Salmito Campos

Por Que Somos Chamados de Brasileiros

 

No período onde acontecia a escravidão em nosso país, todo e qualquer trabalho manual era feito por quem estava escravizado. E trabalhos manuais são normalmente denominados com palavras que terminam em sufixo “eiro”: faxineiro, cozinheiro, sapateiro, ferreiro, carpinteiro e vários outros.
É muito comum a utilização do sufixo “eiro” de forma pejorativa, diminutiva, ou para ofícios manuais. Algumas formas pejorativas: quem tem moto é motociclista. Se está fazendo alguma coisa de errado com essa moto, é motoqueiro. Quem toca violino, violinista, piano, pianista, instrumento e orquestra e teatro é chique. Quem mora no interior e toca viola é violeiro.
Pessoas que moram nos periféricos, nas comunidades, quem gosta de pagode é pagodeiro, quem gosta de funk é funkeiro, quem fala mal do vizinho é fofoqueiro. Então quase sempre o sufixo “eiro” é pejorativo, diminutivo ou utilizado para ofícios.
Para nacionalidades é muito comum utilizar o sufixo “ano” ou “ês”, português, francês, holandês, japonês, argentino, chileno, americano, australiano. Alguns tipos: russo, turco, alemão não usa. Mas é quase sempre “ano” ou “ês”. Quem mora na Índia é indiano.
E conta-se ao povo brasileiro uma história bem bonita e romantizada que alguém sai de Portugal para buscar especiarias nas Índias. Erra o caminho e por um acaso descobre o Brasil.
Primeiro, não se descobre um lugar que tem gente. Não dá para descobrir a casa de uma pessoa. Segundo, entre Brasil e Portugal a parte mais próxima é 5.600 quilômetros. Quem erra 5.600 km de uma viagem tão importante? Terceiro, em 1494 foi assinado o Tratado de Tordesilhas. Dividiram o mundo ao meio. Onde fosse colonizado era metade de Portugal e a outra metade, da Espanha.
Se dividiram em 1494, em 1.500 sabiam da existência. Vieram tomar posse de uma terra que tinha nome: Pindorama, palavra do tupi-guarani que significa terra das palmeiras. Palavra essa utilizada dentro dos navegadores, porque Pindorama já era rota de comércio.
Mas nessa história bonitinha de ir para as Índias, chamam as pessoas pindorama de índio e indígena. E no nosso vocabulário as palavras índio e indígena têm formatos pejorativos e esses formatos foram utilizados no período de colonizações, mas foram apagando e escondendo isso de nossa história.
Prefixo “in” ausência ou negação. Impossível, infiel, infeliz, incompetente, inconfidente, que é uma palavra bem de Ouro Preto. Inclusive, tem outra palavra muito parecida no vocabulário: Indígena e indigente. Só muda o final dessas duas palavras. E índio, em ausência de “odeus”, ausência de Deus, por isso era necessário catequizar. Chamar povos originários e assim deveriam ser chamados até hoje em terras colonizadas de índio e indígena, além de tirar a identidade desses povos, eximia o colonizador de culpa.
Se não é gente não tem alma, escravizar ou exterminar não tem problema nenhum. E alguns desses povos que aqui já estavam, sabiam como cortar e principalmente extrair pigmentos do pau-brasil, isso era ofício. Ofício termina em sufixo “eiro”. Quem fazia esse trabalho era chamado de brasileiro.

A única nacionalidade do vocabulário português que termina em sufixo “eiro” é exatamente a nossa, não tem nenhuma outra. E outras nacionalidades e línguas diferentes não utilizam. O italiano chama o brasileiro de brasiliano, em inglês é brasilian, em espanhol é brasiléno. É só no nosso vocabulário que a nossa nacionalidade termina em sufixo “eiro”. Poderia ter mudado ser brasiliano ou brasiliense. Mas, em uma ordem cronológica, o Brasil foi o quinto local do mundo a ser colonizado por Portugal. Nós éramos a quinta colônia. E por isso éramos chamados de “quinto dos infernos”.
Quem sonegava impostos e/ou roubava em Portugal era mandado ao Brasil. E utilizou-se a palavra brasileiro, para povos originários escravizados cortando pau-brasil, permanecendo nossa nacionalidade até hoje. (TikTok Por @tonidebarros).
Prof. Salmito Campos – (jornalista e radialista).

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