que eles vos disserem, fazei e observai, mas não imiteis as suas ações, pois eles falam e não fazem” (Mt 23,2-3).
O discurso em questão é um ensinamento eclesial contra a hipocrisia e a falsidade de uma espiritualidade de muitas aparências e poucas coerências. Jesus denuncia os homens da Lei, que amarravam fardos pesados em cima dos outros, cujo peso nem eles eram capazes de suportar.
Jesus denuncia também a instrumentalização da fé praticada pelos escribas e fariseus. Estes se aproveitavam da fé do povo para alcançar seus próprios interesses, expressar interpretações próprias e explorar financeiramente. A Lei do Senhor havia se transformado em instrumento de poder.
Isso gerava uma hierarquia religiosa que segregava aqueles que detinham o “poder sagrado” da grande massa de fiéis, explorados, oprimidos e sem dignidade. Jesus propõe a seus discípulos uma nova ordem religiosa, baseada na fraternidade e na dignidade da pessoa humana.
Na comunidade cristã, toda relação de poder e superioridade deveria ser evitada. Temos um único mestre: Jesus e o seu Evangelho como único ensinamento que humaniza e faz viver. Todos são filhos e filhas do único Pai do Céu. Todos têm um único guia: o Espírito Santo. Assim, todos se reconhecem na comunidade como irmãos e irmãs. Qualquer atribuição de poder ou autoridade deve ser levada a efeito somente a partir do serviço.
Portanto, o que Jesus indica como resposta à conduta dos fariseus é a escolha da fraternidade, que se traduz em proximidade, acolhida, livre doação de si, compaixão e amor. O Mestre não recomendou a seus discípulos que utilizassem algum distintivo externo, mas afirmou: “Nisto todos reconhecerão que sois meus discípulos se tiverdes amor uns pelos outros” (Jo 13,35). Eis o distintivo de um autêntico discípulo de Jesus.
Essa é a base de toda fraternidade e de toda amizade social. Ele, que é o próprio Deus encarnado, disse: “Já não vos chamo servos (…). Eu vos chamo amigos” (Jo 15,15). De fato, à medida que crescemos nessa relação de amizade com Deus, também crescemos na capacidade de sermos agentes de fraternidade em meio a tantos conflitos e divisões.

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