Os caminhos de Dom José
Dom José Tupinambá da Frota, 1° Bispo da Diocese de Sobral, foi um homem admirável na sua missão pastoral e evangélica. Um homem justo, razoável e ético em todas as suas ações. De caráter tempestivo em suas decisões, para ele não havia meio-termo. O sim, invariavelmente, era sim. Assim como o não, inexoravelmente, era não e, fim de conversa mole.
Mesmo ciente de sua missão religiosa, Dom José, em benefício de Sobral e das famílias sobralenses, tinha o maior zelo pela harmonia das relações familiares e, também, o desejo de que a paz reinasse entre todos os seus diocesanos. E isso lhe exigia atuação ativa nos meios sócio-políticos da Princesa do Norte. As empreitadas do seu ofício religioso e os embates políticos, necessariamente, passavam pelo seu crivo, o que, normalmente, o levava a cansaços físicos e desgastes emocionais.
Quando precisava de reforçar sua fé Dom José seguia para Roma, a “Cidade Eterna” onde, no Vaticano-Santa Sé, recebia de seus superiores eclesiásticos o revigoramento necessário para seguir com acerto sua missão eclesiástica.
Quando se encontrava fisicamente desgastado tomava o caminho da Serra da Meruoca e, no Recife (Murmúrio da Natureza) – um Convento das freirinhas filhas de Santana – parava e, por três dias, fazia, individualmente, seu retiro espiritual. Após esse recolhimento, seguia até a sede do município de Meruoca e lá permanecia por mais três dias no Patronato – outro reduto das filhas de Santana, onde celebrava missas e fazia recreações. Findo esse roteiro Dom José descia a Serra, segundo ele mesmo dizia, revigorado e com as baterias recarregadas.
Outra rotina de Dom José na dita Serra da Meruoca era a seguinte: todo ano no mês de setembro o Bispo levava seus seminaristas da Betânia para a Serra e lá, no Patronado das Freiras alojava-os para ali passarem a Semana da Pátria. Dom reservava junto a proprietários de sítios, seus engenhos e casas-de-farinha que, em funcionamento proporcionavam aos estudantes momentos de agradável convivência com trabalhadores e moradores, interação e degustação de produtos ali fabricados artesanalmente, tais como: caldo de cana, mel, rapadura, batida, puxa-puxa, tapioca beiju etc. Outras atividades praticadas pelos seminaristas nos sítios cedidos para Dom José e seus pupilos eram acampamentos, escotismo, caminhadas e trilhas.
Dom José, por sua vez, ficava alojado num casarão pertencente à Diocese de Sobral, próximo ao Patronato, onde lia o seu Breviário, descansava, confessava padres, recebia proprietários de sítios, seus amigos. Às vezes,
Dom José prolongava a Semana da Pátria até o dia 10 de setembro, quando ali celebrava seu aniversário de nascimento.
Outro roteiro contumaz de Dom José era o caminho da Betânia – Seminário São José. Para lá o Bispo se encaminhava frequentemente e sem aviso prévio ao Reitor da Casa. Na Betânia chegava de surpresa, mas, sempre no melhor do seu estado de humor, para se avistar com seus pupilos – os seus seminaristas – oportunidade em que lhes testava os conhecimentos, inclusive a fluência em Latim e outras línguas afins. Para os seminaristas, essa arguição que Dom José lhes fazia de surpresa era momento de muita apreensão e nervosismo. Para Dom José motivo de interação descontração.
E assim, Dom José, habitualmente, trilhava seus caminhos, além de outros, quando percorria às inúmeras paróquias da sua vasta Diocese, no cumprimento do seu episcopado.
Os caminhos de Dom José – Projeto
Início da década de 2000. O Prof. Dr. José Teodoro Soares (In memoriam), à época Reitor da Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA, sediada no então Mosteiro da Betânia, local em que funcionou o Seminário São José, no qual ele fez o seminário menor, sentia-se assim como aquele bom filho que à casa do pai retorna.
Vivia envolto em doces e gratas recordações, dos tempos em que ali viveu, pelo período de seis anos, como seminarista, em sadio convívio com os colegas do seminário, com os seus mestres (padres) e, principalmente, com o Bispo Dom José. Sua imensa admiração e respeito pelos feitos e pela obra imortal do Bispo, o Prof. Teodoro se fez cultor da sua memória histórica.
