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Ao falar de “Fraternidade e Ecologia Integral”, a Campanha da Fraternidade (CF) deste ano recolhe uma vasta reflexão da Igreja sobre as questões ambientais e ecológicas ao longo dos anos. A Doutrina Social da Igreja ensina que cuidar da criação é parte essencial da fé e da responsabilidade cristã. Desde o início de seus posicionamentos mais sistemáticos sobre questões sociais, a Igreja entendeu que a mesma terra, que provê o homem de seus bens, necessita de cuidados.
Isso quer dizer que o compromisso com a criação corresponde a uma exigência da fé cristã. No conjunto dos documentos sociais do Magistério, a preocupação com a crise ecológica nunca foi uma questão ausente. Da mesma forma que houve uma ampliação gradativa da dimensão do problema por parte da comunidade internacional, as reflexões da Igreja também foram ampliando o enfoque da questão.
Em primeiro lugar, falou-se de uma ecologia criacional, abordada pelos Papas Leão XIII, Pio XI e João XXIII. O discurso era fomentado na teologia da Criação, segundo a qual o homem, criado à imagem e semelhança de Deus, foi constituído senhor das coisas terrenas para que as usasse e cuidasse, glorificando ao Criador. Já se tinha consciência de que a terra não poderia continuar tendo condições de vida sem o cuidado do ser humano.
Posteriormente, no Concílio Vaticano II e com o Papa Paulo VI, houve a abordagem de uma ecologia ambiental. Já se falava das relações intrínsecas entre ser humano e meio ambiente. Nesse sentido, a destruição da natureza passou a ser entendida como uma destruição do próprio ser humano.
Os Papas João Paulo II e Bento XVI falaram de uma ecologia humana, lançando as bases de um pensamento integral da realidade. Na encíclica Caritas in Veritate, Bento XVI recorda que “a natureza é uma expressão de um desígnio de amor e verdade” (CV 48). Além disso, ele chama atenção para as problemáticas energéticas e para uma renovada solidariedade entre os países (CV 49) e fala da necessidade de um governo responsável sobre a natureza (CV 50).
Com o Papa Francisco, a ecologia passa a ser vista, não mais como um tema, mas como uma questão transversal que perpassa vários campos de ação. Isso é ecologia integral. Mais do que ambientalismo, é uma reflexão que envolve política, economia, cultura, antropologia, sociologia. Tudo está interligado. E nessa trama de relação, o cuidado da natureza caminha lado a lado com o cuidado da vida humana.
Percebe-se que a Igreja, em seu discurso social, sempre lançou luzes para a crise socioambiental. E agora, mais do que nunca, devido à urgência de ações e de mudanças concretas. Cuidar da vida, que se encontra ameaçada em nosso planeta, é um convite da Igreja que os sinais dos tempos invocam. É, ainda, antes de tudo, um apelo de Deus para salvaguardar a obra de suas mãos.

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