por Fátima Moura

Com o surgimento do novo coranavírus e suas catastróficas consequências em nível global, muito coisa mudou em relação a quase todas as ações de cunho social e individual. Este ser invisível ( a olho nu) que permeia todos os ambientes, sem discriminação, é o maior promotor do sistema de apartheid dos últimos tempos. Ele é o algoz da vez.
Ele dita ordens, determina comportamentos, impõe distanciamento entre as pessoas. Mesmo sem falar, diz: não abrace nem beije, não se aproxime um do outro, senão… Também não se divirta fora de casa, não vá ao cinema, a shows, a festas, ao trabalho, nem à igreja, não acompanhe procissão, não comemore aniversário, não vá ao shopping. Muito cuidado com a ida ao supermercado. Assim que sair de lá, direto para casa para higienizar as mãos com água, sabão e álcool gel. Ah, também não vá ao estádio.
Quanto ao futebol, quero abrir um espaço especial para uma observação. Privar o brasileiro de assistir às clássicas partidas de futebol, especialmente quando a disputa envolve o time do coração, é um dos piores castigos para os filhos desta nossa querida terrinha tupiniquim. Há 126, o paulista Charles Miller introduziu a modalidade esportiva de origem inglesa, que ao longo dos anos, configurou-se naturalmente num símbolo popular com status de Hino Nacional. O futebol representa via de inspiração na música, na literatura e na evolução do vocabulário popular.
O sentimento é tão forte que criamos expressões inspiradas na dinâmica do futebol tais como: tirar o time de campo (desistir de um confronto), bater na trave (quase conseguir um intento), não dar bola (desvirtuar certas situações), está batendo um bolão (sair-se bem em alguma coisa), fazer gol (sucesso nos objetivos). Agora, um ente invisível, inodoro, insalubre vem bolando do outro lado do mundo, até chegar aqui e obriga a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), sob as orientações da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, a determinar que todas as partidas de futebol sejam realizadas sem a presença de público. Diante disso, os clubes entenderam que futebol sem plateia não faz o mínimo sentido, melhor que os eventos sejam cancelados. A galera é parte indissociável do espetáculo,
Se for para personificar o coronavírus, ele é daqueles carrascos bem sádicos. Ao mesmo tempo em que ele desune fisicamente a humanidade, nos diz que na hora de sofrer as consequências de suas imposições, somos todos iguais e devemos padecer juntos. Ele não respeita fronteiras geopolíticas, traços culturais nem especificação étnica; desconhece nível sócio-econômico. Sua atuação multidirecional desafia a ciência, até porque o ritmo da pesquisa específica ainda está bem aquém do compasso de desenvolvimento do vírus.
Mesmo que as autoridades tentem manter a população calma, não dá para ignorar o perigo de contrair uma doença que não tem vacina, nem remédio. Depois do acometimento do mal, só nos resta esperar que o organismo reaja. Quanto à prevenção, também não é tão fácil, porque corremos risco nas idas ao supermercado, consultório, na farmácia e na padaria. Não há segurança, são locais onde transitam muitas pessoas, e onde manuseamos objetos. E quando procuramos álcool gel e não o encontramos nos sentimos frustrados e inseguros. Não é desespero, mas medo grande. Porque o ditador nos impõe isolamento e intenta uma morte solitária.

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