Economia e Francisco e Clara

“Pôr em prática uma economia diferente, que faz viver e não mata, inclui e não exclui, humaniza e não desumaniza, cuida da criação e não a devasta”. Com estas palavras, publicadas em maio de 2019, pela Sala de Imprensa da Santa Sé, o Papa Francisco convidou jovens economistas do mundo inteiro para um evento em Assis-Itália, denominado Economia de Francisco.
Vários encontros aconteceram do Santo Padre com jovens economistas, ativistas, líderes comunitários de todo o mundo, além de teólogos e intelectuais de diferentes campos do saber, com o objetivo de “realmar” a economia mundial, dar uma nova alma à economia do amanhã. O evento transformou-se em um movimento internacional disposto a construir uma economia à serviço da vida.
Podemos reconhecer que o que temos atualmente, como sistema dominante, é uma economia que gera morte: exploração de trabalhadores, desmonte de leis trabalhistas, novas formas de trabalho escravo, destruição da natureza, acúmulo de bens e de riqueza. A economia de Francisco surge como um caminho alternativo sob a inspiração do santo de Assis, que muito nos ensina, com sua escolha pela pobreza, com sua atenção aos mais frágeis e com sua mística de comunhão com a obra da criação.
É necessário redescobrir que, no centro da vida, está o amor, e não o dinheiro. Sem reconhecer a primazia do amor, o ser humano deixa-se reger pela lógica do dinheiro, fazendo com que tudo ganhe valor de mercado. Aquilo que não gera riqueza ou poder é descartado: pessoas, recursos naturais, expressões culturais. Com isso, são perdidas muitas coisas de valor inestimável, que não podem ser compradas pelo dinheiro, a exemplo da própria sustentabilidade do planeta. O evento em Assis fez surgir, no Brasil, uma articulação nacional de jovens economistas que incluíram a figura de Santa Clara na nova proposta de economia. O nome de Clara evoca que o masculino e o feminino devem caminhar lado a lado. Indica também a dinâmica do cuidado em um modelo econômico no qual todos são importantes. O Papa Francisco sempre falava da importância de uma cultura do cuidado para os nossos tempos.
Recentemente, entre os dias 11 e 14 de setembro, aconteceu em Recife o 3º Encontro Nacional da Economia de Francisco e Clara. O tema do encontro soou como um anúncio profético a toda a sociedade: “A economia pode ser justa para todas as vidas, já!”. Diante de um modelo de desenvolvimento que explora as vidas humanas e as vidas da natureza, precisamos buscar novas expressões de criatividade por uma economia mais humana, comprometida com a reconstrução da Casa Comum. Há três anos, em setembro de 2022, no encontro mundial em Assis, o Papa Francisco fez três indicações para uma economia da vida: olhar para o mundo com os olhos dos mais pobres; trabalho digno e bem remunerado para todos; mudar o mundo da economia usando a linguagem do pensamento (cabeça), a linguagem do sentimento (coração) e a linguagem das mãos. Portanto, é necessário que as ideias se transformem em ação.
Em uma época em que se percebe claramente que o grito dos pobres e o grito da Terra são um único grito, é necessário repensar a economia mundial. Felizmente, contra a onda de morte, destruição e violência, está em germe uma economia humanizada, inclusiva e solidária que coloca no centro das relações sociais a vida, em sua total diversidade e dignidade. O amor, a solidariedade e a empatia podem impactar na construção de novas relações socioeconômicas. E é urgente que isso aconteça!



