Tributo à Profª. Hilce Girão

 Por Giovana Saboya Mont’Alverne Girão
(Professora Emérita da UVA, da Academia Sobralense de Estudos e Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Sobral)

Bem-aventurados os que fazem da morte um renascimento e promovem do afastamento, uma saudosa lembrança.
Estamos vivendo em tempo de pesar, de reconhecimento, de homenagem póstuma, para reverenciar a memória de Maria Hilce Girão Capote, que dedicou sua vida à educação e à cultura em Sobral.
Venho testemunhar a trajetória existencial de uma pessoa com quem convivi por laços familiares e profissionalmente, por muitas décadas.
Com José Hilton Parente Girão, irmão de Hilce, fui casada e tive a alegria de ter três filhos: Eugenio, Marcilio e José Hilton, hoje casados com famílias constituídas dentro dos princípios morais e religiosos que seguimos. Hilton faleceu prematuramente, em 03/ 11/1994.
Solidária, humana, competente, amiga, leal, extremamente responsável em suas funções, Hilce foi professora como eu, na década de 1970, no Colégio Estadual Dom José, onde atuavam luminares do Ensino Médio em Sobral. Ingressou no magistério do Estado do Ceará, em 1956, e, depois na Universidade Vale do Acaraú (UVA), em 1968, fundada pelo Cônego Francisco Sadoc de Araújo. Cursara a Faculdade de Filosofia Dom José, fundada em 1961, por Dom José Bezerra Coutinho, da qual tive a honra de ser aluna (Curso de História). Foi a primeira Faculdade de Sobral.
Na Universidade Estadual Vale do Acaraú, exerceu o magistério (disciplinas Geografia e História). Ingressei no Magistério da UVA, em 1982, pouco antes de sua encampação pelo Governo do Estado do Ceará, quando reencontrei Profª. Hilce. Juntas, caminhamos por mais de 10 anos.
A convite do então Reitor, Prof. Teodoro Soares, a quem Sobral nunca esquecerá, por suas ações transformadoras na educação e na cultura, assumi a Direção do Museu Dom José, em novembro de 1996.
Escolhi como Vice-Diretora a Profª. Hilce Girão com o compromisso de reconceituar e dinamizar aquele notável patrimônio cultural, legado por Dom José aos sobralenses. Enfrentamos o desafio e após longo período de reforma o MDJ foi reaberto ao público (24/03/1997) com novas salas de exposição e com o apoio da UVA, Diocese e Prefeitura de Sobral (gestão Cid Gomes), implantamos projetos como Museu/Escola, Oficinas de Animação Pedagógicas (Arte/Educação), Museu Itinerante, Exposições Temporárias, Laboratório de Paleontologia, pesquisas, publicação do Catálogo Geral e Inventário do Acervo, o que lhe conferiu o caráter de Museu moderno e interativo com a sociedade que o constituiu.
Em todos os momentos dessa transformação conceitual do Museu Dom José, contamos com a colaboração irrestrita da Profª. Hilce Girão, e da valiosa equipe que formamos, com o respeito e a amizade nunca esquecidas. Concluí meu período à frente do Museu Diocesano Dom José, em 2015, e Hilce permaneceu nas duas gestões seguintes, do Prof. Antenor Coelho, por quatro anos, e na atual, do Prof. José Luís Lira, por um ano.

Dados Pessoais
Maria Hilce Girão Capote era filha de Benício Carneiro Girão e de Raimunda Frota Parente, sobrinha de Dom José Tupinambá da Frota. Nasceu em 29 de novembro de 1936, em Manaus (AM). Transferidos para Fortaleza, seus pais ali residiram. Hilce conclui o Curso Normal na Escola Justiniano de Serpa. Em 1955, foram residir em Sobral, onde Hilce iniciou o magistério. Família com numerosa prole, quase todos sobralenses, deixaram um legado de vida honrada, pautada no exemplo deixado por seus pais.
Hilce adotou Sobral como filha do coração, pela educação e amizades construídas ao longo da vida.
No último dia 8 de julho, faleceu em Sobral, aos 86 anos de existência. Sua vida foi marcada pelo compromisso com a educação e pelos sacrifícios e obstáculos enfrentados com fé inabalável, resiliência, renúncia e humildade; resistiu até onde suas forças suportaram como cristã fervorosa combateu até o fim, na certeza da ressurreição dos mortos, do descanso eterno.
À Maria Hilce a minha gratidão e amizade, extensiva à estimada família.