O Centro Cultural Dom José, entidade criada pelos intelectuais sobralenses, Francisco Anastácio Aragão Prado e Francisco Expedito Vasconcelos, foi concebido com a finalidade precípua de pesquisar, incentivar e preservar a memória histórico-cultural de nosso Bispo-conde. Para isso, o CCDJ criou a programação denominada de “Setembro Dom José” em vistas de que o mês em referência assinala as duas datas mais importantes na existência do citado Bispo: dia 10, data do seu nascimento e dia 25, marco da sua finitude terrena. Da programação constavam eventos outros tais como: missas, palestras, homenagens.
Foi quando, em 2002, o Prof. Teodoro Soares procurou os dirigentes do Centro Cultural Dom José, para que, a partir daquele ano a programação “Setembro Dom José” fosse realizada, todo ano, a duas mãos – Centro Cultural Dom José/Universidade Vale do Acaraú. E assim passou a ser feito, enquanto durou o reitorado de José Teodoro soares na UVA.
Eis que, logo no primeiro “Setembro Dom José” sob o convênio UVA/CCDJ, em sua reunião preparatória, Teodoro Soares aventou a possibilidade de se fazer concretizar um antigo projeto seu, por meio da inserção do dito projeto na programação do mês dedicado a Dom José. Seria traçado e implementado um roteiro turístico-religioso, análogo aos reais caminhos de Dom José, de Sobral à Meruoca. Para isso, buscar-se-ia, também, o apoio da Diocese de Sobral e outros subsídios financeiros oficiais.
O projeto era ambicioso. Dele constava a construção de uma Ermida a São José, no sopé da Serra. A partir da Ermida (aqui a parte mais onerosa do projeto) construir-se-ia uma escadaria dupla, de alvenaria, com corrimãos, subindo as escarpas leste da Serra, escadaria essa que levava ao topo do pico das plataformas de voo de Asa Delta, descendo pelo lado oposto até alcançar a CE-440, já na Mata Fresca.
Neste item, a construção da Ermida São José foi realizada pela Diocese de Sobral e inaugurada em 21/12/2004, porém o restante do projeto foi abortado pela ausência de recursos financeiros dos governos e de outros.
Roteiro Turístico dos Caminhos de Dom José
1 – O início seria a Saída do Palácio Episcopal (Museu Dom José) após visitação ao acervo do Museu (1ª Estação).
2 – Da 1ª Estação, seguia-se em direção à Serra da Meruoca, parando na 2ª Estação para visita à Ermida São José, localizada no sopé da Serra.
3 – Da Ermida (2ª Estação), seguir-se-ia subindo a Serra, pela Rodovia CE 440, até o Distrito de Palestina do Norte, 3ª Estação, parando no local onde há a inscrição da frase “Festina Lente”, advertência, provavelmente, da iniciativa de Dom José, para quem desce a Serra. Prosseguindo, o roteiro adentaria pelo centro da Vila de Palestina, indo ao Saco do São Pedro de Baixo, alcançando-se a Escadaria da Via Sacra, que dá acesso à 4ª Estação, no Santuário de Cruz da Escrava Romana.
4 – Da 4ª Estação (Cruz da Romana), retornar-se-ia por um pequeno trecho de estrada vicinal, à CE-440, parando-se na 5ª Estação, na localidade Recife (Murmúrio da Natureza) 1º Refúgio de Descanso de Dom José na Serra.
5 – Da 5ª Estação (do Recife), o roteiro seguira para a cidade de Meruoca, indo-se ao Antigo Patronato das Freiras filhas de Santana (hoje ocupado pelo polo da UAB-Universidade Aberta de Brasília), último Refúgio de Descanso de Dom José na Serra da Meruoca, lugar onde o Bispo passava a Semana da Pátria, com seus seminaristas. O roteiro se encerraria com o retorno à Betânia – Universidade Estadual Vale do Acaraú.
Vale salientar que “Os Caminhos de Dom José”, da forma como o Prof. José Teodoro Soares projetou, poderia ser o pontapé inicial para a abertura de uma fronteira do turismo religioso de Sobral.
Por Herculano Costa – jornalista R.I. ACI Nº. 1216

