A verticalidade e a horizontalidade da Eucaristia
Na última quinta-feira (30), celebramos em nossas paróquias a solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Jesus. A data sempre é celebrada como uma expressão pública da fé da Igreja com as belas procissões, através das quais os cristãos prestam sua reverência ao Santíssimo Sacramento, como um memorial vivo do amor de Deus.
Essa solenidade possui uma importância singular devido a sua relação com o evento fundante da nossa fé: paixão, morte e ressurreição de Jesus. Os sinais do pão e do vinho, frutos do trabalho humano, nos transportam, pela sua força sacramental, ao mistério pascal de Cristo. Assim, a eucaristia que celebramos não é um memorial abstrato, mas um memorial que presencializa a nossa redenção.
A graça de Deus não cai do céu como um raio, mas passa pela corporalidade, por elementos visíveis, através dos quais Deus se encontra com o homem. O pão e o vinho exprimem a unidade entre o humano e o divino, o visível e o invisível, o palpável e o misterioso, de tal forma que o palpável, o visível e o humano se tornam presença e comunicação do misterioso, invisível e divino.
É por isso que a Eucaristia gera uma comunhão dos homens com Deus, uma unidade do humano com o divino. Quem a recebe deve ser artífice dessa unidade. Essa é a dimensão vertical da Eucaristia. Existe também a dimensão horizontal. A Eucaristia gera na Igreja a comunhão fraterna.
A solenidade de Corpus Christi recorda-nos que todos os batizados formam o único Corpo do Senhor, que é a Igreja. Desse modo, tudo o que gera divisão, intriga, fofoca, ódio, preconceito, intolerância, provoca mutilações no Corpo do Senhor. A comunhão eucarística só é autêntica e sincera quando gera comunhão fraterna.
É sempre válido recordar que o milagre da Eucaristia é também o milagre da partilha. A comunhão do altar se estende à comunhão na vida do irmão quando se é capaz de partilhar do pouco que se tem, ou mesmo do muito. A mesa da Eucaristia nos ensina a preciosa lição da partilha e nos motiva a concretizar os anseios de um mundo mais humano.
Como bem nos recorda o Papa Francisco, na solenidade de Corpus Christi de 2016: “Quantas mães, quantos pais, juntamente com o pão quotidiano cortado sobre a mesa de casa, repartiram o seu coração para fazer crescer os filhos, e fazê-los crescer bem! Quantos cristãos, como cidadãos responsáveis, repartiram a própria vida para defender a dignidade de todos, especialmente dos mais pobres, marginalizados e discriminados!”
O próprio gesto de Jesus de partir o pão prefigura sua morte, como o ponto alto de sua vida doada. Assim também, os comungantes desta ceia devem ser “pão partido” para os irmãos. Eucaristia também é cuidado, compromisso, caridade, justiça e paz! A força de se gastar pelos outros vem do Corpo partido e repartido do Senhor Jesus.
Ele se faz alimento para nós. Talvez não seja um alimento tão saboroso como determinadas comidas que o mundo nos oferece. Mas é um alimento que nos põe de pé para anunciar e testemunhar a presença de Cristo em nós. É um alimento que nutre e sacia verdadeiramente nos orientando nesta vida e nos conduzindo à vida plena da eternidade.