Complementos de termos de regências diferentes
Examinemos o seguinte exemplo: “Não há mais que uma só verdadeira justiça, que em Deus, reside, e de Deus emana” (Antônio de Castilho.
Esse período também pode ser construído assim: “Não há mais que uma só verdadeira justiça, que em Deus reside e dele emana’. Mas não seria correto dizer: “Não há mais que uma só verdadeira justiça, que em Deus reside e emana. É que o verbo ‘residir” pede a preposição “em”, e emana, a preposição “de’.
Todavia, por concisão, pode-se, em certos casos, dar um complemento comum a verbos de regência diferente: “Na companhia desta sua tia ficará Rosa, enquanto o cônego ia e eu vinha de Lisboa’ (Camilo Castelo Branco); Os devotos entravam e saíam da igreja (Em vez de: Os devotos entravam na igreja e dela saíam); “Todos esses letrados não sabiam ou não tinham a coragem de ser humanos’ (Fernando Namora); “Fui o primeiro contra o qual armaste exército e destronaste” (Coelho Neto); “Não se recorda ou não sabe que perdeu uma carta” (Machado de Assis).
Semelhantemente (isto é, dando o mesmo complemento a termos de regências diferentes), podemos dizer: Você é a favor ou contra esta lei? (Você é a favor desta lei ou contra ela?); Choveu antes, durante e depois da festa.

Vítima fatal
Impropriedade de linguagem que infelizmente os jornalistas, repórteres e muitos comunicadores continuam usando erroneamente. O adjetivo “fatal” significa determinado ou como que determinado pelo destino, inevitável, funesto, mortífero: prazo fatal, golpe fatalbaixa fatal, acidente fatal. A vítima, é óbvio, não causa a desgraça, ou a morte; ao contrário, ela (vítima) é que sofre a desgraça, a morte. Portanto, a vítima não pode ser fatal.

Deparar
Este verbo aceita três construções: a) O garção (= garçom) deparou-me (proporcionou-me) um refrigerante; b) Ao garção deparou-se (= apresentou-se-lhe aos olhos) um refrigerante; c) O garção deparou (deu de frente, de cara) com um freguês.

Deus lhe ajude
Ajuda-se alguém, mesmo sendo Deus quem ajuda. Diga-se, portanto: Deus o ajude.

Devem haver três semanas
Solecismo crasso. O auxiliar do verbo haver impessoal fica invariável. Logo deve dizer-se: Deve haver três semanas.

Desencarrilhar
Embora usual, o correto é descarrilar, isto é, sair do carril.

Dizer para ele
Este solecismo muito em voga deve ser intransigentemente evitado. Diga-se: Dizer-lhe. É verdade que se pode empregar a expressão: Dizer para ele, em linguagem coloquial.

Gratuito e grátis
O caro leitor sabe empregar corretamente essas duas palavras? Vejamos:
Gratuito – É adjetivo e deve ser usado com o verbo “ser” ou substantivos. Exs.:  A entrada na festa é gratuita. Ingressos gratuitos. Acusações gratuitas. Ensino gratuito.
Grátis – É advérbio e pode ser substituído por “gratuitamente”. Exs.: Recebeu grátis (gratuitamente) os livros. Consegui o ingresso grátis (gratuitamente). Por isso, caro leitor, não diga que o estacionamento é “grátis”, mas “gratuito”.

Lembrete: Gratuito não tem acento no “i”. Pronuncia-se GRA-TUI-TO, assim como FOR-TUI-TO, IN-TUI-TO.
(*) Graduado em Letras Plenas, com Especialização em Língua Portuguesa e Literatura, na Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA). É, também, funcionário do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) de Sobral (CE). Contatos: (88) 99762-2542 e (88) 98141-2183.

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