editorial cs

Prosseguindo com as reflexões sobre a Campanha da Fraternidade (CF) 2025 que temos feito nestas edições do tempo quaresmal, a Igreja tem buscado despertar a consciência de todos com relação à importância da ecologia integral. O planeta em que habitamos é a nossa Casa Comum. Essa casa não pode ser compreendida de maneira fragmentada e compartimentada, mas sim a partir de uma visão integradora e total.
Isso se explica pelo fato de que o perigo também é total. A continuidade da possibilidade de vida no planeta está em jogo. Tal conscientização exige uma visão mais ampla da realidade, uma visão integral da vida. Vale salientar que, das próprias convicções religiosas cristãs, brotam os compromissos ecológicos. Revisitar as narrativas bíblicas da criação é uma tarefa que ilumina esse despertar para cuidar da Casa Comum.
É neste sentido que o lema da CF 2025 traz uma passagem do início da narrativa bíblica: “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31). O início de toda reflexão sobre ecologia integral está vinculado ao modo como se entende a relação do ser humano com Deus e com o restante da criação. O livro do Gênesis mostra o cenário harmonioso dessa relação e o posterior cenário desarmônico gerado pelo pecado.
A experiência do pecado designa a ruptura das relações fundamentais do ser humano com Deus, com o próximo e com a terra. O rompimento com o desígnio original de Deus distorceu, inclusive, o mandato de “dominar a terra” (Gn 1,28) e o de “cultivar e guardar” (Gn 2,15). A Sagrada Escritura apresenta a criação como dom de Deus e a tarefa do ser humano de guardar e proteger o mundo criado.
Portanto, “dominar a terra” nada tem a ver com o imperativo de domínio mundial por parte do ser humano. O domínio do ser humano sobre a terra deveria corresponder à atividade de um jardineiro que cultiva e preserva. De modo algum, a Palavra fala de uma cultura de exploração, a qual foi implementada pelo atual modelo de desenvolvimento. O desejo de poder, de crescimento e de progresso ilimitado, que caracteriza o paradigma tecnocrático, não tem fundamento da doutrina bíblica da criação.
Antes, explicita-se o vínculo de corresponsabilidade entre o Criador e a criatura humana. Se Deus construiu tudo em perfeita harmonia e viu que tudo era muito bom, não deve ser o ser humano empenhado em destruir, explorar, escravizar e matar. Faz-se necessário descobrir a beleza, a bondade, a singularidade e a diversidade de todos os seres. Sendo assim, todo esforço de destruição é um grave pecado contra o Criador.
Daí a urgência de, neste tempo quaresmal, buscarmos a conversão ecológica, acolhendo o convite que a Igreja nos faz de render graças a Deus pela criação. Aquilo que provém de suas mãos não pode ser manipulado pela lógica do capital ou pelos interesses financeiros de uma minoria. Não faria sentido acabar o que Deus avaliou como “bom”. É compromisso cristão cuidar, respeitar, zelar e amar a obra das mãos do Criador.

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