Cristo, a Igreja, e os pobres

“Sempre tereis pobres entre vós” (Mc 14,7). Essa foi a passagem bíblica escolhida pelo Papa Francisco para orientar as reflexões do V Dia Mundial dos Pobres, a ser celebrado neste dia 14 de novembro. O Santo Padre, mais uma vez, exprime seu desejo de suscitar, na Igreja, um movimento de evangelização que encontre os pobres lá onde eles estão.
Dessa forma, o papa expressa uma perspectiva de evangelização bastante presente nas conferências episcopais da América Latina: a busca de construir uma Igreja pobre, que caminhe ao lado dos pobres, e livre dos vínculos das riquezas, dos privilégios e das conveniências sociais. O próprio Santo Padre foi formado nesta perspectiva, como seminarista, como padre e como bispo e agora deseja levar essa linha de ação para toda a Igreja.
A vida e o testemunho de tantos santos e santas, canonizados ou não, nos mostra que a oração a Deus e a solidariedade com os pobres são inseparáveis. D. Hélder Câmara, D. Pedro Casaldáliga, Pe. Ezequiel Ramim, Santa Dulce, D. Oscar Romero e tantos outros são exemplos que nos interpelam a tal reflexão. O evangelho que proclamamos e escutamos deve estar encarnado na vida dos sofredores.
Isso não pode ser esquecido, pois corremos o risco de construir uma espiritualidade tal como um grande edifício, que busca um Deus que está lá em cima, enquanto se distancia do chão da existência. Mas a própria Tradição da Igreja nos mostra que uma fé só é autêntica quando se converte em compromisso eclesial e social.
A própria cruz, que é símbolo cristão, possui dois segmentos: um vertical, que nos conduz à divindade, e outro horizontal, que nos conduz à humanidade. E essa humanidade está cheia de pessoas carentes de paz, de pão e de Deus.
Além disso, os pobres evangelizam a Igreja e muito nos ensinam pela forma como vivenciam a fé. O próprio Jesus não apenas esteve ao lado dos pobres, mas partilhou com eles a mesma sorte. Em sua mensagem para a celebração deste ano, o papa nos recorda que Jesus “é o primeiro pobre, o mais pobre entre os pobres, porque os representa a todos”.
Francisco nos recorda ainda que “os crentes, quando querem ver Jesus em pessoa e tocá-lo com a mão, sabem aonde dirigir-se: os pobres são sacramentos de Cristo, representam a sua pessoa e apontam para Ele”. Esse foi o encontro de São Francisco de Assis com um pobre leproso. O santo que contraiu matrimônio com a “Dama Pobreza” para viver como verdadeiro filho do Pai que está nos céus.
Muito nos ilumina uma reflexão do Frei Raniero Cantalamessa feita para a Cúria Romana: “Os pobres são os pés descalços que Cristo ainda mantém nesta terra. (…) É claro que não se tem o mesmo tipo de presença de Cristo que se tem na Eucaristia e nos outros sacramentos, mas é uma presença esta, verdadeira, real. Ele instituiu este sinal, assim como instituiu a Eucaristia”.
“Tudo o que fizerdes a um destes meus irmãos pequeninos, a mim o fazeis” (Mt 25, 40). Que esta reflexão nos auxilie a fazer algo por estes pequeninos, que são os preferidos de Deus. Alguma atitude concreta, mesmo que não seja grande ou extraordinária. Os pobres de Deus nos ensinam a grandeza da simplicidade dos pequenos gestos.



