Céu bonito para chover: vamos plantar!

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por Fátima Moura

A quadra chuvosa de nossa região se aproxima. Quando as nuvens promissoras se apresentam, os agricultores logo se alegram e dizem que céu está se enfeitando para o inverno. Entre os meses de dezembro e janeiro, os trabalhadores rurais começam a preparar o solo para a plantação sazonal de produtos da cultura de subsistência(milho, feijão, mandioca, batata). Eu disse preparar o solo, mas pensando bem, não sei que termo usaria para uma atividade que derruba florestas, queima capeiras, extingue matas ciliares, assoreia riachos e esteriliza o solo. Sem falar que todo e qualquer tipo de vegetação abriga pequenos répteis, pássaros e várias espécies de insetos úteis. Aprontar o solo neste contexto significa desequilíbrio de ecossistemas. Além do mais, as queimadas resultam em poluição do ar e eliminam em até 90% os nutrientes do solo.
A simples forma de assentar o terreno para um roçado traz um série de consequência para o meio ambiente. Os prejuízos são constatados na terra, na água e no ar. Porém esses transtornos são consequências da inércia governamental frente ao dilema que enfrenta parte da população do campo: se plantar vai degradar o meio ambiente, se não plantar vai passar fome, com certeza. Não há políticas voltadas para atividade da lavoura familiar. Se o agricultor obedecesse as determinações dos órgãos de preservação do meio ambiente para não utilizar os meios rudimentares da chamada coivara, não haveria outros métodos para recorrer. Ele não dispõe de equipamento adequado, nem orientação específica, nem recursos de qualquer ordem na hora de colocar a semente no chão.
O que vemos é a falta de investimentos técnico, científico e financeiro para este tipo de atividade. Os pequenos produtores não recebem assistência especializada. Se não plantam com os meios que dispõem e com as técnicas que dominam(ainda que perversas), não há como sobreviver. Em algumas regiões do País, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária(Embrapa) já apresentou projeto que possibilita a utilização de uma máquina trituradora puxada por um trator que limpa o terreno sem a utilização do fogo. E na mesma dinâmica é produzida a biomassa, folhas e galhos estilhaçados que servem de adubo.
Outro planejamento agrícola da Embrapa diz respeito a produção de alimentos sem a necessidade de desmatar, preservando a biodiversidade. Este modelo agroflorestal foi adotado há várias décadas com sucesso, em algumas comunidades, mas só agora, há projetos para difundir o sistema. Os resultados são comprovados com muito sucesso na agricultura familiar nas culturas de café, laranja, limão, açaí, manga, acerola, caju, banana. As novas técnicas de produção são bem sucedidos em diversos municípios da região amazônica, do Sudeste e do sul da Bahia. Mas para nós aqui da zona norte do Ceará somente casos isolados. Quando os projetos da Embrapa casarem com as ações da Empresa de Assistência Técnica de Extensão Rural do Ceará(Ematerce) o agricultor produzirá com dignidade.
Uma proposta do norte cearense às autoridades: o helicóptero do Ibama só sobrevoar os montes pedregosos do Boqueirão(Sobral), as montanhas da Serra da Meruoca, as regiões ribeirinhas, as depressões sertanejas até encostar na Chapada da Ibiapaba, para coibir ações de queimadas, quando a Ematerce disponibilizar treinamento e aplicar efetivamente as técnicas desenvolvidas pela Embrapa. Essa fiscalização só fará sentido depois da implantação de uma prática agrícola sustentável, inclusive, com a disponibilização do equipamento adequado.

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